A primeira vereadora Trans de São Paulo.
Erika Hilton é vereadora eleita da cidade de São Paulo. Negra e transvestigênere, foi a mulher mais bem votada em 2020 em todo o país, a mais votada do PSOL e é a primeira trans eleita para a Câmara Municipal paulistana, com mais de 50 mil votos.
Erika Hilton por Erika Hilton
Erika Hilton – Eu sou uma jovem de 28 anos de idade, uma mulher negra, transvestigênere, vivendo no Brasil. Sou de Iansã, do signo de sagitário. Estou vereadora aqui na cidade de São Paulo, mas sou uma ativista, uma militante, uma defensora dos direitos humanos por essência e pela necessidade de se ser quem se é. E sou uma menina que viveu nas ruas, que viveu da prostituição a adolescência inteira por ter sido expulsa de casa com 14 anos de idade e ter que precisar viver da prostituição e das ruas por não ter tido para onde voltar, mas isso me fez aprender muitas coisas, inclusive com relação ao projeto político que eu construo hoje, a visão de mundo que eu tenho, as bagagens que eu trago. Sou uma jovem sonhadora, que acredita nos sonhos, que acredita na utopia como uma transformação social, como uma mola que impulsiona a gente para os processos revolucionários. É… essa sou eu, assim, sou uma mistura de muitas coisas.
Repórter William Lemos
Quando percebeu a política em sua vida?
Erika Hilton – Na verdade eu percebi que ocupar a política era algo urgente e necessário, era preciso que houvesse corpos e vozes iguais a minha ocupando esse espaço para garantir direitos e para trabalhar em prol de uma sociedade mais digna, menos desigual, mais justa e mais equânime para todos os grupos sociais, para a negritude, para as mulheres, para os lgbtqia+, para a classe trabalhadora, enfim, foi esse o chamado que eu recebi. Entender que o meu corpo e a minha voz poderiam ser representativos a uma massa da sociedade que durante muitos anos não se viu representada na política e teve a política como um espaço de retirada dos seus direitos, então isso que me chama. Quando eu olho para o cenário e quando eu vejo a ausência de mulheres negras, a ausência de mulheres de um modo geral, a ausência de pessoas lgbtqia+ no cenário político, eu me sinto pronta e convocada a ocupar esse espaço, então eu aceitei ocupar esse lugar para trazer voz, para dar legitimidade, para repensar e reformular o que é a política institucional a partir da nossa presença, a partir de nossas vivencias, a partir da nossa visão do fazer político.
William Lemos.
Erika, qual a sua historia de vida e como ela se relaciona com os movimentos, negro e lgbtqia+?
Erika Hilton – A minha historia se relaciona pelo fato de ser negra e pelo fato de ser uma mulher lgbtqia+, né? E a minha historia via se cruzando por que eu nasço em Franco da Rocha, cresço e me crio em Francisco Morato, na casa da minha avó coma minha família negra, pobre, periférica, numa das cidades mais pobres da região metropolitana de São Paulo, então a partir desse momento ainda sem consciência racial, mas é ai que a minha história vai se cruzando com o movimento negro por que eu estou num território majoritariamente negro e num território marcado constantemente pelas violências do racismo estrutural da nossa sociedade. Depois, quando eu vou para as ruas, expulsa de casa, viver da prostituição, eu também me conecto com a violência e com a historia do movimento lgbtqia+ e a realidade mulheres travestis nas ruas. Aí começa a nascer o meu ativismo, começa a nascer a minha militância e essa conexão mais consciente tanto com o movimento negro quanto como movimento lgbtqia+, que é entender de onde eu vim, para onde eu vou, qual é a minha ancestralidade, que me forma o que constitui enquanto sujeita. Acho que é dessa maneira que as historias se cruzam e essa é a minha história.
William Lemos
Quais as ações que você considera fundamentais para combater o racismo e discriminação na cidade de São Paulo?
Erika Hilton – Olha… eu acho que combater o racismo precisa partir de um lugar educacional, pedagógico, é preciso formar as pessoas antirracistas, é preciso discutir o racismo nas suas estruturas mais profundas na cidade de São Paulo, mas no país como um todo. É preciso políticas publicas que dignifiquem a vida da população negra garantindo cidadania e tentando equilibrar essa balança tão profunda da desigualdade. Eu acho que esses são caminhos, o caminho da educação, o caminho da política pública, o caminho da oportunidade, da possibilidade, das pessoas negras ocuparem outros lugares na sociedade, e da historia da negritude, da historia do racismo no nosso país ser contada por uma ótica da verdade a fim de conscientizar para combater é fundamental para o enfrentamento do racismo. Quando nós falamos de educação, é sobre diminuir a violência policial que assola a vida da população negra na cidade de São Paulo, é garantir que as nossas crianças e adolescentes tenham acesso a educação e a partir desse acesso à educação tenham acesso as suas histórias, aos históricos do nosso país e, é claro, não só a negritude, mas a sociedade como um todo. O racismo é uma estrutura de dominação perversa construída pela branquitude que domina todos os meios da sociedade, é preciso também tirar esse domínio da mão da branquitude, é preciso compartilhar o poder e os espaços sociais coma negritude para que a gente possa enfrentar e combater o racismo.
William Lemos
Erika, para finalizar, qual a mensagem que você deixaria neste momento aos jovens LGBTQI+?
Erika Hilton – Eu diria para eles serem fortes, para eles resistirem e serem resilientes, por que o mundo é perverso, cruel com a nossa existência, nos combate o tempo inteiro, mas nós temos um poder em nossas mãos que é o poder da mudança, é o poder da informação, é o poder da desconstrução do ódio, dos estigmas e do preconceito e isso infelizmente está em nossas mãos. Transformar e revolucionar a sociedade para que ela nos entenda e nos respeite da forma como nós somos. Vai doer, vai ser difícil, vão ter muitos sofrimentos e muitas mazelas nas nossas vidas, por que ainda estamos em uma sociedade profundamente preconceituosa e discriminatória com as pessoas, mas nós precisamos ser fortes, buscar energia, cuidar do nosso corpo, cuidar da nossa saúde mental, olhar para frente e seguir na nossa luta com o propósito de construirmos e alcançarmos um mundo muito melhor onde ninguém nunca mais precise sofrer ou chorar pela sua condição de gênero ou de sexualidade. Sejam fortes, resistam, lutem, suportem, enfrentem e sejam agentes transformadores do mundo que nós queremos e tanto precisamos. É isso que eu diria.
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