Texto de: Geraldo Potiguar do Nascimento. – São Paulo, 29.07.2018
Numa organização, pesquisa, edição e distribuição da UCPA – União dos Coletivos Pan Africanistas, foi lançado dia 22 de julho, próximo passado na Biblioteca Pública Municipal Mário de Andrade em São Paulo, Capital, o livro LÉLIA GONZALEZ – PRIMAVERA PARA AS ROSAS NEGRAS. Numa tarde fria de domingo como os dias aqui nessa época aqui em São Paulo, as 16:30hs, num auditório completamente lotado, no centro dessa grande cidade, de pessoas interessadas em participar da atividade de lançamento do citado livro.
Era um dos documentos que estavam faltando nas mãos dos novos militantes assim como nas bibliotecas das escolas, principalmente aquelas afastadas do centro, um livro dessa qualidade. A retomada da luta do povo negro lá pelos idos dos anos 70 do século passado teve a contribuição de uma gama pequena, mas excelente de intelectuais negros e brancos que de uma maneira ou de outra estavam comprometidos com o avanço da luta contra a discriminação racial e pelo pensamento avançado e desenvolvimento econômico do povo negro.
Dentre esses grandes colaboradores podemos citar pessoas como: Clóvis Moura, Fernando Henrique Cardoso, Florestan Fernandes, Octávio Ianni e outros. Nesse período e no bojo da luta novas cabeças pensantes foram introduzidas nessa caminhada e nessa nova porta que se abriu estavam: Abdias do Nascimento (que vinha cheio de ideias novas do relacionamento que teve com os negros norte-americanos, adquiridas e catalogadas, durante o seu exílio naquele país), Celso Prudente, Eduardo de Oliveira e Oliveira (professor da USP – Universidade de São Paulo), Eduardo de Oliveira, Hamilton Cardoso, Lélia Gonzalez, Milton Barbosa, Neusa Maria Pereira, Rafael Pinto, Wilson Prudente e muitos outros.
Abdias do Nascimento e Lélia Gonzalez estiveram presentes em muitas reuniões em São Paulo. Foram os dois que com as suas eloquências e persuasões conseguiram, com as suas defesas, principalmente o professor Abdias do Nascimento, aprovar no coletivo a palavra negro num movimento que teve seu início organizado a partir da junção das ideias de pensadores negros e brancos reunindo-se com membros de associações culturais e filantrópicas afro-brasileiras, grupo de empreendedores negros, religiosos, escritores, etc. com o nome de Movimento Unificado Contra A discriminação Racial.
Em 7 de julho de 1978 foi criado, e divulgado para o mundo inteiro, a partir das escadarias do Teatro Municipal em São Paulo o Movimento Negro Unificado Contra a Discriminação Racial com Abdias e Lélia presentes.
Lélia era mineira de nascença e carioca por opção. Oriunda de família humilde era uma mulher inquieta com relação a vida do nosso povo negro. Trazia nela a sabedoria ancestral africana, apesar de ter nascido em Belo Horizonte era observada na sua atuação um pouco da matreirice mineira que a sagacidade do povo carioca ajudou a aprimorar. Essa figura, hoje histórica, era, sem dúvida nenhuma, uma intelectual comprometida com a nossa luta. O MNU – Movimento Negro Unificado (nome usado nos dias atuais), questionou, na rua, em plena ditadura militar e para que o mundo inteiro lesse e ouvisse, o mito da democracia racial. A continuidade da luta era provar que na história, em que fomos forçados a aprender, haviam sérios equívocos a iniciar-se pelo dia 13 de Maio colocado na história, e oficialmente até os nossos dias, como o dia da abolição da escravatura no nosso país. Era necessário repensar a história analisando a função científica de José Bonifácio, Luís Alves de Lima e Silva (o Duque de Caxias), os cognominados bandeirantes e tantos outros. Os contos de fadas e as histórias infantis que eram repassadas de mãe para filhas, de pai para filhos também eram algo, como foram, para serem questionados.
O livro “LÉLIA GONZALEZ – PRIMAVERA PARA AS ROSAS NEGRAS é um apanhado geral sobre essa incansável luta que a Lélia travou inclusive ampliando as pautas do movimento feminista com a inclusão de temas abordados na luta da mulher negra assunto esse que as tais militantes não conseguiam ou não queriam enxergar.
A Lélia foi e é uma intérprete do Brasil e de suas maiorias silenciosas nas lutas por igualdade racial, social e econômica assim como vários outros militantes antigos e novos que atuam nos coletivos e redes antirracistas por esse Brasil a fora. Adoentada, afastou-se um pouco da luta e veio a falecer em 10 de junho de 1994.
Nota: As pessoas interessadas em adquirir um exemplar do livro deverão entrar em contato com a União dos Coletivos Pan Africanistas na página deles no FACEBOOK.
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