Minha mãe disse que no dia em que eu nasci, bateram na minha bunda e disseram para ela: é menina. Pois quando eu ganhei o meu cachorro eu bati na bundinha dela e gritei: é menina cachorra!
Minha mãe gritou:
— Não é cachorra que fala, é cadela!
Pensei, será que a bichinha se ofendeu de eu chamar ela de cachorra?
Hoje eu estou aqui, depois de sangrar no cobertor a noite inteira, eu escuto: -minha menina virou mulher!
Mas eu não sei nem ainda, depois de 12 anos, o que era ser menina, porque eu gosto é mesmo de empinar pipa, de cabelinho na régua e gosto da Bruna também e agora mesmo não sabendo o que é ser menina, já me chamaram de mulher. Eu acho que serei sendo, né, tudo no subjuntivo, como ensinou a “psora” bonitona de português.
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Kátia Moraes
Quão quente são as palavras da filha do rei de Oyó? Elas vão te queimar ou te aquecer? Quantas verdades ela descreverá? Elas vão te ferir ou vão te representar? Que você sinta daí um pouco do dendê que mora em mim, isto já fala muito.
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Essa negra escritora preto, faz parte da antologia PRETOS EM CONTOS – Volume 2.
Antologia preta de contos curtos que reúne narrativas de escritoras negras e escritores pretos brasileiros com diversas matizes literárias, com vários olhares e com heterogêneas escritas.
Publicado pela Editora Aldeia de Palavras
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