ESPETÁCULO :
“BADERNA PLANET”
Desde a maneira como o espetáculo é iniciado, em um espaço que remete à uma “balada-culto gospel” até como ele salta de cena para cena, é uma surpresa atrás da outra.
Os textos (Ivam Cabral e Rodolfo Garcia Vázquez) dos quadros são costurados como um patchwork, cada um com sua particularidade; temas específicos que tratam sobre momentos / assuntos incômodos da nossa tão repressora atualidade.
Se de início as cenas fragmentadas causam confusão e até um certo desconforto a quem espera ou está acostumado à uma narrativa linear cronológica, com o andamento do espetáculo, a compreensão do “todo” surge, com ótimas surpresas.
Todas as cenas acabam revelando uma costura inteligente por parte da direção de Rodolfo García Vázquez, que impõe um tom crítico / sarcástico aos assombrantes acontecimentos sociais que se espalham pelo país, sejam sobre homofobia, masculinidade tóxica, política armamentista, entre outros.
Alguns dirão que o texto é oportunista utilizando de assuntos que estão em alta na boca dos cidadãos, explorando a polêmica e popularidade que envolve os mesmos, quando na verdade o espetáculo e sua dramaturgia colocam luz em assuntos espinhosos presentes desde sempre em nossa sociedade injusta e segregadora.
A cena “Luanda” é um dos melhores momentos; um incômodo para qualquer negro que estiver na plateia, pois é “cortante” seu início na escuridão com a sonoplastia de um berimbau que se confunde com instrumentos de tortura contra escravos.
A iluminação de Thiago Capella é uma pintura que auxilia na criação de quadros cena após cena, com mudanças de conjuntos de cores que constroem de forma sutil ambientações e alternância de drama para comédia, criando assim além da fotografia, a cenografia teatral.
As letras das canções não são um mero adereço cênico, de entretenimento, mas sim um real e necessário complemento ao contar de cada trecho da história encenada.
O figurino acerta na poesia em alguns momentos, como na cena final, mas em outros é apenas descritivo e pouco interessante.
O tom discursivo urgente do espetáculo (de microfone em punho) e a solicitação constante de participação por parte da plateia, faz com que a presença do público seja obrigatória para o espetáculo acontecer e nos faz imergir no universo proposto, criando paralelos com nossa própria realidade. Deve-se tomar cuidado apenas com os integrantes da montagem ou da equipe teatral que se misturam ao público e provocam reações forçadas da plateia, como risos e aplausos acima do tom normal e real, como se fosse uma claque neurótica de programa de auditório.
Digamos que “Baderna Planet” é muito além do que um espetáculo bem intencionado, é um espetáculo muito bem inspirado, concebido e fundamentado pelo “Os Satyros”.
Avaliação: 🌟🌟🌟🌟 ótimo
Ficha técnica:
Texto: Ivam Cabral e Rodolfo García Vázquez
Direção: Rodolfo García Vázquez
Assistente de Direção: Amanda Steinbach
Elenco: Alessandra Nassi, Alex de Félix, Anna Paula Kuller, André Lu, Beatriz Ferreira, Diego Ribeiro, Elisa Barboza, Felipe Estevão, Heyde Sayama, Ícaro Gimenes, Israel Silva, Julia Francez, Karina Bastos, Luis Holliver, Luís Maurício Souza, Marcelo Thomaz, Marcelo Vinci, Mariana França, Roberto Francisco, Silvio Eduardo e Vitor Lins.
Figurinos: Rodolfo García Vázquez
Trilha Sonora Original: André Lu
Iluminação: Thiago Capella
Operador de Luz: Flávio Duarte
Operador de Som: Léo Pegozzi
Fotografias: Andre Stefano, Henrique Mello e Laysa Alencar
Produção Executiva: Silvio Eduardo e Diego Ribeiro
Assistência de Produção: Maiara Cicutt
Administração: Israel Silva
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