Sarau de um homem só…
Depois de se destacar em feira de literatura e apresentações em sua cidade natal, Santo Estevão, no interior da Bahia, Jho se dirige agora a maior cidade cultural do Brasil, São Paulo…
Josafá, mais conhecido como Jho, tem 23 anos e é natural de Santo Estevão, interior da Bahia, estudante de filosofia, mas atualmente vive em São Paulo em busca da sua realização profissional.
Acostumado a viver num pequeno sitio do interior baiano, Jho mergulhou na literatura e iniciou a sua carreira como autor de contos, trabalho este que rendeu o projeto “Cantando Contos” no qual ele apresenta seus contos através de apresentação online e agora irá iniciar presencialmente através das casas de cultura de São Paulo.
Fale um pouco mais deste projeto tão bacana que é o “Cantando Contos”?
Esse projeto na verdade começou com a idéia de um amigo meu, alguém que eu mostro as coisas que escrevo, ele achou que seria legal fazer apresentações de leitura desses contos, também falando um pouco sobre o processo de escrita, o que me influenciou a escrever, até trazer outros autores para participar de vídeos com seus próprios contos também, de certa forma é um jeito de fazer a mim e outros autores brasileiros se tornarem mais conhecidos.
O que você espera deste projeto?
Bom, em primeiro lugar eu espero que continue dando certo, eu amo literatura, amo leitura, espero que as pessoas amem isso também, lendo ou ouvindo alguém ler é uma forma de viajar para lugares incríveis, o passado, futuro, magia, tudo pode existir através dessas viagens, eu espero que as pessoas possam experimentar isso através do meu projeto.
Abaixo um dos diversos contos de Jho.
No canto da sereia
“Dentro do mar
Vou te segurar perto de mim
Deslize sob as ondas
Por baixo das cavernas”
Dentro da caverna, a perigosa criatura com olhos de tempestade sorriu maldosa. Na verdade não era má, apenas estava faminta e a fome, voraz como é, faz coisas estranhas com as pessoas. A caverna possuía um teto quase abobado que descia até encontrar as paredes de rocha azul escura e escorregadia seguindo até o chão arenoso cinza e por fim à borda daquela deliciosa piscina natural onde ela se encontrava. No teto havia uma abertura circular grande o suficiente para que ela pudesse ser banhada pela luz da Lua cheia como aconteceria dali a pouco.
Entoou os versos sabendo que em algum lugar ao longe um sino badalava indicando a meia noite. De forma mágica a Lua, aquele magnífico disco prateado, se posicionou na abertura do teto e iluminou a piscina, a água azul pôs-se a borbulhar instantaneamente e uma onda de prazer atingiu o corpo da criatura. Fechando os olhos tateou o próprio corpo começando pelos úmidos cabelos escuros, passou pelo rosto de olhos cinzentos, nariz reto e boca carnuda, acariciou o pescoço e a clavícula apenas para tocar os próprios seios nus, desceu pela lisa barriga até encontrar as escamas da graciosa cauda escamosa. A perigosa criatura sorriu novamente e voltou a cantar.
“Beije-me meu amor
Descanse em meus braços
Sonhos gentis comigo,
Afunde sob as ondas
Venha até mim meu amor
Abandone a terra”
Mergulhou fundo e saiu por baixo da caverna, naquela profundidade a água era muito calma, soube que havia um homem nas águas acima, dentro de uma pequena embarcação, remando com força contra o mar que estava se tornando selvagem como ela. Lentamente subiu, emergindo para a superfície como uma pequena deusa, sentindo-se como uma divindade das águas, no céu, um trovão ribombou brilhante. Talvez ele merecesse morrer, talvez não, ela não se importava, estava faminta e então cantou.
“Beije-me meu amor
Descanse em meus braços
Sonhos gentis comigo,
Afunde sob as ondas
Venha até mim meu amor
Abandone a terra”
A melodiosa voz elevou-se acima do barulho das ondas chamando a atenção do pobre homem, assim que os olhos dele encontraram os dela ele sorriu, porque ela estava cantando. Não, não era a música que saía de sua boca, era a doce nota aguda que saía de sua mente e penetrava a mente do outro devorando memórias e sentimentos. No céu acima, as nuvens escuras moviam-se tanto quanto o mar causando uma série de clarões e estrondos, mas sua voz, sua verdadeira voz, era que estava controlando tudo aquilo. A nota inaudível batia no céu, nas rochas, nas ondas e naquele homem, tirando energia de tudo ao seu redor e alimentando aquele ser.
O barco virou quando o homem pulou no mar, ele não percebeu que estava prestes a morrer, tudo que conseguia pensar era em beijar aqueles lábios de aparência macia, acariciar aquele rosto e possuir aquele delicioso ser que estava à sua frente, enfeitiçado pela sereia. Ela também nadou na direção dele, sedenta por mais energia, mais poder, não tinha consciência para condená-la por gostar tanto daquilo, era uma criatura de desejos ardentes e coração frio, enfeitiçada pela Lua. Os corpos colidiram e as bocas trocaram um beijo selvagem, depois ela se distanciou, ele sorriu nadando e quando estava prestes a tocá-la novamente a luz se apagou de seus olhos. Em êxtase, ela mergulhou para o fundo do mar cantando os primeiros versos da canção enquanto um corpo afundava sem direção.
“Dentro do mar
Vou te segurar perto de mim
Deslize sob as ondas
Por baixo das cavernas”
contato: (75) 988153710
Instagram: @grim.malkin
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