Série de questões enviadas para escritoras negras e escritores pretos que gentilmente responderam
Escritor de hoje: Wuldson Marcelo:
NÃO É UM CONTO DA CAROCHINHA
Abelardo chegava em casa sem a farda. Não podia revelar que era policial.
Nezinho, pequeno traficante do 1º de Março, jurou subir um polícia.
Ana fazia o café para Abelardo e pensava como o dia seria longo. “Ele vai voltar!”.
Uma certa manhã, houve uma operação policial no bairro.
Tiroteio, mortes, balas perdidas, esculacho na população pobre.
Nezinho saiu de peito aberto para enfrentar os gambés.
Abelardo, de máscara e fuzil em mãos, esbarrou com o amigo de infância.
Nunca mais se olharam nos olhos depois que completaram 16 anos. Essa foi a primeira vez.
Nezinho não conseguiu reconhecer o homem que o matara com vários tiros no corpo.
No dia seguinte, a professora Ana consolava Jaqueline, sua aluna e filha de Nezinho.
Assim, mais um conto da vida real seguiu o seu curso. (“Se quer que algo tenha fim, não se cale” (Editora Carlini & Caniato: MT, 2024).
NÓS POR NÓS
Letícia chegou à UPA da Morada do Ouro às 7 da manhã, com o pequeno Theo ardendo em febre.
Passou pela triagem, bebê vomitando. No método de classificação de risco, verde. Pouca urgência.
Letícia quis reclamar. Não reclamou. Pela senha, havia quase 80 pessoas a sua frente.
Theo vomitou novamente, o choro aumentou, a dor parecia cada vez mais aguda.
Letícia protestou. A enfermeira ameaçou chamar a segurança. Quarenta minutos de agonia e contando.
Para onde iria? Theo vomitou outra vez.
“Tenha paciência!”, repetiu para si mesma, enquanto o bebê traduzia a sua dor com mais berros.
Joyce, enfermeira, chegou à UPA e viu uma mãe com uma criança quase roxa no colo.
“Pelo amor de Deus, Dalva! É vermelho! Rápido!”
Theo respirava normal e até sorria para Letícia, mulher negra, 23 anos, vendedora de cartão de recarga para o transporte coletivo, mãe solteira.
Horas depois, Joyce foi até a enfermaria ver o garotinho.
A mãe, agradecida, entre prantos e risos.
“É nós por nós, nega!”, disse Joyce para a jovem com um futuro incerto a sua frente. (“Se quer que algo tenha fim, não se cale” (Editora Carlini & Caniato: MT, 2024).
TRÊS SILVAS
Novo Paraíso, 2021. Leandro, desempregado, precisava de uma máscara para ir ao posto de saúde e não ser contaminado pela Covid-19, mas não tinha dinheiro para comprar. “Preciso de cinco reais”, pensava, sem saber onde arranjar.
Duque de Caxias, 1987. Antônio, operário da construção civil, pai de Leandro, não tinha um capacete para se proteger de acidentes no trabalho. “Se vira, negão”, falava o mestre
de obras.
Interior de Mato Grosso, 1971. Rogério, avô de Leandro, trabalhava sem luvas na colheita de cana-de-açúcar. “Cada corte do facão, uma emoção”, brincava e sorria para não pensar na seriedade do risco. (“Se quer que algo tenha fim, não se cale” (Editora Carlini & Caniato: MT, 2024).
