TODO DIA de Plínio Camillo
todo dia pelas quatro e meia da manhã já tomaram um café escuro e forte de deixar a boca torta de tanto açúcar tem negrinho que já acorda morto os vivos vão para a labuta pelas dez punhado de farinha de mandioca e feijão depois da colheita terá até carne-seca no calor café no frio aguardente mina briga com a angola pela frescura da congo lidam até as duas horas mais farinha de mandioca e algo para beber labor até depois do anoitecer angu para encher a pança pelas oito quase nove horas recolhimento descansar pois tem tarefas lesoto morde a congo pelo pensar do banto outros ficam proseando até a noite encontrar o sono sem sonhos os boçais seguem a maioria todo dia quatro e meia da manhã tomam café forte e saem para a lida só comem algo lá pelas dez horas e são empurrados para a luta contra a terra de branco tem banto que foge depois só as duas da tarde sentam e comem angu e carne-seca preta vê uma borboleta azul e lembra da mãe que não conheceu escravos choram até não poder levantar a enxada duelam com a terra até a noite fechar comem com as mãos e depois dormem alguns ficam vendo o falatório até ir para longe e o breu entrar um boçal riu com uma lesoto e tem crioulo que morre dormindo ladinas gritam todo dia pelas quatro e meia da manhã que o café está pronto sudão peleja com moçambique pelo corpo da angola os pretos vão ouvir as vozes delas lá pelas dez quando trazem panelões de arroz, feijão e farinha café só duas horas os olhões vivos delas vêm com um punhado mirrado de carne-seca e algo para beber tem núbio que volta arrependido ao carpir pretos vão até não ver mais o chão tem boçal que suspira até engasgar pelas nove com os braços dormentes dão angu e feijão para ajudar o sono os nagôs dançam o cabo-verde implora para a angola o olhar os crioulos riem e a negrada escuta até a fadiga possuir todos tem muitos que rezam para falecer no sono para ir ao sonho todo dia antes das crioulas levantam para fazer o café com muito açúcar acordam a sudão só se sente sozinha a negrada quatro e meia da manhã tomam meio no silêncio e temendo pelo dia vão para a faina pela luta que não é sua às dez comem angu punhado de feijão e arroz cozido lidam mais até as duas horas tem o dia de carne-seca tempo rico tem preto que volta em pedaços pelas bocas dos cachorros bissau chora com um cabo-verde tem também café nos tempos de frio batizado com desesperança ardente a labuta vai até às sete horas quase oito quando comem farinha de mandioca e um punhado de feijão mali não fala com moçambique por causa de um pedaço de saudade as nove são recolhidos para dormir para faina do dia seguinte mas os pretos insistem em cantoria e falação até tarde muitos dos pretos que não querem acordar mais todo dia pelas quatro e meia da manhã.
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