Ana tinha uma longa jornada para ir a escola. Ônibus lotado, um homem velho, para atrás da menina. O que fazer?
Essa matéria não fora ensinada na escola, talvez em casa. Paralisada pensou em como administrar nojo e desespero e criou para si um mantra: Isso não está acontecendo, isso não está acontecendo…
A menina não teve tempo pra pensar, mas quantos cúmplices esse indivíduo tinha? Ninguém se sentiu responsável em ficar omisso diante um assédio sexual? Ninguém refletiu que a cada normalização de um abuso não só somos coniventes, mas validamos opressões?
Instintivamente a menina olhou para seu agressor e fechou a feição. Uma força descomunal que acabara de brotar e a fez encarar aquele homem.
Ao descer daquele ônibus a menina entendeu a força das suas mais velhas Ser forte não era uma característica genética, nem uma escolha como supunha, e sim um item de sobrevivência.
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Luana Levy
Mulher preta, periférica, militante, professora, pretagoga, escritora, contadora de história e brincante. Na busca de entender a si, decidiu ser muitas coisas, aventurando-se em jornadas e possibilidades. Para isso se impôs uma única regra, paixão.
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Essa negra escritora preto, faz parte da antologia PRETOS EM CONTOS – Volume 2.
Antologia preta de contos curtos que reúne narrativas de escritoras negras e escritores pretos brasileiros com diversas matizes literárias, com vários olhares e com heterogêneas escritas.
Publicado pela Editora Aldeia de Palavras
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