CONVERSAS
NOTAS DE ESCURECIMENTO: Por gentileza, se apresente:
Wuldson Marcelo: Eu me chamo Wuldson Marcelo, sou de Cuiabá, capital do Mato Grosso. Nasci em 1979, o ano da Lei da Anistia – ampla, geral e irrestrita. Sou formado em Filosofia pela Universidade Federal de Mato Grosso, com mestrado em Estudos de Cultura Contemporânea, também pela UFMT. No entanto, acabei não seguindo a profissão de professor. Na época da pós-graduação, comecei a trabalhar como revisor. Inicialmente, como autônomo, mais tarde, em jornais da capital. A seguir, voltei a ser autônomo. De certa forma, permite tempo para me dedicar à criação artística, mas há dias muito puxados (que são maioria, pois se lida com a pressão existente do “prazo de entrega”). Quando tinha 12 anos, lembro-me de assistir no Corujão, da Rede Globo, “O maior espetáculo da terra”, filme antigo de 1952, e aquilo me deslumbrou. O circo, o cinema e o texto. Anos depois, eu percebi todos os seus defeitos, porém foi a obra que despertou o impulso pela arte, pelo desejo de me expressar, e eu entendi que seria possível alcançar as pessoas pela escrita e pelas imagens em movimento. O meu amor pelo cinema me leva até a literatura, a vontade de escrever um livro, contar histórias. Mas o gosto pela leitura é anterior a esse episódio, pois meus pais sempre investiram na minha educação e na dos meus irmãos. Minha mãe sempre nos colocou para ler contos após a finalização das tarefas escolares, aqueles contos dos livros didáticos para interpretação de texto. O que poderia ser entendido como castigo, tornou-se um prazer. Conheci Machado de Assis, o conto do Stanislau Ponte Preta sobre a velhinha contrabandista etc. Voltando à minha trajetória artística, em 2013, publiquei meu primeiro livro solo, um livro de contos intitulado “Subterfúgios urbanos”, uma Cuiabá inventada em que coube minhas obsessões literárias e as urgências que me instigaram a perceber a cidade como esse organismo complexo de interdições e volições. Organizei uma antologia, a “Beatniks, malditos e marginais em Cuiabá: Literatura na Cidade Verde”, no mesmo ano, com a escritora Jana Lauxen e Cinthía Andressa de Lima. A literatura me leva ao audiovisual. Em 2014, colaboro no roteiro de um curta-metragem da Miraluz Films e eu passo a integrar o coletivo. Em seguida, escrevo e dirijo meu primeiro curta-metragem. Hoje, além de direção e roteiro, trabalho como continuísta, mas já exerci outras funções. Faço parte do Aquilombamento Audiovisual Quariterê e sou um dos editores da revista virtual Ruído Manifesto. Gosto muito da criação e da prática em coletivos, das ações em conjunto que têm força para nos movimentar e transformar, mobilizações que nos tornam melhores, tanto para vida em comunidade, quanto para o nosso crescimento pessoal. Sou autor de quatro livros, “Se quer que algo tenha fim, não se cale” (Editora Carlini & Caniato, Cuiabá, 2024), “As luzes que atravessam o pomar e outros contos” (Editora TantaTinta, Cuiabá, 2018), “Obscuro-shi – Contos e desencontros em qualquer cidade” (Editora Carlini & Caniato, Cuiabá, 2016) e o já mencionado “Subterfúgios Urbanos” (Editora Multifoco, Rio de Janeiro, 2013).
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NOTAS DE ESCURECIMENTO: Quando se descobriu negro?
Wuldson Marcelo: Na infância. Meu pai precisou crescer muito rápido, cuidar das irmãs deles e ajudar em casa. Um rapaz negro e filho de mãe solteira, o que, na época, trazia questões relacionadas à ausência masculina no lar. Minha avó Julieta, uma grande mulher, criou três crianças com muito amor e tenacidade. Óbvio, meu pai precisou lidar com o racismo, muitas vezes velado, mas ele soube se impor. Cidadão, profissional (ele foi um mecânico excelente) e homem de família. Então, desde que eu e meus irmãos éramos crianças, meu pai – o nome dele é Benedito – dizia “Vocês precisam ser duas vezes melhores que um branco para serem levados a sério, para obter respeito e reconhecimento”. Ele não era ativista, nem integrou movimentos de luta pela igualdade racial, mas tem uma percepção crítica sobre o mundo. E ser negro é uma condição inescapável, já que vivemos em um país racista e imaginar ou fingir um mundo em que somos todos iguais só gerará decepções e traumas. Acho que não houve um incidente que provou a frase do meu pai, isso vivíamos no dia a dia, por estudarmos em escolas particulares, por 90% dos alunos serem brancos. O número de estudantes negros nos espaços já era um indicativo. Porém, a nossa infância não se resumiu a ausência e às dores, pois há uma beleza quase que inenarrável em ser negro, que tem relação com a cultura, com a arte, com o modo de perceber e entender o mundo, que é coletivo, que é aprendendo e reverenciando os mais velhos, nossa ancestralidade, que é cuidando dos pequenos, dos mais novos. Meus pais me ensinaram a importância da união para vencer os percalços da vida. Meus irmãos e eu formamos uma tríade muito forte.
