NOTAS DE ESCURECIMENTO POR ESCRITO – Série de questões enviadas para pretas escritoras negras e negros escritores pretos que gentilmente responderam
Escritor de hoje: Willy da Silva Araújo
ENTRE MIM E VOCÊ
Conflito
Gratinado na solidão
Do mero mortal que aceitou
Que não era um Deus!
Seja real de quando eus
Precisamos para chegar até o nós ideal.
Onde está o nós? Ele tem companhia?
Ou migra por aí só?…
Pela rua gentrificada,
Racializada com calçada,
Esburacada que não foi pensada
Para aqueles que enxergam
A origem das coisas
Nas pontas dos dedos
Da mão calejada.
Na imensidão da escuridão.
Nasceu a sensibilidade humana.
Levando uma personalidade de quebrada
Superar os dramas e os medos.
Medos são como grilões.
Acorrentando multidões e narrativas.
Cancelando evoluções cognitivas.
Ou ações fora do corpo
Sobre o efeito de alguma
Substância psicoativa.
Poupe o meu tempo
Não quero saber de argumento
Carente de fundamento.
Tantos medicamentos legais.
Gerando mais dor e sofrimento
Do que os ilegais.
Cuidado quando for defecar a regra
Proibicionista, capitalista
Aos filhos e pais.
Que esperam a chuva de vento
Passar para improvisar o cais.
Cuidado quando for fazer
Um diagnóstico de como o ser deve ser
Tento RG, mas vagando
Sem identidade, singularidade
Nas marginais dos relacionamentos abusivos.
Rodeado de morto vivo sem moralidade
Para falar de humanidade, honestidade,
Prosperidade, ancestralidade
Numa terra infértil.
Onde pessoas têm dificuldades em crescer,
Mas crescem de forma
Assimétrica ao ponto de virarem
Cercas elétricas.
E assim produz o choque.
Entre mim e você.
CONVERSAS
NOTAS DE ESCURECIMENTO: Por gentileza, se apresente:
WILLY DA SILVA ARAUJO: Meu nome é Willy da Silva Araújo. Sou educador social, redutor de danos e mc.
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NOTAS DE ESCURECIMENTO: Quando se descobriu negro?
WILLY DA SILVA ARAUJO: Com seis anos de idade, tive contato com um disco de vinil intitulado: Raio X do Brasil, dos Racionais mcs, este disco foi fundamental para eu me perceber enquanto negro e na classe social dos pobres.
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NOTAS DE ESCURECIMENTO: Como a sua ancestralidade estão nos seus escritos?
WILLY DA SILVA ARAUJO: Costumo dizer que a minha ancestralidade é onisciente e onipotente, ou seja, vejo ela em tudo, desde as narrativas que escuto dos mais velhos, em um dia de chuva ou de sol, até nos corpos e movimentos das pessoas que estão em situação de rua pelas calçadas do centro da cidade. Ela se manifesta nos meus versos através das minhas vivências e na minha forma de imaginar melhores condições sociais e humanas para o nosso povo.
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NOTAS DE ESCURECIMENTO: Qual é ou foram as suas relações com os seus pais?
WILLY DA SILVA ARAUJO: Fui criado apenas pela minha mãe, ela cuidou de mim e de mais duas irmãs, não foi nada fácil, enfim nossa relação teve e tem afeto, mas também tem conflito devido alguns atravessamentos sociais presentes nas histórias.
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NOTAS DE ESCURECIMENTO: Qual é, na sua opinião, a função social da sua literatura?
WILLY DA SILVA ARAUJO: A literatura precisa ser vista como um direito humano como bem disse o intelectual: Antônio Cândido. Eu concordo com ele rs É preciso democratizar cada vez mais o acesso ao livro, pois o conhecimento é humano.
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NOTAS DE ESCURECIMENTO: Como é você leitor?
WILLY DA SILVA ARAUJO: Sou um leitor compulsivo pelo saber. Amo aprender, investigar a história e suas contradições.
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NOTAS DE ESCURECIMENTO: Quais suas negras influências?
