Crédito: Murilo Alvesso
Novo disco traz poemas de Carolina Maria de Jesus musicados pela cantora
Socorro Lira lança seu 16º álbum, intitulado “Dá-me as Rosas” – a poesia de Carolina Maria de Jesus na música de Socorro Lira”. Um singelo e dedicado tributo da cantora e compositora para a escritora, autora do clássico ‘Quarto de despejo”. O disco está disponível nas plataformas digitais. Os shows de lançamento começam em setembro. ▶https://tratore.ffm.to/dameasrosas
Os poemas de Carolina musicados por Socorro Lira são da obra “Antologia Pessoal” (de 1996). O disco traz onze faixas arranjadas pela violinista Cíntia Zanco, integrante e única arranjadora mulher da Orquestra Jazz Sinfônica de São Paulo, com participações especiais da cantora moçambicana Mingas, do trio paulistano Clarianas e de Célia Sampaio, a “dama” do reggae maranhense.
Musicalmente, Socorro buscou retratar na sonoridade também algo da própria Carolina, trazer a elegância da escritora. E, foi o que Cíntia, como arranjadora de orquestra, trouxe ao álbum: arranjos camerísticos mas contemplando gêneros tradicionais, os batuques brasileiros e afro-brasileiros. A mistura de cordas e percussão, em ritmos como jongo, samba e coco, entre outros, com destaque para a canção.
“O álbum está belíssimo, modéstia à parte, e estou muito feliz com o resultado. Dá-me as Rosas é bonito, é forte, por tudo e por todas que ele reúne. Os arranjos de Cíntia são arrebatadores, eu a conheci há muito tempo e só agora convidei para fazer um trabalho – e isso me causa espanto. Cadê nosso olhar para as realizadoras grandiosas que estão do nosso lado, não é mesmo? Corrigi-me. Queria um disco elegante, como Carolina. No mesmo lugar o popular e aquilo que se diz erudito; que com as cordas e tambores atingimos exatamente o que buscava. Agradeço pela oportunidade de tê-lo organizado aqui e agora. No mínimo, Dá-me as Rosas ficará no lugar reservado às Carolinas, Firminas e tantas outras pessoas que, como eu, não estão exatamente nos destaques da indústria cultural, mas conhecem a paisagem do caminho”, compartilha Socorro Lira.
Pela poesia de Carolina, alguns temas se recortam no repertório do disco. A crítica ao racismo e desigualdade social, destacada na música “Os feijões”, uma das preferidas de Socorro, onde a autora usa uma metáfora perfeita para falar do preconceito racial, da segregação. O amor, do ponto de vista das relações, presente em “Prisão de amor”, e a natureza descrita com esplendor em “Trinado”, sobre os passarinhos.
Carolina Maria de Jesus era uma mulher negra, que teve acesso a uma formação escolar básica apenas, e se tornou escritora, compositora, cantora e poeta. Além de escrever para registrar suas impressões sobre seu cotidiano, trabalhou como catadora de material reciclado em uma época em que esses materiais eram chamados de lixo. A mineira viveu no bairro do Canindé, em São Paulo, e se tornou conhecida por seu primeiro livro ‘Quarto de despejo: diário de uma favelada’, publicado em 1960. Uma das obras mais marcantes da literatura brasileira, com cerca de 3 milhões de exemplares vendidos, em 16 idiomas. Carolina figura como uma das escritoras mais lidas do Brasil.
Socorro comenta sobre a escolha da escritora: “Principalmente por ser a autora que ela é, grandiosa, também por ter ficado, como poeta e escritora, no lugar que sempre reservaram às mulheres, principalmente negras e de pouco poder aquisitivo. Carolina é imensa, um nome excepcional na literatura brasileira e, ainda assim, quase apagado, desconsiderado. E ela nasceu num contexto de desigualdade e injustiça social, exatamente para a gente botar o olhar sobre esse lugar por outra perspectiva, da dignidade humana, da genialidade que as pessoas têm, independentemente do lugar que elas nascem”.
Este disco faz parte do projeto AvivaVOZ, idealizado por Socorro Lira, Maria Valéria Rezende e Susana Ventura. Carolina é uma das dez escritoras-poetas selecionadas para compor o projeto, que já teve dois lançamentos: “Cantos à Beira-mar”, com a poesia de Maria Firmina dos Reis e Noturno, com Ruth Guimarães, ambos na música de Socorro Lira e disponíveis nos aplicativos de música.
A turnê de lançamento “Dá-me as Rosas” inicia por show em São Paulo, no dia 7 de setembro no Sesc 14 Bis. Na sequência, segue agenda para outras localidades como Campinas e Mairiporã, cidades já com datas confirmadas.
