São Sebastião, padroeiro da cidade maravilhosa, São Sebastião do Rio de Janeiro, não posso deixar de refletir sobre a dualidade que permeia a vida nesta metrópole vibrante. Tradicionalmente, São Sebastião é representado como um mártir, atingido por flechas, símbolo de fé e resistência. No entanto, ao olhar atualmente sua maravilha, percebemos que, infelizmente, as flechas que outrora o feriram foram substituídas por balas perdidas, uma triste metáfora do nosso tempo.
As festas em homenagem ao santo, que sempre atraíram milhares de fiéis, agora coexistem com uma realidade angustiante. As ruas, que deveriam estar repletas de alegria e devoção, muitas vezes são palco de violência e insegurança. A cidade, com seu samba e seu carnaval, carrega nas suas veias a força de um povo que resiste e celebra, mas também a dor de comunidades que enfrentam a brutalidade da vida nas periferias.
São Sebastião, com sua história de sacrifício, nos ensina sobre coragem e superação. Mas, ao mesmo tempo, nos provoca a refletir sobre a realidade que muitos enfrentam diariamente. As balas perdidas nos lembram que, em um piscar de olhos, a vida pode mudar. A tensão nas favelas, o medo nas esquinas, a desesperança nas vozes que clamam por paz. É uma ironia amarga que a cidade, que deveria ser um lar de amor e acolhimento, se torne um labirinto de perigos.
Enquanto os devotos se reúnem para celebrar, é essencial lembrar que a festa deve ser também um espaço de reflexão. Que os cânticos em louvor ao santo ressoem como um clamor pela paz, pela justiça, pela vida. Que as velas acesas não sejam apenas um tributo ao passado, mas uma luz que ilumine o caminho para um futuro melhor.
A figura de São Sebastião permanece como um símbolo de esperança. Ele nos lembra que a resistência é possível, que a fé pode mover montanhas e que a comunidade pode se unir para transformar a realidade. O desafio é grande, mas a força do povo é ainda maior.
Portanto, olhar para os olhos de São Sebastião, não apenas como um mártir ferido, mas como um protetor que nos inspira a lutar contra as balas perdidas que ameaçam a paz. Que seu legado nos impulsione a buscar soluções, a criar um espaço onde as flechas da fé possam prevalecer sobre as balas da violência.
O padroeiro da cidade maravilhosa, que possa renascer a cada dia, empenhando-nos na construção de uma sociedade mais justa, onde a vida seja valorizada e a esperança nunca se apague. Que a festa de São Sebastião seja um grito de resistência, um chamado à ação e um lembrete de que, juntos, podemos transformar nossa realidade.
Sobre o autor: Denilson de Paula Costa, é especialista em história cultural, membro da academia militar e coautor do livro “Encontros com a história e a cultura africana e afro-brasileira”.
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