No Brasil, a diversidade é um dos nossos maiores tesouros, mas, paradoxalmente, a intolerância religiosa ainda é umobstáculo ranco encontrado nos corações das pessoas. A intolerância religiosa tem cor, forma e um peso que muitas vezes não conseguimos mensurar. É uma perseguição que vai além da fé; é uma negação da identidade, uma recusa em aceitar o outro em sua plenitude.
Muitas vezes, quem professa uma fé diferente da dominante se vê obrigado a silenciar suas manifestações, a esconder suas práticas que, para muitos, são sagradas. Os atabaques, com seus ritmos ancestrais, são vistos como barulho, enquanto os batuques e até o chocalho no pé incomodam aqueles que não compreendem sua origem e significado. E o que é mais triste: essa incompreensão se transforma em hostilidade.
A proibição da manifestação religiosa é uma tentativa de apagar a história de muitos. A história dos que, com fé, lutaram e resistiram, mesmo diante de séculos de opressão. O ponto é que, quando não se entende o que está por trás de uma crença, a ignorância toma conta e a intolerância se instala. É como se negássemos a nós mesmos, à nossa própria cultura, à riqueza que vem da fusão de tantas tradições.
E assim, a alegria da fé se transforma em sombra. O patuá, a guiá e tantos outros símbolos que representam a força e a proteção são relegados ao silêncio. “Não pode” se torna o mantra que em espaços que deveriam ser de acolhimento, de respeito e celebração da diversidade.
Mas, mesmo diante dessa realidade, a resistência se faz presente. “Olha, faz barulho”, diz o povo, e a palma se ergue em louvor. “São Benedito, que venha agora saudar Nossa Senhora!” As vozes se levantam, a música e a fé se manifestam de maneiras que não podem ser silenciadas. Cada batida de atabaque, cada canto, cada dança é um grito de liberdade, uma afirmação da identidade que insiste em existir, mesmo sob a pressão da intolerância.
É preciso lembrar que a fé, em suas diversas expressões, é um direito de todos. E que a verdadeira espiritualidade não pode ser contida por preconceitos ou limitações. O Brasil é um país de muitas cores, sabores e crenças, e é essa diversidade que nos torna únicos.A luta contra a intolerância religiosa é, portanto, uma luta pela liberdade de ser quem somos. É um chamado à empatia, à compreensão e ao respeito. Que possamos abrir nossos olhos e ouvidos e permitir que a diversidade de fé enriqueça nossas vidas.
Afinal, a verdadeira força da nossa nação está na capacidade de celebrar as diferenças, de aprender com elas e de construir um futuro onde todos possam professar sua fé sem medo, em um espaço de respeito e amor.
Sobre o autor: Denilson de Paula Costa, é especialista em história cultural, membro da academia militar e coautor do livro “Encontros com a história e a cultura africana e afro-brasileira”.
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