Em forma de música, Socorro busca ampliar as possibilidades de trazer à tona e evidenciar essas vozes esquecidas ou apagadas do universo literário brasileiro.
Projeto viabilizado por meio do ProAC edital, produção Liraprocult, realização CultSP, Secretaria de Cultura, Economia e Indústria Criativas do Estado de São Paulo e Governo do Estado de São Paulo.
Agenda
07/09 – Sesc 14 Bis (São Paulo), 18h
12/09 – CEU Carrão – Carolina Maria de Jesus (São Paulo), 20h
13/09 – Centro Cultural Casarão (Campinas), 20h
14/09 – Teatro Contadores de Mentira (Mairiporã), 20h
21/09 – Conversa com a Vera Eunice, filha da Carolina Maria de Jesus (SP, Largo do Paiçandu, Igreja Nossa Senhora do Rosário dos Homens Pretos)
Dá-me as Rosas – Faixa a Faixa
- Os feijões (participação de Célia Sampaio)
- Dá-me as Rosas
- Trinado (participação de Mingas)
- Súplica de amor
- Prisão de amor
- Inspiração
7. Noites de São João - As aves (participação de Clarianas)
- O prisioneiro
10. O turco e o lampião - Hipocrisia
Ficha Técnica
Dá-me as Rosas – a poesia de Carolina Maria de Jesus na música de Socorro Lira
Lançamento: 2024
Faixas: 11
Letras: Carolina Maria de Jesus
Direção artística e de produção, melodia e voz: Socorro Lira
Direção musical e arranjos: Cintia Zanco
Participações especiais, vozes: Célia Sampaio, Clarianas e Mingas
Músicos/as convidados/as:
André Rass: percussão (congas, guaiá, atabaque candongueiro, tambú, tubular, cajón, wood block, shaker e cymbal)
Aline Gonçalves: flauta, clarone e clarinete
Cássia Maria: percussão (prato com faca, palmas, pandeiro, tambor de mão, sino prato, cajon, tamborim, cuíca, chocalho, pandeiro, ovo e zabumba)
Clara Bastos: contrabaixo
Cintia Zanco: violino
Decio Gioielli: kalimba
Gê Côrtes: contrabaixo acústico
Giovanni Matarazzo: violão
Gilson Machado: bateria
Jefferson Rodrigues: sax alto
Mariô Rebouças: piano
Nelson Rios: violino
Paulo Dias: órgão de tubo
Rafael Cesário: violoncelo
Ricardo Vignini: viola caipira
Tatiana Mesquita: oboé e corne inglês
Coro: Fabricio Mascate, Alldry Eloise, Jaque da Silva
Mixagem: Ricardo Vignini
Masterização: Homero Lotito
Fotografias e direção audiovisual: Murilo Alvesso
Produção fotográfica: Ester Dias
Visagismo: O Dutra
Arte da capa: Maury Cattermol
Figurinos: ByAna Brasil
Tradução de Trinado para Xitswa: Natália Chamusso
Pesquisa literária projeto AvivaVOZ: Maria Valéria Rezende e Susana Ventura
Produção: Suelen Garcez
Gestora de projeto: Tokinha Cruz
Produção executiva: Liraprocult
Conheça mais sobre Socorro Lira
Socorro Lira tem 22 anos de carreira na música. Nasceu na Paraíba e vive em São Paulo desde 2004. Compositora, cantora, escritora e produtora cultural, sua discografia inclui agora 16 álbuns, 1 DVD e vários singles lançados. Entre suas parcerias, estão nomes como Chico César, Jorge Ribbas, Ná Ozzetti, Ricardo Vignini, Swami Jr. e Zélia Duncan. Foi premiada como melhor cantora regional (2012) no Prêmio da Música Brasileira, sendo indicada, em 2016 e 2017, na mesma categoria.
Na literatura, seu lançamento mais recente é o romance Falar dos Meus Amores Invisíveis (2020). Como produtora, criou vários projetos culturais, como o Espaço Mata Branca em sua cidade natal, Brejo do Cruz, Paraíba, e o Prêmio Grão de Música, que destaca a canção de um Brasil com pouca visibilidade comercial.
A artista faz do seu trabalho uma plataforma para projetos que reivindicam espaço para as vozes das mulheres. Entre os anos de 2017 e 2018, Socorro Lira musicou cento e dois (102) poemas de dez escritoras brasileiras, são mulheres que viveram, escreveram e publicaram entre os séculos XVIII e XX no Brasil, deixando um importante legado, mas ainda pouco ou nada reconhecido, pela crítica e pelo público em geral.
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