ESPETÁCULO :
“O MAMBEMBE”
A cia leva ao palco, um metateatro, através do ótimo e mais do que atual texto de Arthur Azevedo: “O Mambembe”.
Escrito e estreado em 1904, passa por uma adaptação pelo também diretor dessa última montagem: Jair Aguiar. O mesmo também interpreta o personagem Pantaleão, um dos personagens chave da história.
A qualidade dessa montagem é ressuscitar um texto que trata sobre assuntos ultra relevantes a nossa atualidade e que precisa ser colocado em foco em tempos difíceis.
Arthur de Azevedo aponta os percalços da vida de uma troupe de atores (as dificuldades em se viver da profissão de artista e a falta de valorização); problemas que se repetem ou perduram até o momento atual da história teatral brasileira, só perdendo em perseguição e desvalorização para a época da ditadura militar.
Há também pinceladas de caráter feminista, como na fala da personagem Laudelina: “Que futuro me espera fora do teatro? Ser costureira? Casar?”
As críticas sociais, criadas pelo autor original torna o texto atemporal e assim nos faz questionar sobre o primeiro problema dessa encenação: um figurino datado e descritivo que nos prende à uma época quando poderia ter sido explorada uma modernização, trazendo, unido à direção do espetáculo, a estética para os tempos atuais ou atemporal, criando assim um paralelo mais crítico à nossa vida contemporânea, já que naturalmente o texto original já o sugere.
Também podemos classificar como datada, a maquiagem “criada”, que repete uma fórmula antiga de caracterização teatral: a tão esgotada máscara branca que só reflete um real significado quando está inserida no contexto complexo do clown, que não é o caso nessa montagem.
Percebemos um elenco pouco homogêneo, onde é evidente os diferentes níveis de técnica entre os atores. A maioria do elenco declama o texto…sem passá-lo “por dentro”, como se diz entre os atores.
Há boas surpresas, como a interpretação de Régio Moreno que faz um empresário na pitada certa, com equilíbrio cômico demonstrando maturidade, sem exageros. Pode-se dizer, que seu solo sobre como é ser empresário de teatro, é o melhor momento da montagem.
Além de Régio, outros atores (Leonardo Ribeiro, Cassius Kley, Luccelis Lucas e Vic Marcelino) também buscam uma sensível interpretação e principalmente tentam encontrar o “time” cômico, acertando em diversos momentos quando fogem da caricatura.
É necessário maior cuidado por parte do elenco, principalmente por Jair Aguiar, na construção das piadas de improviso, (incluindo aquelas em que corrige os atores em cena!!!!!!!) pois “os cacos” sem limite sujam a qualidade do texto original e prejudicam no ritmo e fluência no andamento do espetáculo, além de quebrar o lúdico, trazendo a plateia repentinamente para o dia-a-dia com piadas que remetem a acontecimentos banais e assim prejudicando a perfeita escrita de Arthur Azevedo.
O personagem Frazão tem uma composição física interessante mas uma interpretação histriônica, que destoa do resto do elenco, pelo “tom” cômico num volume acima do restante, não existente na estética total do espetáculo.
Em geral, a direção peca por insistir no “velho teatro”. Presenciamos uma colcha de retalhos de imagens super utilizadas / clichês que nos lembra montagens de 20, 30 anos atrás. Os erros talvez sejam frutos originários da falta de um profundo mergulhar na rica criatividade teatral, no leque de opções que a concepção estética nos oferece.
“O Mambembe” pode acertar mais, caso a regência da orquestra seja mais precisa em harmonizar os instrumentos.
O que fica na memória é a boa escolha do texto com um discurso que precisa ser ouvido.
Texto: Arthur Azevedo.
Figurino: Márcio Tadeu.
Direção: Jair Aguiar.
Elenco: Vic Marcelino, Fabio Gomes, Márcio Marchetti, Pedro Gabriel, Jean Azevedo, Wagner, Avelino, Luccelis, Clayton Justino, Mariana Elloi, Nadir Albino, Leonardo Ribeiro, Joice Modesto, Eduardo Salafia, Cassius Kley, Julia Lima, Shaya Rocha, Nara Santos, Igor Alef, Dany D’spano, Caio Solano, Renata Rodrigues, Marly Silva, Tônia, Michael Castro, Joyce Modesto Participação especial: Jair Aguiar, Régio Moreno
Avaliação: 🌟🌟 Regular
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