Joel Zito Araújo bate um papo sobre a sétima arte com casal de cineastas na telinha da emissora pública
O segundo programa inédito da série documental Encontros com o Cinema Africano, produção independente dirigida e apresentada pelo cineasta Joel Zito Araújo na TV Brasil, aborda a carreira de um casal de diretores, o etíope Haile Gerima e a americana Shirikiana Aina, neste sábado (9), às 23h30.
Radicado nos Estados Unidos desde o final dos anos 1960, o cineasta etíope é responsável por filmes inquietantes. Essas obras destacam principalmente a situação dos negros nos EUA e na diáspora. Em sua obra, ele não poupa os estereótipos de Hollywood e as concepções mais comerciais de cinema negro.
Haile Gerima e Shirikiana Aina integraram o L.A. Rebellion, importante movimento de diretores negros que fez história entre 1967 e 1989. Em sua grande produção cinematográfica, os diretores lançaram filmes de tom bem contundente, como “Sankofa” (1992), drama com direção do etiope, e “Through the Door of No Return” (1997), longa da americana.
Em sua cinematografia, Haile Gerima ainda reúne outras longas célebres e premiados como “Harvest: 3000 Years” (1976), “Ashes and Embers” (1982) e “Teza” (2008), títulos que ele menciona durante o seriado em cartaz na telinha da TV Brasil.
Na conversa com Joel Zito Araújo, o cineasta africano revela sua trajetória no mundo das artes e comenta sua chegada no continente americano. “Fui uma das gerações colonizadas pelo cinema de Hollywood. Então em toda a minha jornada para a América, a luta militante negra começou a desafiar minha mente colonizada. Esse é o início de onde passei do teatro para o cinema”, conta Haile Gerima. “A comunidade afro-americana e sua luta contra o racismo me fizeram reconectar com o meu pai”, reconhece o diretor.
Haile Gerima explora esse processo de desconstrução da sua condição de colonizado por meio do contato com o cinema afro-americano no decorrer da entrevista exclusiva. Em sua fala, o cineasta defende que os africanos se aproximem de suas origens. “Estamos trabalhando contra tudo aquilo que nosso povo lutou para trazer a ideia de libertação e uma sociedade melhor, um relacionamento humano melhor. Essas coisas não têm mais valor”, afirma enfaticamente.
Como forma de resistência, Haile Gerima e Shirikiana Aina criaram um espaço chamado Sankofa Video Books & Café, inspirado em seu clássico das telonas, misto de livraria e produtora cinematográfica, que fica em frente à Universidade Howard, em Washington.
Shirikiana Aina tornou-se mundialmente conhecida como produtora de “Sankofa”. Ela foi diretora de fotografia de vários documentários e criou os seus próprios trabalhos. “No processo de fazer ‘Sankofa’, comecei a entender e ver os resquícios dos africanos da diáspora na África”, comenta durante o papo.
A americana Shirikiana Aina também discute a presença feminina no audiovisual, principalmente das mulheres negras, bem como os desafios enfrentados por essas profissionais no mercado da sétima arte. “Vejo que mulheres negras estão sendo incorporadas a plataformas que estão famintas por conteúdos. Há muitas mulheres que são capazes de criar muito”, pontua a cineasta. “Acho que o desafio para essa geração mais jovem de mulheres negras que estão produzindo é permanecer fiel a uma visão que elas acreditam que ajudará a libertar o povo negro”, avalia a experiente diretora.
Produções especiais
No mês da Consciência Negra, a TV Brasil apresenta uma programação especial com produções temáticas para debater temas como cultura negra, ancestralidade e combate ao preconceito por meio do audiovisual. A emissora pública destaca conteúdos desenvolvidos através do edital Prodav TVs Públicas.
Desde o dia 2 de novembro, o canal exibe duas atrações documentais independentes em sequência, aos sábados, na faixa das 23h, ambas com cinco edições. O seriado Voz da Pele aborda o racismo na sociedade brasileira. Logo depois, às 23h30, a série Encontros com o Cinema Africano, obra criada, dirigida e apresentada pelo cineasta Joel Zito Araújo, traz entrevistas exclusivas com grandes diretores.
A produção Voz da Pele traz depoimentos de importantes pensadores negros da atualidade como Muniz Sodré, Rosane Borges, Flavio Gomes, Katiúscia Ribeiro, Rosana Paulino, Ana Flavia Magalhães, Renato Noguera, Alexya Salvador, Veronica Oliveira, Mônica Lima e Paco Gomes.