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NOTAS DE ESCURECIMENTO: Como é você leitor?
Wuldson Marcelo: Se essa pergunta fosse feita há 10 anos, eu responderia, “Um leitor voraz”. A vida vai costurando compromissos, rumos e vivências que articulam a diminuição do tempo, seja para leitura, lazer ou simplesmente para o descanso. Ler é uma das minhas atividades favoritas, mas o ritmo, nos últimos anos, tem sido bem decepcionante. Usei o termo ritmo, no entanto, refiro-me a números mesmo, quantidade. Como leitor, sou bastante eclético. Só que há uma predileção por ficção e por obras que mergulham fundo na existência humana, que interrogam, investigam quem somos, nossos medos e desejos. Gosto muito também de livros policiais, pois percebo que questões éticas, a nossa ruína e rendição movem a narrativa de modo a criar um arcabouço de indagações, dúvidas e compreensão que dialogam com a filosofia.
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NOTAS DE ESCURECIMENTO: Quais suas negras influências?
Wuldson Marcelo: Meu pai, que, junto com a minha mãe, Joarlete, nos mostrou a importância da educação. Ele sempre disse que a única coisa que não nos podem tirar é o conhecimento. Então ele investiu na nossa educação. Tenho meus irmãos também como influência. Juliene e Wender, com quem cresci e ainda cresço afetivo, intelectual e politicamente. Muhammad Ali e Nelson Mandela. Assistia boxe com meu pai e meu irmão e Ali sempre foi tópico de conversa e admiração. Por ser um pugilista colossal e por seu ativismo, pelos seus posicionamentos políticos e pela história que construiu. E Mandela pela sua inteligência, resiliência e resistência. Nos últimos anos, a Dra. Zizele Ferreira com quem troco ideias sobre arte, cultura, produção intelectual, vida pessoal etc. Ela é doutora em Educação e pesquisa relações raciais, educação e juventude. Acredito que James Baldwin e Lima Barreto, aí já pensando no peso da literatura em minha vida, mas também pelas suas trajetórias, senso de resistência.
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NOTAS DE ESCURECIMENTO: Inspiração ou transpiração?
Wuldson Marcelo: Transpiração. Não acredito em inspiração. Mesmo o que muitas vezes chamamos de insight no ofício de escrever, é resultado de leituras, vivências, atravessamentos. O trabalho do escritor é um trabalho de abandono, de revisão, de reescrita. Um texto precisa ser desafiado pelo autor e até brevemente rejeitado para saber que “está pronto”.
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NOTAS DE ESCURECIMENTO: Para quem você escreve?
Wuldson Marcelo: Escrevo para compartilhar angústias e investigar saídas para a armadilha que é viver. Saída no sentido de enfrentamento. A verdade é que escrevo para quem sente o abismo, um vazio que precisa ser preenchido, mas quer que todas, todes e todos saibam que a justiça social e a liberdade nos movem e são inegociáveis. Ambas são plenamente vividas apenas em coletivo.
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NOTAS DE ESCURECIMENTO: Quais são os seus principais temas?
Wuldson Marcelo: Acredito que há uma urgência em meus personagens pela mudança de seu atual estado. Um inconformismo que nem sempre é perceptível como ruína do capitalismo. Nisso, a violência, a relação com a cidade (a minha Cuiabá), o amor e os problemas existenciais são os temas que circulam a maioria dos contos.
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NOTAS DE ESCURECIMENTO: Como é o seu processo de escrita?
