Quando perguntada como era sua relação no ITA a Dra Sonia Guimarães foi categórica, “Eles me odeiam”, isto causou perplexidade no entrevistador pela coragem, clareza e objetividade da colocação, e ela passa a explicar coisas que conseguimos compreender perfeitamente, pois muitos de nós pretos e pretas, em níveis diferentes evidentemente, passamos pela mesma situação, e a única forma que ela vê de encarar a situação, é que é uma mulher preta, primeira doutora em física, professora em um dos níveis mais elevados de física na sua área, e que eles teriam que aguentá-la. O riso da platéia foi geral, quase que num desabafo, o que não torna menos constrangedor o exposto pela situação. Não obstante o prof. e ministro dos Direitos Humanos e Cidadania Silvio Almeida relatou sua situação e condição, revelando todos os seus títulos, o seu cabedal de conhecimento e preparo na área jurídica, sendo professor, doutor e mestre, que quanto mais e melhor se apura e se prepara, mais raiva, questionamentos e ódio atrai para sua pessoa, o que tristemente nos revela que pessoas pretas não podem, na concepção de alguns, ser boas e não serem bem vindas em ambientes de alto nível exatamente por isto.
O nosso país e forjado sob a ignorância de uma classe dominante e uma classe média canina, que a segue em valores e anseios, que por vezes são mais conservadores e arraigados que a própria classe dominante que a influencia. Vivemos num pais onde o racismo estrutural e institucional edifica e arrima um dos piores pactos de branquitude que o o mundo possa ter o demérito de assistir. Este pacto narcísico faz com que a sociedade fique refém de valores coloniais, e os piores artifícios, artimanhas e “legalismos” que possam manter seus privilégios e sua posição de poder dentro de uma sociedade, que o mínimo que se pode dizer é que é a mais racista das racistas sociedade modernas. E não é à toa que foi a última a abolir a escravatura, sendo que algumas cidades como Campinas e outras da região, influenciadas por americanos derrotados da guerra de cesseção americana, ainda resistiram a nova ordem mundial de combate a escravidão. E é nesta deformação de conceitos que encontramos na nossa sociedade a resistência e a recalcitrancia à tudo o que possa estar contra seus valores distorcidos, e que gera verdadeira psicopatia na defesa destes valores enviesados.
Sempre coloquei que uma das atitudes mais odiosas contra os governos Lula e Dilma foi a regulamentação das normas para a empregabilidade de funcionárias domésticos, mulheres pretas em sua grande maioria, dada a exclusão e a visibilidade destas pessoas dentro da nossa sociedade, creio que podemos afirmar que arrancar estas pessoas, resquício do jugo escravagista, foi às pessoas deste governo uma decretação de sentença de crime perpétuo e inafiançável, pois mexeu diretamente com uns dos resquícios fundamentais da escravidão colonial que visita a mente da branquitude e seus privilégios. Nada mais cruel e revelador de um país que à cada 23 minutos assiste a morte de um jovem pretos e onde uma pessoa preta tem mais de 80% de possibilidades de ser morta, que uma pessoa branca.
Um dos piores resquícios reveladores desta sociedade adoecida e violenta pela branquitude e seus privilégios é o que temos assistido em relação aos entregadores de aplicativos e servidores de limpeza e portarias, parece que por ocuparem o lugar visto pelos agressores como o mais baixo dentro da escala de humanidades, estes estivessem sujeitos à todo tipo de desmandos e atrocidades.
Temos assistido indignados violências físicas, violência com armas de fogo, e os tratamentos mais degradante, covardes e desumanos, sendo estes funcionários ou prestadores de serviço em sua maioria preta, parece que são vistos como escravos deste sistema racista, covarde e de sujeição total para exercício da branquitude racista e colonial. Estas cenas que tem nos chegado pela mídia revelam pessoas adoecidas, com valores distorcidos, e que expõem as piores violações de direito, daqueles que eles acham que não tem direito algum, exatamente por estar na posição que estão colocadas pelos seus privilégios oriundos do racismo estrutura e institucional.
Temos que diuturnamente combater esta aberrações e atrocidades de todas as formas que pudermos e que estiverem à nosso alcance, pois trata-se de defender a humanidade daqueles, que querem desumanizados e submetidos à toda e qualquer atrocidade oriunda destes psicopatas e desta sociedade adoecida.
Neste momento de resistência temos que nos mirar nos exemplos de pessoas como: Dra. Sonia Guimarães, Ministro Silvio de Abreu, Mestre Miltão e Dona Regina – M.N.U., Flavinho do CONEN, Dona Sueli Carneiro – GELEDES, Lélia Gonzales, Conceição Evaristo, à memória dos professores Milton Santos, Abdias do Nascimento, Luiza Mahim, Luiz Gama, e tantas outras excelentes referências que nossa história de luta remonta e nos formata para o enfrentamento desta, que é a história de um dos países mais racistas e resistentes à evolução do povo preto que se tem notícia.
Temos que estar preparados, pois o pacto da branquitude ancorado no racismo estrutural e institucional está sempre nos testando e espreitando, ciosa cadela do fascismo que é.
HAROLDO OLIVEIRA é produtor musical, compositor, CEO do ZOG Studio e militantes das causas pretas e humanitárias através do Portal Afro.
Deixe um Comentário
Você deve logar para comentar