O dia 20 de novembro, feriado que celebra a Consciência Negra, promete sempre (diferir), mas não para todos. Enquanto muitos se preparavam para um dia de descanso, reflexão e celebração, o negro na labuta enfrenta uma realidade que não se pausa para datas comemorativas.
Nas cidades, onde a vida pulsa em ritmo frenético, muitos negros vê obrigados a trabalhar, mesmo em um dia que deveria ser dedicado à valorização de sua cultura e à luta contra a desigualdade. O feriado, para eles, muitas vezes, é apenas mais um dia no calendário, um lembrete amargo de que a luta por reconhecimento e reparação histórica ainda está longe de ser vencida.
O homem negro, que acorda antes do sol, enfrenta o trânsito e as filas do transporte público, enquanto outros desfrutam de um merecido descanso. No comércio, na limpeza urbana, nas fábricas e nas obras, ele é a força invisível que mantém a cidade funcionando. Para muitos, a labuta diária não tem feriado; as contas não esperam. A necessidade de sustentar a família e garantir o pão de cada dia se sobrepõe a qualquer celebração.
E assim, enquanto as pessoas se reúnem em rodas de conversa, festas e manifestações de orgulho, o negro que trabalha, muitas vezes, não tem a mesma oportunidade de se juntar a esses momentos. Ele é o que serve, o que limpa, o que constrói, mas que também carrega consigo a história de um povo que enfrenta, a cada dia, a luta por dignidade e reconhecimento.
No entanto, mesmo em meio à labuta, há uma força inegável que permeia esses espaços de trabalho. O negro, que continua a suor e a esperança, carrega consigo a resiliência de seus antepassados. Ele sabe que, mesmo em um dia como o 20 de novembro, sua presença é um ato de resistência. Cada gesto, cada esforço, é uma afirmação de que sua contribuição é indispensável e que sua história merece ser celebrada.
E enquanto os que descansam celebram a consciência negra, aqueles que trabalham também o fazem à sua maneira. O sorriso de um cliente atendido, a satisfação de um serviço bem feito, o orgulho de um trabalho realizado são pequenas vitórias que, somadas, formam um grito silencioso por reconhecimento.No dia 20 de novembro, o Brasil para para celebrar a Consciência Negra, uma data que nos convida a refletir sobre a história e a cultura afro-brasileira. Mas, em meio a tanta comemoração, é impossível não notar o lado folgado do nosso país. Um país que, por vezes, dança ao som da alegria sem se dar conta das feridas que ainda precisa curar.
É um dia de festa, com sambas e pagodes pelas ruas, onde a gente se permite esquecer um pouco das injustiças. Mas, ao mesmo tempo, é um lembrete da resistência de um povo que, mesmo após séculos de luta, ainda enfrenta desigualdades gritantes. O Brasil, com seu jeito folgado, parece às vezes se acomodar na ideia de que a celebração é suficiente. A festa é linda, mas e a consciência?
Enquanto as pessoas se reúnem em praças, com sorrisos estampados no rosto, é fundamental lembrar que a folga não pode ser apenas uma pausa nas demandas sociais. Precisamos nos engajar, educar e, principalmente, ouvir as vozes que clamam por justiça. O folgado, neste contexto, é o que ignora a luta alheia, que se contenta em apenas celebrar sem agir.
É preciso resgatar a essência do dia não é só sobre a música, a dança e as cores vibrantes, mas sobre o reconhecimento de um passado que ainda está presente. O Brasil que se orgulha de sua diversidade deve também se comprometer com a equidade. Que o dia 20 de novembro nos lembre que a consciência é um trabalho diário, que vai além das festividades.Assim, no feriado de 20 de novembro, é essencial lembrar que a luta por igualdade e respeito não se limita a um dia no calendário. A labuta do negro, que não para mesmo em datas comemorativas, é um testemunho da força e da resistência de um povo que, apesar de tudo, continua a se levantar, a se orgulhar de suas raízes e a lutar por um futuro onde todos possam, finalmente, celebrar juntos.
E que, ao final do dia, possamos reconhecer que a verdadeira consciência negra não é apenas uma data, mas um compromisso diário com a justiça, a igualdade e a valorização da cultura que molda a identidade do Brasil.
Sobre o autor: Denilson de Paula Costa, é especialista em história cultural, membro da academia militar e coautor do livro “Encontros com a história e a cultura africana e afro-brasileira”.
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