CRÍTICA TEATRAL : teatro infantil
ESPETÁCULO: “O GATO DE BOTAS”
Ao nos dirigirmos ao teatro “Dr Botica” dentro de um shopping Center em São Paulo, imaginamos que encontraríamos uma sala de teatro impessoal e encaixada friamente dentro do prédio comercial, como todas as lojas e espaços que se encontram no interior desse tipo de empreendimento, porém, nos deparamos com uma agradável sala com assentos multi coloridos e uma decoração que nos encanta, aquece e nos leva a um lúdico universo infantil.
Assim também é o espetáculo “O Gato de Botas” que dialoga bem com o espaço onde acontece, sendo: descompromissado, leve, alegre e um qualificado entretenimento entusiasmante da plateia presente.
Já no início o elenco entrega as cartas que serão usadas nesse jogo teatral: a concepção flerta com a linguagem de clown para introduzir os espectadores na história clássica de Charles Perrault, trazendo dois atores que encarnam palhaços que se vêm diante do drama de um circo prestes a fechar, refletido uma sociedade na qual momentos singelos de alegria e diversão podem estar desaparecendo.
É inteligente a trama desenvolvida no texto, que explora o clássico infantil, o transportando para um “outro lugar” para abordar problemas mais relevantes à nossa atualidade.
A versatilidade dos atores em cena, principalmente de Rodrigo Ximarelli numa alucinante troca de personagens, é o maior destaque na montagem. Quem dá o rumo e capitaneia esse navio são os atores. São deles o total domínio do andamento do espetáculo e da tomada da atenção da plateia. A brincadeira do faz de conta é encarnada com propriedade e divertidamente prende o olhar do público.
O gato de Lucas Barbugiani é sedutor com seus movimentos circulares e dançantes, envolvendo / enlaçando o olhar da plateia infantil.
A linguagem corporal clownesca poderia ser mais minuciosa e detalhada, deixando mais claras as mudanças de palhaços brincantes para personagens da fábula, mas isso é mais uma escolha estética do que um defeito a ser apontado. A opção por assumir o jogo teatral como o “norte” da encenação a deixa leve e sem compromisso de possuir qualquer desenho cênico ou gestual mais minucioso. A palavra de ordem nessa montagem é BRINCAR e quanto a isso a montagem cumpre o que se propõe.
O cuidado com a velocidade e a forma que se dá o texto deve ser maior, pois o ritmo acelerado, faz o público perder em alguns momentos o entendimento de parte do texto perdendo o “time” cômico de algumas piadas.
O teatro atual é em sua maioria construído (devido em muito a crise financeira das produções artísticas) com caracterizações óbvias e baratas como: figurinos total black e faces alvas mergulhadas em pancake branco. Os atores da “Evoé Cia de Teatro” pintam um quadro com bons pincéis e tintas criativas que combinam com a sala de teatro em que estão. A makeup é assinada pelo visagista Gil Oliveira que mesmo diante da criação de personagens palhaços e atores que precisam ser “coringas”, foge da obviedade e vai muito além da máscara branca e nariz vermelho. As belas cores sobre a base sugerem e reforçam a brincadeira e a busca pela felicidade presentes em toda a montagem ao mesmo tempo que cria uma tela onde os personagens podem se desenvolver.
O cenário e figurinos entrelaçados por improvisos espontâneos em diversos momentos, completam a intenção farsesca nos levando à uma eficiente diversão com conteúdo.
Se a intenção é espalhar leveza e alegria acompanhadas de um tema que faça pensar, o objetivo foi traçado e atingido pela “Evoé”.
A plateia agradece a magia da diversão educativa do teatro.
avaliação: ⭐⭐⭐⭐ ótimo
FICHA TÉCNICA
Texto e Direção Rodrigo Ximarelli
Elenco Lucas Barbugiani e Rodrigo Ximarelli
Desenho de Luz: Rodrigo Ximarelli
Técnico de Som e Luz: Carlos Marroco
Sonoplastia Rodrigo Ximarelli
Cenografia Rodrigo Ximarelli
Figurinos Dimas Stecca
Visagismo Gil Oliveira
Coreografia: Lucas Barbugiani
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