Encontros com o Cinema Africano
Novo conteúdo da programação do canal público, a série documental de Joel Zito Araújo busca refletir sobre estéticas e narrativas da sétima arte. A atração inédita revela a cena do cinema africano contemporâneo e traça um panorama sobre sua trajetória para o público brasileiro.
O seriado constrói essa narrativa ao acompanhar as viagens e as visitas feitas pelo cineasta a grandes diretores em diferentes países do continente. A produção exibida com exclusividade pela TV Brasil traz um papo do anfitrião com personalidades que fizeram história na sétima arte, ultrapassaram as fronteiras da África e conquistaram repercussão internacional. O primeiro convidado é o cineasta mauritano Abderrahmane Sissako.
Essas conversas de Joel Zito com diretores de vários países do continente são intercaladas com cenas dos filmes desses entrevistados. A série Encontros com o Cinema Africano também mostra trechos de outros longas mencionados que estão no contexto dos diálogos.
“Entendo essa série como um veículo de aproximação da riqueza e da diversidade do cinema africano, um grande ausente em nossas telas de cinema e TV, e na formação da grande maioria dos cineastas brasileiros e brasileiras”, explica Joel Zito.
A produção dedica dois programas para cineastas do continente que se tornaram grandes referências mundiais na direção, o etíope Haile Gerima e o mauritano Abderrahmane Sissako. Em três edições, a série contempla a lusofonia ao mergulhar no cinema de países que falam a língua portuguesa: Angola, Moçambique e Cabo Verde.
“Creio que o cinema, em seus diferentes gêneros, como as séries, é uma porta de entrada para conhecer a alma de um povo, de um país e até de um continente. ‘Encontros com o Cinema Africano’ também busca cumprir esse papel: aumentar o nosso conhecimento sobre a África através de sua história cinematográfica”, define o responsável pelo seriado.
Referência no cinema negro, Joel Zito fomenta o debate e a relação entre culturas. A obra que ganha primeira janela na TV Brasil busca, também, de forma indireta, mostrar os vínculos da sétima arte brasileira com o cinema realizado pelos africanos do continente e da diáspora.
Importância de Joel Zito
Diretor, roteirista e produtor, conhecido por tematizar o negro na sociedade brasileira, a obra de Joel Zito Araújo inclui o livro e filme “A Negação do Brasil” (2000), ganhador do Festival É Tudo Verdade no ano seguinte.
O cineasta fez os longas ficcionais “Filhas do Vento” (2005), ganhador do Festival de Tiradentes e de 8 Kikitos no Festival de Gramado, e “O Pai da Rita” (2022). Também realizou os docs “Cinderelas”, “Lobos e um Príncipe Encantado” (2009), “Raça” (2013) e “Meu Amigo Fela” (2019), com diversos reconhecimentos internacionais.
Os últimos trabalhos de Joel Zito foram as séries documentais “PCC – Poder Secreto” (2022), para a HBOMAX, e “A Ética do Silêncio” (2023), para o Canal Curta. Ele também conquistou outros prêmios como o de “Roteirista Homenageado de 2022” pela Associação Brasileira de Autores Roteiristas e o troféu “Eduardo Abelin”, no Festival de Gramado.
Valorização do conteúdo independente
Os seriados documentais Voz da Pele e Encontros com o Cinema Africano são apresentados pela TV Brasil todo sábado a partir das 23h, em sequência, com horário alternativo durante a madrugada, a partir das 4h. As produções são conteúdos audiovisuais selecionados pela linha de fomento do Fundo Setorial do Audiovisual (FSA), através do Prodav TVs Públicas.
A TV Brasil é um dos canais que mais exibe conteúdo independente nacional. Além de ser uma grande apoiadora da produção de atrações dessa natureza no mercado audiovisual do país, a emissora estimula novos realizadores.
Sobre o Prodav
O Prodav é uma parceria entre a Agência Nacional do Cinema (Ancine), o Banco Regional de Desenvolvimento do Extremo Sul (BRDE) e a Empresa Brasil de Comunicação (EBC) para incentivar a produção regional e independente.
A proposta é ofertar esse conteúdo para as emissoras públicas de televisão. A EBC distribui o material ao disponibilizar as obras para todos os canais de televisão do campo público que aderirem ao projeto.
Ao vivo e on demand
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Serviço
Encontros com o Cinema Africano – sábado, dia 9/11, às 23h30, na TV Brasil
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