Mãe Menininha do Gantois , mulher de fé e de “ raça”, foi uma das mais importantes figuras do candomblé no Brasil, especialmente no contexto da luta contra o racismo e a intolerância religiosa. Nascida em 10 de fevereiro de 1894, em Salvador, Maria Escolástica da Conceição Nazaré era descendente de escravizados da Nigéria e tornou-se a Iyalorixá do Gantois, um dos mais
tradicionais terreiros de candomblé da Bahia e do Brasil. Ela assumiu o cargo, sucedendo sua tia-avó Pulquéria Maria da Conceição, em fevereiro de 1922, aos 28 anos.
Mãe Menininha não foi apenas uma grande liderança religiosa, mas também uma defensora incansável da preservação das tradições afro-brasileiras e da dignidade do povo negro. Ela assumiu a liderança do Gantois em um período em que o candomblé era, muitas vezes, alvo de perseguições, discriminado pela sociedade e marginalizado por sua relação com as religiões de matriz africana, associadas à “superstição” e “práticas primitivas”.
Enfrentou com força e vigor o racismo e a intolerância religiosa de frente, pois, além de ser uma mulher negra em um país desigual, ela também representava a religiosidade do povo negro, marcado pela proibição de culto aos seus orixás e seus ancestrais. Ela trabalhou incansavelmente para dar visibilidade ao candomblé e afirmar sua importância enquanto religião e prática cultural legítima. Durante sua liderança, ela foi um símbolo de resistência tanto contra a opressão racial quanto religiosa, especialmente porque o candomblé foi, muitas vezes, combatido sendo alvo de campanhas de discriminação, criminalização e repressão.
Mãe Menininha tinha um carisma natural voz de consenso e firmeza notável, sua liderança era reconhecida não apenas dentro das comunidades de terreiros, mas também em esferas sociais mais amplas, sendo respeitada até mesmo por figuras políticas, artistas e intelectuais. Ela foi uma das principais responsáveis por consolidar a imagem do candomblé como uma prática religiosa legítima, digna de respeito e reconhecimento.
À frente de seu terreiro como Iyalorixá, Mãe Menininha foi a matriarca, grande sacerdotisa do Terreiro do Gantois e sua liderança foi fundamental na continuidade e preservação do candomblé, constantemente ameaçado de se transformar diante das pressões sociais ou até desaparecer. Ela cuidava dos aspectos religiosos e culturais do terreiro, orientando e ensinando seus filhos de santo sobre a importância das tradições, além de reforçar a conexão com os orixás. Mãe Menininha manteve uma postura rígida em relação aos preceitos do candomblé, sem abdicar da fidelidade aos rituais e crenças que representavam a força e a identidade do povo negro.
Além disso, Mãe Menininha ajudava a desenvolver e consolidar o candomblé na sociedade baiana, com uma postura política que visava garantir a sobrevivência da cultura afro-brasileira. Foi também foi um exemplo de liderança feminina em um espaço religioso tradicionalmente dominado por homens. Sua postura firme e serena diante de ataques e discriminação a tornou uma das maiores representantes do candomblé, sendo reconhecida por sua sabedoria, profunda espiritualidade e coragem.
Mãe Menininha do Gantois faleceu em 1986, mas deixou um legado que continua sendo uma inspiração para diversas gerações. Ela foi uma das responsáveis por abrir caminhos para o reconhecimento do candomblé como religião legítima de um povo, pela luta contra o racismo estrutural e pela valorização da cultura afro-brasileira. Seu trabalho ainda é lembrado e celebrado, e ela continua sendo um ícone de resistência, sabedoria e força espiritual.
Seu exemplo de liderança, resistência e amor à cultura afro-brasileira permanece vivo até hoje, sendo admirada não só pelos praticantes do candomblé, mas também por aqueles que lutam contra o preconceito racial e religioso em um Brasilainda marcado por profundas desigualdades.
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Escrito por:
Deise Veira
@deiseveira
Pedagoga social
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