As cicatrizes da história, de mulheres que carregaram o peso da opressão e, ainda assim, encontraram maneiras de resistir. Entre as sombras de um passado cruel, destaca-se a figura da mulher negra escravizada, cuja maternidade foi, muitas vezes, um campo de batalha. As rodas dos expostos, que marcaram essa época, são um símbolo da brutalidade do sistema escravocrata.
Nelas, bebês eram deixados como se fossem objetos descartáveis, frutos de uma união forçada, de um amor negado. As mulheres negras, que tinham em seus seios o amor para nutrir e proteger, eram arrancadas de seus filhos, condenadas a ver suas maternidades transformadas em tragédias silenciosas.
O cuidado e a proteção, direitos fundamentais, eram negados a essas mães que, em um cruel paradoxo, eram tratadas como propriedade, sem qualquer reconhecimento de sua humanidade.
Diante dessa violência brutal, a resistência se manifestava em formas sutis, mas poderosas. Muitas mulheres grávidas, temendo o momento em que seriam forçadas a abandonar seus filhos, encontravam maneiras de fugir. Essa fuga não era apenas uma tentativa de escapar da opressão física, mas uma busca desesperada por um instinto materno que lhes era negado.
Elas criavam estratégias, se escondiam nas matas e se afastavam do olhar dos senhores, determinadas a manter viva a conexão com seus bebês. O ato de fugir tornava-se, assim, um grito de resistência, uma afirmação de que a maternidade não poderia ser extinta pela brutalidade do sistema.
É doloroso pensar que, em um contexto de escravidão, o amor materno era considerado uma ameaça. O sistema escravocrata temia a força das mulheres negras, sua capacidade de amar e proteger, pois isso poderia minar sua autoridade.
A maternidade, em sua essência, é um poderoso ato de rebeldia. E, na busca por proteger seus filhos, essas mulheres demonstravam que, mesmo sob as correntes da opressão, a esperança e a luta pela liberdade podiam florescer. As histórias dessas mulheres nos lembram que a luta pela maternidade é, em essência, uma luta pela dignidade e pelo respeito.
O legado dessas mães que se negaram a sucumbir à opressão é uma herança que deve ser celebrada e reconhecida. É fundamental lembrar que a luta por justiça social e igualdade não se encerrou com a abolição da escravidão. As vozes das mulheres negras, que desafiaram as regras e se recusaram a abrir mão de seus filhos, continuam a nos inspirar.
Elas nos mostram que, mesmo nas circunstâncias mais adversas, o amor pode ser uma força poderosa de resistência.Honrar essas histórias é promover um diálogo sobre a maternidade, a opressão e a luta pela liberdade. Ao fazer isso, contribuímos para a construção de um futuro onde todas as mães, independentemente de sua cor ou origem, possam exercer seu papel com dignidade, amor e proteção e principalmente de liberdade!
Sobre o autor: Denilson de Paula Costa, é especialista em história cultural, membro da academia militar e coautor do livro “Encontros com a história e a cultura africana e afro-brasileira”.
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