Texto da professora Elisabete Pinto (UNIFESP)
Entre tantos, um Willian Waack na sociedade brasileiro
William José Waack paulistano 65 anos, jornalista, professor, ex-handebolista brasileiro; exibe uma formação invejável: formou-se em jornalismo pela USP em 1974 e em ciência política, sociologia e comunicação na Universidade de Mainz, na Alemanha. Fez mestrado em Relações Internacionais. Escreveu e publicou quatro livros. Venceu por duas vezes o Prêmio Esso de Jornalismo: pela cobertura da Guerra do Golfo (1991) e ao revelar informações sobre a Intentona Comunista de 1935.
Todavia, toda essa formação não impediu ao pobre Willian de ser racista e de cair na desgraça por sua conduta, também, racista. Mas por que o Willian Waack caiu na desgraça justamente na sociedade brasileira forjada nas incongruências, ambiguidades, contradições recheadas pela democracia racial?
A hipótese que levantei na quarta-feira era que a antipatia e pedantismo de Waack diante de seus colegas – as discussões com a jornalista Cristiane Dias durante a Olimpíada do Rio e o atrito com sua ex-companheira de bancada, Christiane Pelajo – influenciaram em uma possível vingança, sem contar com a atitude preconceituosa e sarcástica que tomou ao vivo diante da cantora Anitta à época também das olimpíadas.
Assistindo aos comentários de outras emissoras os conteúdos reafirmam o comportamento arrogante e difícil de Waack. Comentários como: “a justiça tarda mais não falta” foram recorrentes.
Bem minha hipótese não se sustentou por completo, pois nessa quinta-feira descobri que foram dois jovens negros, um deles ex-funcionário da Rede Globo, os autores do vazamento do vídeo de William Waack. Diego Pereira era operador de VT na emissora, e, Robson Cordeiro – designer gráfico – se indignam com o teor racista do comportamento e da fala de Waack.
Esses dois jovens entregaram o vídeo aos jornalistas da TV globo o ano passado, mas o caso fora abafado, numa cumplicidade complacente que os racistas têm com seus correligionários.
Os comentários de jornalistas de outras emissoras, também, tentaram aliviar o impacto da atitude racista, reconhecendo-a como preconceituosa. Na realidade Willian Waack representa bem a sociedade brasileira e nos comprova que racismo não tem nada a ver com ignorância.
Bem feito!!!
Ele se transformou em um bode expiatório, até mesmo para a empresa em que trabalha: a Rede Globo. Foi afastado e consagrado como o único culpado; já que para seu chefe Ali Kemel a sociedade brasileira não é racista. Sim em agosto de 2006 Ali Kemel escreveu o livro “Não somos racistas”
Bem feito!!!
Para esse Senhor de 65 anos cultíssimo, bem sucedido que se comporta com um moleque inconsequente fazendo piadas racistas para se exibir e marcar a sua suposta superioridade racial como se confirma na transcrição:
— Tá buzinando por que, ô seu merda do cacete? Deve ser um aqueles… Não vou nem falar de quem, eu sei o que é… Sabe o que é, né?
E, então, ele vira a Sotero e continua o diálogo sussurrando o seguinte:
Waack: “Preto, né?”
Sotero: “Ahn?”
Waack: “Preto, né? Sabe o que é isso? É coisa de preto…”
Sotero: “Sim.”
Waack: “Com certeza.”
Racismo é crime e o criminoso de Willian Waack não está sozinho, tem recebido apoio de setores da população que partilha das mesmas idéias. Os comentários das pessoas nas mídias corroboram esta afirmação, a saber:
Como o brasileiro é hipócrita, o William Waack só comentou com o colega, já estão chamando de racista, hoje em dia vc não pode nem olhar uma pessoa da raça negra, já é chamado de racista… Aliás eu não entendi o áudio……Não ouvi ele falando essa palavra profana…..Tenha paciência!!! Paulo Roberto- 09/11/2017 – 11:11
Não achei necessário toda a essa comoção misturado com hipocrisia. Isso não pode ser caracterizado como racismo, porque ele mencionou uma cor, no caso o preto. Se tivesse falado “negro” aí sim se caracterizaria racismo. Globo dando desculpa pra dispensar o cara porque ele fala o que os políticos corruptos não querem e não mandam a emissora colocar no ar. Rosane Godoy- 09/11/2017 – 12:12
Não o William não está sozinho José Catalão mordomo presidencial foi demitido num primeiro ato de Temer. Catalão perde o nome e vira um negro. Temer diz: “mandem este negro embora”. Mas em uma sociedade racista todos se calam e sendo Temer Presidente ele nem precisou pedir desculpas.
Diferente de Temer, Patrícia Moreira (a racista do jogo entre Grêmio e Santos) aos prantos pediu perdão ao Goleiro Aranha alegando não ser racista. Seu advogado Alexandre Rossato disse que a torcedora gostaria de se encontrar pessoalmente com o goleiro para pedir desculpas e que, pela exposição do caso, ela já foi “julgada socialmente”. Para Rossato sua cliente não é racista, pois o xingamento ocorreu dentro do “contexto do futebol”. Continuou dizendo: “as próprias mães dos árbitros são xingadas historicamente dentro do futebol.”
Waack e Sotero tiveram amnésia e se esqueceram do ocorrido. Todavia, para garantir o emprego, mesmo não se recordando pede desculpas. Sotero aparece no vídeo dando uma risada, mas diz em entrevista que racismo não tem graça e que jamais riria de uma piada racista. Será que depois da filmagem se posicionou de forma contrária a essa atitude e disse pessoalmente para Waack que racismo não tem graça?
Sotero está para o árbitro da partida entre Grêmio e Santos que não incluiu na súmula da partida menção a atos racistas na Arena. Assim, temos como coniventes o juiz Pereira Sampaio e seus assistentes Kleber Lúcio Gil e Carlos Berkenbrock e o quarto árbitro Roger Goulart, que foram em 2014 denunciados por infração aos artigos 261-A e 266, ambos do CBJD.
Assim, podemos entender o fato do silencio diante do ato do Presidente Temer. Podemos até lançar uma campanha #SOMOSTODOSSOTERO. Não somos racistas, mas rirmos de atos e piadas racistas.
Todavia, merece o meu riso nessa história é ter minha hipótese refutada. Abalar as estruturas de William Waack foi coisa de preto. Os racistas de plantão que tomem cuidado, pois é coisa de preto se indignar, resistir e denunciar. Esse novembro negro veio para dar consciência. Obrigada Diego Pereira e Robson Cordeiro vocês verdadeiramente fizeram serviço de preto.
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