Teatro :
“CONFIGURAÇÕES – O MANIFESTO”
Alguns assuntos e temáticas estão sendo amplamente exploradas atualmente por produções e/ou performances teatrais. Encontramos diversos textos discursivos colocados nas bocas de profissionais das Artes Cênicas, passando anteriormente por tratamentos dramatúrgicos e por uma “sintonia fina” para se adequar aos palcos e ao formato de obra artística.
A Arte que mais transmite é aquela feita em metáforas e por palavras não ditas, trazendo o subtexto à superfície através da interpretação e encenação, e revelando assim realidades sutis e muitas vezes perturbadoras que nos façam pensar.
Os assuntos abordados no espetáculo “Configurações – o manifesto”, realizado pela “Cia Contraste”, são além de relevantes, necessários.
Porém, um dos maiores problemas é o seu texto discursivo, mais íntimo ao manifesto que ao teatro. Sentimos falta de uma costura dramatúrgica mais coesa e mais fluída ao andamento cênico. Unir textos desconexos sem criar artifícios ou “pontes” não os tornam palatáveis, compreensíveis, nem teatrais.
Os personagens fazem parte de uma temática muito atual e muito realista, o que conta, obviamente, como ponto positivo para a montagem.
Na interpretação, que faz uma jornada parando pelos personagens que se modificam conforme o manifesto da vez, tem como ponto positivo a determinação pelo projeto e por levantar esse tipo de discursos, porém cada personagem deve ser construído, na arquitetura teatral, com degraus precisos na construção de gestuais, de fala, de expressão para realmente comunicar com o público.
Não vemos essa “arte final” no trabalho , e não é aquela invisibilidade que existe quando a técnica é tão dominada que chega a nos enganar. O que vemos é um esboço de domínio técnico.
No todo, é necessária uma mão mais assertiva na direção, com desenhos de cena mais grafados, com ritmo mais imposto, limpeza e clareza de concepção visual e na lapidação da mensagem a ser dita cena a cena (esse último item importantíssimo para melhor tradução da obra diante do olhar do público).
As ligações imprecisas entre uma cena e outra, cooperam para a falta de ritmo no espetáculo fazendo com que a atenção se perca em alguns momentos.
A exploração cenográfica é criativa e interessante, ocupando um espaço de não-teatro o que nos traz uma pitada documental o que é também reforçado com os textos em primeira pessoa.
Assisti duas apresentações e obviamente tivemos em uma mais acertos do que em outra. A sonoplastia tem um papel importante pois deveria criar poesia e auxiliar na comunicação do conteúdo teatral. Mas a sonoplastia pode se tornar uma armadilha quando entra fora do tempo ou com volume fora do ideal.
Um exemplo positivo de metáfora que auxilia à montagem é que em um dos dias, o momento sem palavras onde o ator abaixa a cabeça olhando para o celular (antes de começar o discurso da drag queen) e notamos que atrás dele , na parede, a imagem da personagem se repete como um close de introspecção, um súbito mergulho em seus dilemas. Momentos como esses poderiam se repetir para a felicidade de quem assiste.
O domínio da técnica teatral é fundamental para uma obra ter seu objetivo atingido com exatidão e assim então realizar o seu papel como obra artística de comunicar com qualidade.
Cotação: 🌟🌟 Regular
FICHA TÉCNICA
texto\Direção e atuação: Diego Summer
luz: Bruna Isumavut, Ivan Ricardo e Diego Summer
Participação: Xexeu Aguiar
Audio: Rony Roberto
videomaker : Davi da Paz e Leandro Jorge
Produção: Gabriel
Realização: Cia Contraste
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