Venta tanto por aqui.
As árvores dançam quase que na mesma sincronia a música que o vento toca. Frio e vento. Os sábias não saíram para cantar. Nenhum passarinho cruza o céu. Frio e vento.
Dormi pouco a noite passada. Foi uma daquelas noites de sono atrapalhado, que a gente acorda toda hora. Mas sonhei. Sonhei que eu estava conversando com um amigo que faz tempo que não vejo. Falávamos sobre tempestades e feijão queimado. De repente, ele se levantou, abriu as asas e disse que tinha deixado o feijão no fogo e voou. Acordei. Sonhos malucos.
O ônibus está cheio, mas não lotado. Logo que eu entrei, percebi que alguém me olhava. Era uma senhorinha sentada no banco da frente. Correspondi ao olhar e ela sorriu para mim. Simplesmente. Sorri de volta. Passei na catraca e procurei um lugar para sentar. Aqui estou novamente no fundo do ônibus. Ouvi a senhora reclamar que o moço gordo sentado à dois bancos à frente não deveria estar sentado ali porque ele é muito gordo e está ocupando dois bancos. Juro que ainda estou tentando entender esse comentário dela. Cada uma!
A moça de cabelos cacheados que lê romances, voltou a deixar os cabelos cacheados. Fica mais bonita! Mas, o moço que olha para ela a viagem inteira hoje não veio.
Atrás de mim, a menina que é a fim do Felipe conta para a amiga que ontem ele respondeu imediatamente a mensagem que ela mandou para ele. “Parecia que ele estava com o celular na mão, menina, só esperando eu escrever”, ela disse sorrindo. A amiga disse que ela deveria chamar ele para sair. Ela disse que não tem coragem e se ele disser não? A amiga disse: e se ele disser sim? É, moça… E se ele disser sim? Tem que tentar.
Quando o ônibus fez a curva ali depois de sair do Tropical, tem um lindo ipê rosa todo florido! Segunda-feira eram só folhas verdes e hoje, está vestido de flores. Está a coisa mais linda de se ver. A cidade já está recebendo os ipês e a gente que os admira, aplaude e agradece. Ipês me emocionam!
O ônibus segue pelas ruas molhadas. Choveu essa madrugada. Segue devagar. Não vai dar tempo de eu passar na padaria e comprar pão quentinho. Hoje no almoço vou comer milho. Estou levando uma espiga na marmita. Foi difícil fazê-la caber ali, mas coube. E eu ri muito depois de ver o milho na marmita apertada. Sei lá, achei engraçado! Tem horas que eu dou muita risada de coisas bobas, de coisas sem graça. Às vezes, eu conto para alguém. Outras, guardo para mim. Tem gente que não gosta de rir de coisas bobas. Tem gente que não acha a mínima graça!
O sol está saindo vermelho, vermelho, como costuma ser o sol de outono! Tomara que ele brilhe com força e calor e acalente os corações gelados, que alegre os corações cansados, que faça sorrir os corações partidos e ajude o velhinho vendedor de pipocas que a Aline me contou essa madrugada, a vender muitas pipocas!
O moço bonito não está no ônibus. O moço bailarino está. Ele veste o mesmo conjunto azul de moletom, mas hoje está de touca. Que coluna reta! Vamos descer no próximo ponto. Ele desce a rua, eu dobro a esquina e o ônibus segue para o centro cheio de gente cheia de histórias pra contar… O ônibus segue e a vida também. Que seja doce!
Bom dia!
(Daíse Lima)
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