CRÍTICA TEATRAL:
ESPETÁCULO: “MADAME SATÃ ”
Conforme essa encenação que leva o nome do lendário “Madame Satã” transcorre minuto à minuto, cena à cena, diversas questões surgem diante do nosso olhar espectador:
– Por que abordar a história de Madame Satã já contada de formas tão grandiosas?
– Por que usar um personagem conhecido para abordar dilemas encontrados tão repetidamente durante nosso cotidiano em cidadãos comuns que estão ao nosso lado o tempo todo?
– Por que momentos cômicos (quase pastelão) quando o que realmente toca a plateia é o conteúdo dos dramas que nos faz pensar na vida atual?
As questões aos poucos vão se esclarecendo conforme vamos nos entregando ao roteiro e compreendendo as simbologias e metáforas sugeridas pela direção / concepção.
A cena inicial do lado externo do teatro, de início parece longa demais, tornando-se quase cansativa ao público, mas então nos arrebata com um assassinato super realista.
Existem problemas de costuras entre algumas cenas, o que faz com que alguns momentos fiquem ralentados, prejudicando o ritmo dos acontecimentos e do desenrolar da lógica da dramaturgia. Esse fato causa um pouco de confusão na compreensão dos acontecimentos e das mensagens sugeridas. Importante repetir que isso acontece principalmente nas cenas muito cômicas que destoam do restante da linguagem cênica.
Mesmo assim, o espetáculo é recheado de momentos musicais poéticos e de criativas marcações e construções cênicas, nas quais a direção esbanja inspiração construindo cenários diversos com um pequeno número de simples caixas pretas com rodas em suas bases.
É necessário maiores cuidados com detalhes estéticos na cenografia e na iluminação. O palco amplia pequenos defeitos, como uma cortina de fundo não esticada e / ou um foco de luz mal afinado. Detalhes que roubam a atenção em pequenos momentos onde a dramaturgia é mais fraca.
Os defeitos são poucos, no geral, em uma montagem na qual vemos um elenco extremamente disposto a encantar a plateia, focado, altamente esforçado e talentoso.
Os números musicais nos surpreendem quando comparamos as atuais produções de teatro-musicais hiper microfonadas. Em “Madame Satã” é delicioso escutar os atores usando apenas seu aparelho vocal em força total, comprovando que cantores podem fazer um trabalho admirável quando têm mais domínio técnico do que preciosismos.
Talvez a maior qualidade do espetáculo seja a utilização de trechos da historia de “Madame Satã” para colocar em questionamento problemas de nossa sociedade atual, como o encarceramento, a injustiça, o preconceito racial , a homofobia e transfobia, a hipocrisia.
Assuntos relevantes a serem colocados à mesa para discussão em uma sociedade brasileira afundada em um momento social e político atual, repressor e caótico.
No pesar da balança final, devemos parabenizar esta produção que levanta questionamentos e exercita criatividade em uma interessantíssima obra teatral.
Avaliação: 🌟🌟🌟 Bom
Direção Geral: João das Neves e Rodrigo Jerônimo. Direção Musical: Bia Nogueira. Dramaturgia: Marcos Fábio de Faria e Rodrigo Jerônimo.Supervisão da dramaturgia: João das Neves. Arranjo Musical: Alysson Salvador. Canções inéditas compostas pelo elenco. Preparação Rítmica: Daniel Guedes. Preparação Corporal: Benjamin Abras. Iluminação: João das Neves. Coordenação Técnica: Ítalo Tadeu. Cabelo e maquiagem: Xisto Lopes. Cenário e figurino: Cicero Miranda e Débora Alves. Assistente de cenário e figurino: João Paulo Sousa e Rodrigo Ianni. Confecção de sapatos: Helênio Lima. Equipe de apoio figurino: Ana Maria Faleiro e Zilanda Barroso. Assessoria de Imprensa: Adriana Balsanelli e Renato Fernandes. Elenco: Taiguara Nazaret, Allysson Salvador, Bia Nogueira, Gabriel Coupe, Jhulia Santos, Kátia Aracelle, Rodrigo Negão, Telma Dias e convidados.
Teatro Jaraguá
Rua Martins Fontes, 71 – Consolação/São Paulo/SP
Telefone (11) 3255 4380
Temporada: De 12 de julho a 8 de setembro de 2019. Sextas e sábados, às 21 horas, e domingos, às 19 horas
Classificação indicativa: 16 anos
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