Crédito: George Magaraia
Criado em 2016 pela atriz e pesquisadora mineira Danielle Anatólio, o trabalho recebeu o Prêmio Leda Maria Martins como espetáculo de longa duração em 2018 e agora estreia em São Paulo no Sesc Ipiranga
Com uma ampla pesquisa sobre a mulher negra como protagonista da cena e o corpo como vetor artístico, a atriz mineira Danielle Anatólio desenvolveu, em 2016, o solo Lótus. O trabalho foi criado a partir de uma estética afrodiaspórica e faz uma temporada em São Paulo, no auditório do Sesc Ipiranga, entre os dias 10 de maio e 2 de junho, às sextas-feiras, às 21h30, e, aos sábados e domingos, às 18h30.
“Neste espetáculo, falo não só das dores das mulheres pretas, mas também do lugar de superação, de transformação e de transcendência destas mulheres. Por isso, não abordo apenas a questão das violências e de todo o processo oriundo de um Brasil escravizado. Quero mostrar que podemos respirar, levantar a cabeça e nos colocarmos num ponto de amor-próprio dizendo basta, eu mereço ser amada, eu mereço ser a mulher da minha vida”, defende Danielle.
Na trama, a partir da pergunta-chave “O que você vê quando olha para uma mulher negra?”, o público encontra histórias tradicionalmente invisibilizadas pelo patriarcado subjacente. A peça resgata a beleza da vida em um contexto de solidão e hipersexualização, apontando caminhos de resistência para as mulheres.
Ressignificando o feminino
Em cena, ao longo de 60 minutos, os espectadores são confrontados com três figuras femininas: a ancestral, a erê (criança) e uma mulher preta contemporânea. “Essa personagem mais velha é a Ercília, que carrega tudo o que absorvi das mulheres mais experientes que cruzaram o meu caminho. A criança mostra um pouco do universo infantil: as inseguranças, os sonhos e os desejos, a baixa estima. Já a contemporânea é a personagem Carolina, que remete à escritora Carolina Maria de Jesus, e representa o empoderamento, a liberdade e autonomia feminina”, acrescenta.
Trata-se de um convite à reflexão sobre a afetividade nas relações e um chamado para a ressignificação do olhar sobre o sagrado feminino e o masculino. Todos esses elementos estão unidos pela linguagem da performance negra.
Um dos elementos fundamentais da narrativa é o altar criado para a montagem. Ele simboliza o contato com a espiritualidade, a solidão e a necessidade de uma rede de apoio para essas mulheres negras.
Para a preparação física, a artista-criadora utilizou a dança afro contemporânea. Ao mesmo tempo, a trilha sonora mescla a musicalidade afro-mineira, com os tambores do Congado Mineiro, e uma percussão ao vivo que toca o barravento de Iansã e o ijexá de Oxum.
“Nesses oito anos, Lótus percorreu quatro estados brasileiros e foi ganhando maturidade, fruto também do meu amadurecimento como artista. Musicalmente também crescemos muito. Faz quatro anos que trabalho com o percussionista Kaio Ventura, um grande conhecedor de ritmos afro-brasileiros”, comenta Anatólio.
Em 2018, a peça ganhou o Prêmio Leda Maria Martins como melhor espetáculo de longa duração. Quando surgiu, em 2017, na cidade de Belo Horizonte, essa premiação foi precursora ao valorizar exclusivamente as artes negras no Brasil.
Sobre Danielle Anatólio
Atriz e pesquisadora nascida em Minas Gerais, mestra em Artes Cênicas pela UNIRIO, pesquisadora de performances de mulheres negras. Sua pesquisa aprofunda as questões relativas ao corpo negro feminino, a mulher negra como protagonista da cena e o corpo como vetor artístico. Em sua pesquisa, ela aponta um contexto de solidão vivido pela mulher negra brasileira, bem como a hipersexualização dos corpos femininos.
Danielle é também idealizadora do CORPAS, Encontro de Performances de Mulheres Negras, em 2018 no Rio de Janeiro, e TACULAS, Fórum de Performances de Mulheres Negras, em 2019 em Minas Gerais.
Sinopse
Lótus é um espetáculo que tem como ponto de partida a poética feminina. É sobre mulheres que desejamos falar, em especial sobre a realidade afetiva das mulheres negras. Em cena, o universo de mulheres que trazem histórias que são invisibilizadas pelo patriarcado subjacente. A peça trata de amor, superação, beleza e vida, isto dentro de um contexto de hipersexualização dos corpos femininos, além de contar os caminhos que essas mulheres encontram para resistir e (re)existir. O espetáculo é um convite para refletir sobre a afetividade nas relações, um chamado para ressignificar o olhar sobre o sagrado feminino e masculino.
FICHA TÉCNICA
Concepção, direção e atuação: Danielle Anatólio
Produção: Ipê Baobá
Assistência de produção: Bia Pereira e Savina João
Percussão: Kaio Ventura
Designer de luz: Adriana Ortiz
Operação de luz: Dara Duarte
Designer gráfico: Amanda Nascimento
Fotografia: George Magaraia
Assessoria de imprensa: Canal Aberto – Márcia Marques e Daniele Valério
Figurino: Almir França
Mídias sociais: Gabriela Werneck
SERVIÇO
Lótus
Data: 10 de maio a 2 de junho de 2024, às sextas-feiras, às 21h30, e, aos sábados e domingos, às 18h30
Local: Auditório do Sesc Ipiranga – R. Bom Pastor, 822 – Ipiranga – São Paulo – SP
Ingresso: R$40 (inteira), R$20 (meia-entrada) e R$12 (credencial plena)
Link para a venda de ingressos: https://www.sescsp.org.br/
Classificação indicativa: 12 anos
Duração: 60 minutos
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