Chegamos em uma manhã de domingo, 02 Julho 2033, por volta de 11h00 da manhã, transportados pela generosidade, força e simpatia do balseiro Vanderlei.
Sua atenção e audição latente nos ouviu chegar de carro! A parada repentina e, agora como atravessamos este rio à frente?
Com toda a maestria de anos na vida e com a balsa, cada movimento articulado e sincronizado a trazem para a outra margem do rio Ribeira do Iguape. Embarcamos com o carro e fomos em pé apreciando a paisagem. Passagem acompanhada da primeira de várias entrevistas e relatos gravados no decorrer de nossa visita ao Quilombo São Pedro, um local hospitaleiro, de acolhida e de reciprocidade com quem lá chega. Todas e todos que passavam por nós abriam um sorriso ou uma mão estendida para o aperto e cumprimento.
A 93° festa de São Pedro, padroeiro da Comunidade Remanescente de Quilombo São Pedro, na região do Vale do Ribeira – município de Eldorado/SP, começa no dia 29 de Junho, com a procissão, missa e hasteamento do mastro na entrada da igreja. Seu espaço com o andor do santo pescador de homens, em seu barco e, adornado com flores e a representatividade católica e tradicional com o peixe e sua rede, a chave das portas do céu, a banana como fruto nativo e de sustento das famílias e, a bíblia como mensagem de fé e esperança a todos que lá habitam e passam na capela com os festejos.
A festa ainda não estava em vias de começar, mas o Santo Padroeiro estava pronto para nos receber e a igreja aberta para receber os fiéis, devotos e atender aos seus pedidos.
Em seguida, a música no Centro Comunitário do território inicia os festejos com o término da partida ou do babá no campo de futebol ⚽, entre o time local e a comunidade Quilombola de Nhunguara.
Somos convidados a conhecer o forno de barro datado de mais de um século, em que são preparados de véspera os frangos doados e recebidos pela comunidade para a comercialização na festa.
O trabalho começa na noite anterior ou de madrugada para que no almoço, os pratos já estejam em vias de finalização para os participantes.
O bingo também é um dos pontos chave da festa, como a música, a comida (frango , churrasco, aperitivos e bebidas). O mais interessante é que mesmo não tendo a sorte de marcar uma pontuação maior com o terno, quina ou cartela cheia, eles recolhem no palco todas as rodadas realizadas e, a pessoa sorteada na sacola azul tem a chance de ganhar um prêmio simbólico. Isso já demonstra a preocupação e a empatia com quem os visita, que está presente em cada olhar, movimento ou gesto quando passa entre as pessoas e os presentes na festa.
Uma grande família em comunhão que está aberta a receber os visitantes como uma parceira de apoio, preservação e de auxílio para defender a tradição da festa, da ancestralidade e da importância em manter viva e acesa a chama da fogueira de São Pedro.
No ano de 2023 realizam uma nova jornada e experiência, transferindo a festa que anteriormente acontecia da noite de sábado até a madrugada do domingo, para o horário a tarde /noite de domingo, com o almoço ou aperitivos, as rodadas constantes do bingo, a capoeira e a fogueira sendo acessa as 20h00 e, depois continuando com a festa e bandas ao vivo.
Autoria: Lilian Soares, 04.07.2023 às 10h15
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Sobre Lilian Soares
Meu nome é Lilian Soares, uma mulher que se (re)conheceu negra com a vivência no território da Bahia, onde experenciou não só a vida acadêmica com o Mestrado em História da África, da Diáspora e dos Povos Indígenas, mas a possibilidade de pesquisar sobre os Territorios Negros e suas histórias na perspectiva da oralidade, da vivência e da convivência com a comunidade.
Iniciando suas pesquisas em São Paulo com o turismo étnico afro na graduação de Gestão em Turismo, hoje chamado de Afroturismo, perpassando no Mestrado para Comunidade Remanescente de Quilombo e, agora no Doutorado em Educação, Arte e História da Cultura percebe que para além de estudar, pesquisar e compreender as narrativas do coletivo e dos indivíduos em seu caminho, também pode construir a trajetória de sua ancestralidade negra gaúcha.
Com relação às experiências profissionais exerce a função de Professora da Educação Básica, com turmas de 4 a 5 anos de idade e, que vê nessas crianças o futuro de toda a nossa ação hoje e do presente para a formação de um indivíduo consciente de sua história, dos seus antepassados, da sua cultura, da sua identidade e da territorialidade que habita os seus corpos.
Currículo Lattes: http://lattes.cnpq.br/7265091945630944
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