Wuldson Marcelo: O inusitado é que as histórias sempre me chegam como mote e um final e o processo é “carimbar” o desfecho ou perceber os equívocos no trajeto. Gostaria de dizer que acordo de manhã e planejo os horários de dedicação ao texto, mas a vida não permite ainda esse luxo. Geralmente, me esforço em uma programação, tentando escrever pela manhã. Porém, escrevo realmente quando há tempo ou de madrugada, que já faço menos hoje em dia devido a um problema de visão. Eu reviso muito o que escrevo na tentativa de me convencer de que não há mais nada a acrescentar. Depois, passo para o meu irmão Wender, que é meu primeiro leitor. Em seguida, mais uma revisão.
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NOTAS DE ESCURECIMENTO: Como são ou foram as suas relações com ancestrais?
Wuldson Marcelo: A minha bisavó e a minha avó já não estavam no mundo quando nasci. Contudo, foram mulheres marcantes e a presença delas sempre foi forte. Cresci ouvindo sobre a determinação e sabedoria delas. A minha bisavó paterna foi uma das parteiras mais requisitada e respeitada de Cuiabá. Já do meu tio, irmão da minha vó, lembro-me com carinho de sua kombi amarela e do quanto era afetuoso. Carrego comigo a ideia de pertencimento, da importância de estar junto, construindo um futuro e trazendo o passado como aprendizado e reverência. Assim, vive-se o e no presente, com conexões e desejo de um mundo melhor.
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NOTAS DE ESCURECIMENTO: Qual foi o seu primeiro e decisivo ato literário?
Wuldson Marcelo: Passei uns anos enviando contos para jornais e revistas e nunca obtive alguma publicação. Durante a graduação em filosofia, comentaram comigo sobre uma editora, A Fábrika, e eu já tinha o “Obscuro-shi: contos e desencontros em qualquer cidade”, que depois veio a ser o meu segundo livro publicado. Refleti muito sobre levar o livro até a editora. Criei coragem e procurei os responsáveis. A partir daí, que considero um ato de coragem, de superação da timidez e dos receios, voltei a mandar contos para os jornais e revistas. Finalmente, os contos começaram a ser publicados, em sites do RJ, no interior de SP e nos principais jornais de Cuiabá.
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NOTAS DE ESCURECIMENTO: Tem um narrador ou eu lírico que sempre utiliza em sua literatura?
Wuldson Marcelo: Um, em particular, não. Em certa medida, minhas personagens sou eu. Como disse Flaubert, “Emma Bovary c’est moi”. Tem esse desejo de investigação do mundo, mas também muita invenção. No geral, intercalo primeira pessoa e narrador onisciente. Gosto de utilizar os variados recursos que temos à disposição.
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NOTAS DE ESCURECIMENTO: Como os seus mais novos estão nos seus escritos?
Wuldson Marcelo: Muito se traduz a tecnologização da vida, a dependência de telas, as mudanças em relação aos hábitos, ao amor, ao trabalho como diferenças geracionais. Mas a vida é transformação, conflito. Os meus mais novos aparecem nos textos como confusão, denúncia e esperança. Tendemos a julgar muito o comportamento da juventude, mas o “mundo deles”, o qual debochamos, tratamos como preguiçoso, alienado, desmotivado, é uma criação nossa. Esse mundo acelerado, de alta tecnologia, de falta de traquejo para lidar com emoções é resultado da construção econômica, social, política, tecnológico da geração que os precede e os educa. E nisso, pensar a criança e o adolescente negro é um desafio, pois como escreveu o grande poeta cuiabano Antônio Sodré, o lado humano não acompanha o tecnológico. Então, enquanto uns sonhos em em patentear um aplicativo, outros precisam lutar para não morrer nas mãos da polícia, dos seguranças de supermercados, de grupos de justiceiros brancos.
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NOTAS DE ESCURECIMENTO: Como foi e é, para você, a publicação do Livro?
Wuldson Marcelo: O meu primeiro livro publiquei por uma editora independente do Rio de Janeiro e as obras seguintes por uma editora de Mato Grosso, por intermédio de editais das secretarias de cultura, do estado e do munícipio. Parece-me que há uma distância entre autor e mercado editorial e leitor e políticas públicas de acesso. Para o autor, é muito difícil publicar e ainda mais difícil vender e tornar o livro não esquecido pós-lançamento. Publiquei em 2013, 2016, 2018 e 2024. E o grande desafio sempre esteve relacionado à venda, circulação dessas obras. Às vezes acontece de o livro ser adquirido por secretárias de educação, bibliotecas, projetos relacionados à difusão do livro. Publicar é só um dos elementos dessa cadeia produtiva, que vai lidar com a principal discussão a respeito do livro, que é a formação de leitores. O livro precisa ser acessível, um objeto desejado. Sim, objeto. Um objeto potente e transformador.