WILLY DA SILVA ARAUJO: Luiz Silva Cuti, Parteum, Weber Lopes, Clóvis Moura, Cidinha da Silva, Espião, alquimistas, Djavan, lews Barbosa, Resumo do jaz, Pixinguinha, Leila Gonzalez, Nega Gizza, Delzonita e |Felipe choco.
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NOTAS DE ESCURECIMENTO: Qual foi o seu primeiro e decisivo ato literário?
WILLY DA SILVA ARAUJO: Aos 16 anos quando escrevi para o projeto: Poesia Interna Brasileira.
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NOTAS DE ESCURECIMENTO: Como é, para você ser um escritor negro no Brasil?
WILLY DA SILVA ARAUJO: Desafio diário, pois preciso escrever mil versos para provar que tenho capacidade.
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NOTAS DE ESCURECIMENTO: Inspiração ou transpiração?
WILLY DA SILVA ARAUJO: Me inspiro, transpiro e as vezes piro.
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NOTAS DE ESCURECIMENTO: Qual é o seu processo de escrita?
WILLY DA SILVA ARAUJO: Fico atento em algumas coisas que sinto, vejo e leio. Vou anotando, juntando as informações como abelha junta o mel, depois começo botar os versos.
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NOTAS DE ESCURECIMENTO: Tem um narrador ou eu lírico que sempre utiliza em seus escritos?
WILLY DA SILVA ARAUJO: Eu lírico passa por uma singularidade, mas não fica apenas na esfera intima, dialoga com coletivo
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NOTAS DE ESCURECIMENTO: Quais são os seus principais temas?
WILLY DA SILVA ARAUJO: Espiritualidade, vulnerabilidade social, amor, acessibilidade e a arquitetura urbana
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NOTAS DE ESCURECIMENTO: Como foi para você a publicação do seu primeiro livro?
WILLY DA SILVA ARAUJO: Ainda não tive nenhum livro publicado, mas quando isso acontecer será um sonho realizado.
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NOTAS DE ESCURECIMENTO: De que maneira você vê a representação de personagens e narrativas negras evoluindo na literatura brasileira atual?
WILLY DA SILVA ARAUJO: Desde Solano Trindade até a chegada dos cadernos negros e todas as movimentações políticas negras desde pais e até conquistamos a lei 10.639 e o feriado da consciência negra em 20 novembro, temos lidos e escutados outras narrativas para além do sobreviver. É maravilhoso, socialmente nos humaniza abrir um livro de literatura e encontrar um (a) personagem negro ou trans com história, dilemas, amores, gostos, desejos, contradições. Vejo cada vez mais representação negra na literatura e é isso que faz a luta valer a pena. Seguimos de pé.
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NOTAS DE ESCURECIMENTO: O que também se faz palavras em seus escritos?
WILLY DA SILVA ARAUJO: A minha imaginação, respiração e os pontos finais.
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NOTAS DE ESCURECIMENTO: Como foi e é para você a publicação de um livro?
WILLY DA SILVA ARAUJO: Publicar um livro é a realização de um sonho e a uma reponsabilidade ancestral.
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NOTAS DE ESCURECIMENTO: Poderá nos oferecer cinco livros, de autores negros brasileiros, que na sua opinião, são fundamentais?
WILLY DA SILVA ARAUJO: Quem pode acalmar esse redemoinho de ser mulher preta? da Autora: Elizandra Souza. Homens pretos não choram. Autor: Stefano Volp. Ritmo Humanegritico. Autor: Cuti. Os quilombos e a rebelião negra. Autor: Clóvis Moura. Racismo e Eugenia no Pensamento Conservador Brasileiro. A Proposta de Povo em Renato Kehl. Autor: Weber Lopes Góes.
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NOTAS DE ESCURECIMENTO: Aponte, por gentileza, cinco figuras negras brasileiras importantes?
WILLY DA SILVA ARAUJO: Pixinguinha, Deivison Nkozi, King Nino Brown, Tia Ciata e Cidinha da Silva. ‘
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