Manhattan, NY – A primeira vez que ouvi falar do escritor James Baldwin (1924-1987) foi através de uma pequena nota na coluna do jornalista Paulo Francis, no seu famoso “Diário da Corte” em dezembro de 1987. Na época famoso jornalista, publicava semanalmente duas colunas no periódico Folha de São Paulo. O jornalista, conhecido por seu vasto conhecimento cultural, não mencionava qualquer escritor na sua coluna. Portanto, James Baldwin deveria mesmo ter tido uma importância cultural bastante importante nos EUA para ter sido mencionado por ele.
James Baldwin faleceu no dia primeiro de dezembro daquele ano na Franca. Eu teria que esperar mais três anos para saber quem realmente foi James Baldwin e o que ele representou para a literatura dos Estados Unidos. Ou seja, eu estava com quase 30 anos quando li o seu primeiro livro aqui em Nova York “Go Tell To The Mountain” (Vá Dizer Para A Montanha. Trad. – livre) publicado pela primeira vez em 1953.
O consagrado escritor, ensaísta, poeta, roteirista, dramaturgo e ativista pela causa dos direitos civis, especialmente dos afroamericanos, nasceu no famoso bairro do Harlem. Mais precisamente no Hospital do Harlem, localizado na esquina da rua 135 e Avenida Lenox no lado oeste da ilha de Manhattan.
Filho de Emma Berdi Jones, uma jovem solteira, James Baldwin adotou o sobrenome do seu padrasto depois que sua mãe casou-se com o operário e pregador de igreja batista David Baldwin. James Baldwin teve 8 irmãos por parte da mãe. Segundo seu livro autobiográfico “Go Tell to the Mountain”, a única informação que ele tinha sobre seu pai adotivo era que ele tinha nascido em Louisiana, e ele deixou a cidade de Nova Orleans com direção a Nova York em 1919. Sua relação com ele sempre foi complicada para dizer o mínimo. Só se reconciliaram no hospital quando seu padrasto estava à beira da morte.
James Baldwin já mostrava sua aptidão para a escrita desde cedo. Ele estudou numa das escolas públicas do bairro, PS 124(Escola Pública 124). A diretora da escola, Gertrudes E. Ayer, foi a primeira diretora Negra de uma escola pública em NYC. Ela e alguns dos seus professores reconheceram em James Baldwin uma inteligência ímpar. Ele foi encorajado a frequentar a biblioteca pública localizada na esquina da rua 135 a Avenida Lenox do outro lado da rua do hospital onde ele nasceu. Antes de falecer, ele pediu que todos os documentos relacionados a ele fossem doados para a biblioteca. Hoje esta importante biblioteca não somente tornou-se a principal referência para pesquisa da cultura afroamericana e africana, mas também da diáspora Negra em geral.
Após terminar o ensino médio, James Baldwin teve vários empregos. Dois deles em Nova Jersey, o primeiro ajudando na construção de um depósito militar e o Segundo colocando trilhos para o exército. Seu relacionamento com seus colegas de trabalho foi bastante conturbado. Segundo Baldwin, seus colegas brancos o acusavam de ser bastante petulante além de nariz empinado. Durante esse período, o escritor tomou a decisão de deixar a America porque acreditava que a barreira racial era algo praticamente intransponível que dificultava o avanço social para a vasta maioria da população Negra em geral.
Durante os anos 1940 James Baldwin não conseguia ficar muito tempo no mesmo emprego. Além de não adaptar-se a um trabalho mais físico, seu aguçado intelecto buscava algo onde pudesse colocar no papel toda sua experiência como um jovem homem negro vivendo em Nova York. James Baldwin teve a felicidade de encontrar Beauford Delaney, um pintor modernista que encorajou Baldwin a explorar seu talento como escritor. Afirmando ainda que era possível para uma pessoa Negra ganhar a vida como um artista. Beauford tornou-se não somente amigo, mas também o mentor intelectual de James Baldwin. Nesta mesma época James Baldwin mudou-se para o “West Village” um local onde intelectuais de várias áreas costumavam frequentar. Neste período ele conheceu o escritor Richard Wright, famoso por ter publicado o clássico “Native Son” (Filho Nativo), além do ator Marlon Brando.
Vivendo no “West Village” possibilitou a James Baldwin encontrar a elite literária da cidade. Entre eles estava Sol Levitas do “The New Leader”, Randall Jarrell da revista “Nation”, Elliot Cohen e Robert Warshow da revista “Commentary” e Phillip Rahv da revista“ Partisan Review”. Ele acabou escrevendo para cada uma desta publicações, logicamente abordando o tema socio-econômico e racial da America.
James Baldwin deixou a America para ir morar na Europa. Mais especificamente Paris, onde primeiro morou entre 1948 e 1957. A razão da sua mudança, segundo ele, era o clima totalmente hostil que pais ainda nutria com relação à população afroa-mericana. Ele também queria que seu trabalho fosse julgado como escritor e não como um negro ou até mesmo um escritor negro. Ele acreditava que Paris poderia oferecer também um ambiente mais hospitaleiro em relação a sua homossexualidade.
Seus anos na Europa foram bastante produtivos. Ele escreveu resenhas, livros (O Quarto de Giovanni é um dos mais famosos), ensaios, críticas literárias, etc. Sua casa se tornou um reduto intelectual para artistas, escritores e músicos. Josephine Baker e Miles Davis, entre outros, frequentavam assiduamente sua residência nos arredores de Paris.
Depois de quase 10 anos na Europa, James Baldwin voltou para os EUA no início dos anos 60 durante o auge da luta pelos direitos civis para os negros no país. Ele participou ativamente do movimento. Tornou-se amigo de Malcolm X e Martin Luther King, jr. entre outros ativistas. Nesta época participou ativamente de discussões, sendo entrevistado e sabatinado constantemente pela mídia branca local. Ele esteve presente na histórica marcha em Washington em 1963 liderada pelo pastor Martin Luther King, jr. A década dos anos 1960 foi sem dúvida alguma a década onde ele mais produziu intelectualmente falando. “Fire Next Time”, “Another Country”, “Tell Me How Long The Train’s Been Gone” e “Notes On A Native Son” tornaram-se grandes clássicos, norte-americano. James Baldwin recebeu também vários prêmios relacionados ao seu trabalho literário. Entre eles estão: “Foreign Drama Critics Award” e “Commandeur de la Legion D’honneur”. James Baldwin transformou Paris e Nova York em sua ponte aérea. Ele seguiu produzindo e debatendo o tema étnico racial até falecer em Paris aos 63 anos de idade, de câncer. Seu legado é simplesmente inestimável.
Sobre o autor: Edson Cadette e jornalista formado pela faculdade St. Francis do Brooklyn e baseado em Nova York desde 1990.
Deixe um Comentário
Você deve logar para comentar