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NOTAS DE ESCURECIMENTO: Como é ser um escritor negro no Brasil?
Wuldson Marcelo: Um escritor que não tem o direito de errar, por esse erro ser esperado, provocado. E ser permanentemente interrogado sobre a sua escrita e precisar lidar com uma faca de dois gumes: ser questionado por ser identitário e posto em uma caixinha e de não lidar com temas associados à negritude e ser cobrado por isso. Uma vez, um escritor em uma discussão sobre cotas perguntou se os vencedores do Jabuti de melhor romance em 2019 e 2020, a saber, Jeferson Tenório e Itamar Viera Jr. seriam capazes de escrever algo fora da “temática identitária”. Uma provocação que não se faz a um autor de origem judaica ou italiana, por exemplo. Eles podem acumular romances a respeito de sua identidade, investigar o seu passado, contar a história de amor dos avós. O escritor negro fica preso às exigências e acusações. Enfim, ser um escritor negro é revalidar para si mesmo, e quase continuamente, a autoestima e as certezas sobre os temas que lhe são essenciais.
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NOTAS DE ESCURECIMENTO: Para que você escreve?
Wuldson Marcelo: Escrever, para mim, é um impulso, é algo que nasce do amor, da indignação ou da revolta. Escrevo para me encontrar e desafiar o mundo que me cerca. Escrever, em última instância, é um gesto de resistência.
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faz palavras em seus escritos?
Wuldson Marcelo: A relação que tenho com o cinema. Aquela imagem dos trens se chocando em “O maior espetáculo da terra”, que Spielberg se mostra impactado em “Os Fabelmans”, é, para mim, a tradução em imagem da tragédia e da beleza, do medo e da sensação do fabuloso. Como já mencionei, já não reconheço excelência na obra, mas permanece como reminiscência. Penso muitas vezes de modo visual, quase cinematográfico quando escrevo, trazendo um outro nessa relação entre imaginação e criação. Quase como um leitor que cria imagens para o que lê. Talvez seja mesmo um hábito de leitor-escritor. As minhas principais referências na sétima arte estão presentes ou constituem o que é o conto, geralmente como uma homenagem “disfarçada”. Mas também digo em relação ao texto, como uma investigação bergmaniana sobre a psicologia da personagem, ou a efervescência cultural e da violência do racismo encontradas na obra de Spike Lee.
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NOTAS DE ESCURECIMENTO: Qual a função social da sua literatura?
Wuldson Marcelo: Tenho certo receio da associação da literatura a alguma função social. Por outro lado, o fazer artístico, criativo é um fazer político, pois não estamos dissociados do mundo quando criamos, escrevemos. Penso que escrever faz parte de um sentido que damos, descobrimos a respeito da existência. Nisso, desvelamos o mundo como ele é e como pode vir a ser. Escrever é ao mesmo tempo diagnóstico e invenção.
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NOTAS DE ESCURECIMENTO: Sendo possível, conte-nos cinco (5) livros da Literatura Negro-Brasileira que você avalia serem importantes.
Wuldson Marcelo: “Olhos d’água” da Conceição Evaristo, pela potência de dar voz às mulheres silenciadas pelo racismo, pela marginalização. ““Um defeito de cor” de Ana Maria Gonçalves. Tocante, pesado e belo, apesar dos pesares, por assim dizer. “A escravidão no Brasil (Como eu ensino)” de Joel Rufino dos Santos, que nos mostra como a escravidão ainda é tão presente. “Quarto de despejo” de Carolina Maria de Jesus, pela sensibilidade que nos apresenta uma realidade dura. E, por último, vou mencionar a obra de Lima Barreto. Um autor incontornável e sensacional.
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