Fotografia considerada fiel aos traços de Machado de Assis. Crédito: Wikimedia Commons
Machado de Assis, um dos maiores escritores da literatura brasileira, é conhecido por sua capacidade de revelar as camadas mais profundas e complexas da sociedade brasileira de sua época. Em suas obras, Machado de Assis apresenta uma visão crítica e perspicaz da realidade do Brasil do século XIX, explorando temas como a desigualdade social, a hipocrisia da elite, e a marginalização dos mais vulneráveis.
Ao ler Machado de Assis, somos convidados a mergulhar em um Brasil de contrastes e contradições, onde os invisíveis ganham voz e protagonismo.
Os invisíveis da sociedade brasileira são como sombras que perpassam nosso dia a dia, seres que habitam os cantos mais escuros e silenciosos de nossa realidade, mas que carregam consigo histórias, dores e lutas que muitas vezes passam despercebidas aos olhos da maioria. São aqueles que vivem à margem, sem voz, sem vez, sem direitos, mas que resistem, sobrevivem e buscam, incansavelmente, seu lugar ao sol.
São os rostos anônimos que cruzamos nas ruas, nos transportes públicos, nos hospitais, nas filas de emprego, pessoas que carregam nos ombros o peso da exclusão, da discriminação, da desigualdade. São os trabalhadores informais que se espremem nos transportes lotados, os moradores de rua que buscam abrigo onde podem, os jovens negros que são vistos como ameaça, as mulheres que sofrem com a violência e o machismo estrutural, os idosos esquecidos em asilos precários, os indígenas e quilombolas que lutam pela preservação de suas culturas e territórios, os que enfrentam o preconceito e a intolerância.
Vidas marcadas pela invisibilidade, pela falta de oportunidades, pela ausência de políticas públicas efetivas, que os relegam à margem da sociedade, à condição de cidadãos de segunda classe. Mas, apesar de tudo, os invisíveis resistem, lutam, inspiram. São sementes de esperança que, mesmo sob a sombra da exclusão, mostram que a dignidade, a solidariedade, a empatia e a força de vontade são valores que transcendem as barreiras da invisibilidade.
O autor apresenta personagens e situações que revelam as nuances e as sombras de uma sociedade dividida entre opressores e oprimidos, entre privilegiados e marginalizados.
Em obras como “Dom Casmurro”, “Memórias Póstumas de Brás Cubas” e “Quincas Borba”, Machado de Assis aborda questões como a solidão, a loucura, a hipocrisia, e a busca por reconhecimento e pertencimento. Em seus personagens, encontramos os invisíveis da sociedade brasileira, aqueles que vivem à margem, que lutam por dignidade e visibilidade, mas que muitas vezes são ignorados e silenciados.
Machado de Assis nos convida a enxergar para além das aparências, a questionar as estruturas de poder e a explorar as contradições e os paradoxos de uma sociedade marcada pela desigualdade e pela injustiça. Ele nos mostra que, para compreender verdadeiramente o Brasil e sua complexidade, é preciso dar voz aos invisíveis, aos excluídos, aos que vivem nas sombras da sociedade, mas que carregam consigo histórias e vivências igualmente válidas e significativas.
Assim, ao ler Machado de Assis, descobrimos um Brasil dos invisíveis, um Brasil que pulsa nas entrelinhas de suas obras, um Brasil de múltiplas vozes e realidades, que nos desafia a refletir, a questionar e a buscar uma sociedade mais justa e inclusiva para todos os seus cidadãos.
Sobre o autor: Denilson de Paula Costa, é especialista em história cultural, membro da academia militar e coautor do livro “Encontros com a história e a cultura africana e afro-brasileira”.
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