Ogun foi chamado para guerrear. Limpar o mundo antes dos seus irmãos chegarem.
Será uma luta, muitas lutas, sem tempo para encerrar. Talvez toda uma vida. Ou duas. Ou todas
Irê, sua aldeia, fica triste mas não desamparada.
Não querem que vá, mas sabem de sua determinação. Sua natureza.
Lamentam dançando na noite anterior a ida.
No meio dos festejos ele exige ao filho, que será o Obá dali, para que todas e todos dediquem um dia em sua homenagem: Durante um dia que devem jejuar, não olhar e manter em silêncio. Orara para que tenha força, para lhe dar coragem. Para nunca esquecerem dele.
Aceita.
Oorun nasce, ele grita e vai.
Nos primeiros tempos ele se torna grande, muito maior do que o Baobá que luta contra todos os flagelos.
Depois, se torna sete e parte para todos os cantos, para cima por baixo e entre, luta contra todas as naturezas.
Abre caminhos
Sabendo o mal dos corações, se torna pequeno. Os inimigos dos irmãos caem.
Também peleja contra a sua preguiça de lutar. Alguns amigos pelos inimigos se entregam
Abre caminhos para os irmãos.
Puni, retalia e se consome. Alguns inimigos fogem enquanto ele sente falta de Oya que foi se ter com Xangô.
Dilui as trevas com suas ferramentas.
Limpa e sujam
Luta também cansa
Ira também d
Um dia pela saudade cai. Quer ir para poder voltar.
Quer rever, quer dançar com os seus
Ogun vem mais magro, mais fraco e sujo. Quer estar em Iré.
Quer estar em sua terra.
Chegando na primeira cabana, a mais distante do centro, pede água. Ninguém o atende. Entra e encontra todos, a família sentada, olhando para o chão. Pede comida. Nada.
Imagina que por estar sujo.
No riacho se lava, se purifica.
Na próxima cabana encontra a mesma mudez.
Chega na aldeia.
Homens, crianças e mulheres andam devagar e cabisbaixos.
Constata que não o reconhecem
Atesta que não o querem ali.
Esqueceram de seu rei
Confirma que lutou em vão pelo seu povo.
Deixa à ira sair.
Sua fúria dá força aos seus braços. Faz de sua espada, raios, trovões e ventos.
Todos os ingratos morrem. Somem. Sem falar nada.
Na mata, cessa o desejo de água e alimento. Dorme.
Dia seguinte encontra os seus filhos.
Não estão alegres em vê-lo.
Contam ao pai que não puderam defender a aldeia de poderosos inimigos, estavam caçando. A aldeia foi finda no dia que cumpriam o desejo de Ogun.
Ogun grita, Sua ira vem sem pedir. Vem com o remorso. Vem contra ele.
No segundo grito enfia sua espada no chão que se abre.
Ogun entra no buraco e some.
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