Projetos institucionais como o Xingu e a Licenciatura Indígena promovem saúde, bem-estar e educação à essa população
A defesa dos povos indígenas no Brasil continua a ser um tema urgente e relevante, e a Unifesp é uma das instituições que estão na vanguarda de ações que promovem saúde, bem-estar e educação aos povos originários. Entre elas, destacam-se a mais antiga – o Projeto Xingu – e a mais recente – a Licenciatura Indígena.
Projeto Xingu
Prestes a completar 60 anos, o Projeto Xingu, programa de extensão mais antigo da universidade, surgiu como uma iniciativa pioneira do Professor Roberto Baruzzi, da Escola Paulista de Medicina da Unifesp, em 1965, para promover a saúde e bem-estar das comunidades indígenas do Parque Indígena do Xingu. Ao longo do tempo o projeto foi se transformando e abrindo novas frentes de trabalho atendendo às diferentes demandas de saúde daqueles povos.
Atualmente, sob a coordenação da Professora Sofia Mendonça, da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), o Projeto Xingu destaca-se não apenas por sua longevidade, mas pela sua capacidade de adaptar-se às necessidades emergentes dos povos indígenas, respeitando suas tradições e autonomia. “O Projeto Xingu, como extensão universitária, tem como eixos de seu trabalho: o respeito aos diferentes saberes sobre a construção do corpo, as práticas e cuidados relacionados ao adoecimento; a formação de indígenas e não indígenas no campo da saúde indígena; e as pesquisas participativas buscando construir coletivamente estratégias de enfrentamento dos problemas de saúde no território”, afirma a Professora Mendonça.
O Projeto Xingu atua em diferentes espaços de formação, na graduação, pós-graduação e residência médica, e na capacitação das equipes locais de saúde indígena. Sua atuação tem sido vital não apenas para a melhoria da qualidade de vida das comunidades indígenas, mas também para a sensibilização da sociedade brasileira e internacional sobre a importância de proteger e valorizar os direitos dos povos originários.
Relembrando adaptações e resistências enfrentadas, a professora recorda que diversos ajustes foram feitos para a inclusão dos indígenas ao longo da história do projeto, que teve muito a ver com a relação em campo, no território. Compartilhando saberes com os especialistas tradicionais indígenas como os pajés, rezadores, raizeiros e parteiras. “Essa relação dialógica tem sido construída ao longo do tempo, a partir do vínculo e relação de confiança que se estabeleceu e vem sendo alimentada até hoje. Essa aproximação, essa articulação entre as diferentes medicinas, trilhando um contexto de interculturalidade e ‘intermedicalidade’ é uma das marcas do Projeto Xingu”, constata.
Ao longo de cinco décadas o projeto tem buscado uma sinergia entre academia e comunidades indígenas, oferecendo um caminho para o futuro onde o respeito e a valorização cultural são a base para qualquer iniciativa de desenvolvimento.
“Se no início do trabalho do Projeto Xingu as doenças transmissíveis, imunopreveníveis e as endemias eram as mais comuns, com uma alta taxa de mortalidade, ao longo do tempo, as mudanças no modo de viver, de se alimentar e trabalhar nas aldeias também trouxe o aumento, o surgimento de novas doenças e novos desafios. A gente começa a ter, de uma maneira mais frequente, casos de doenças crônicas não transmissíveis, como as doenças cardiovasculares, as doenças relacionadas à diabetes, à hipertensão, às neoplasias e também aos casos de sofrimento psíquico. Novas estratégias precisam ser criadas sempre junto com os indígenas”, analisa a professora.
Para mais informações sobre o Projeto Xingu e suas atividades, visite a página do projeto.
Licenciatura Indígena
O acesso à educação superior tornou-se uma prioridade fundamental para os povos indígenas, e a Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) desempenhou um papel significativo nessa área. Entre 2018 e 2019, a Unifesp reuniu 20 docentes que vivem e lecionam em territórios originários do Estado de São Paulo, para participar do curso de extensão “Por uma licenciatura indígena no Estado de São Paulo”. O objetivo foi criar um Projeto Político-Pedagógico (PPP) para um curso intercultural de formação superior de professores.
Em consonância com esse compromisso, os docentes indígenas desenvolveram o Projeto Pedagógico de Curso (PPC), o qual foi aprovado pelo Conselho Universitário da universidade em dezembro de 2022 e pelo Ministério da Educação em abril de 2023. Essa iniciativa representa um marco significativo na promoção da educação superior entre os povos indígenas, oferecendo uma estrutura acadêmica que respeita e valoriza suas perspectivas culturais e conhecimentos tradicionais. O curso oferece 40 vagas anuais e a primeira turma teve início em 2024. Saiba mais neste link.
O Grupo de Trabalho para a criação do projeto contou com representantes do Fórum de Articulação dos Professores Indígenas do Estado de São Paulo (Fapisp), da Fundação Nacional do Índio (Funai), do Museu das Culturas Indígenas (MCI), da associação indígena Comitê Interaldeias e da Pró-Reitoria de Extensão e Cultura (Proec) da Unifesp, com participação dos Pró-Reitores, da Coordenadoria de Direitos Humanos e da Cátedra Kaapora. Essa colaboração interinstitucional reflete o compromisso coletivo em promover uma educação superior inclusiva e culturalmente relevante para os povos indígenas, contribuindo para o fortalecimento de suas comunidades e identidades.
Demarcação de terras indígenas
As novas necessidades e os grandes desafios que enfrentam os povos indígenas envolvem outros temas. Um dos debates mais críticos é o da demarcação de terras indígenas, uma questão que tem implicações profundas para a soberania e a sustentabilidade ambiental dessas comunidades.
“O respeito pela terra é um direito fundamental e a demarcação é essencial para a preservação de nossa biodiversidade e a própria sobrevivência desses povos. Os povos indígenas, são os grandes guardiões da diversidade da floresta, da Amazônia, dos diferentes biomas do Brasil. A presença do movimento indígena nessa luta pela terra e preservação do meio ambiente é fundamental, e também precisam de um apoio maior de todas as pessoas. Apoio real e efetivo das forças de defesa, do governo, da sociedade, para o enfrentamento dos garimpeiros, dos invasores, daqueles que estão contaminando com o mercúrio as águas, os rios, os peixes, onde muitas crianças já têm apresentado alterações com sinais de intoxicação. Enfrentar o uso de agrotóxicos, particularmente em toda a região do Centro-Oeste, que também afetam a saúde e a segurança alimentar dos povos indígenas”, enfatiza a professora Sofia Mendonça.
Deixe um Comentário
Você deve logar para comentar