CRÍTICA TEATRAL
ESPETÁCULO: “CRIA”
Ao iniciar o espetáculo pensamos que talvez nos depararemos com um show de dança que homenageia e representa a cultura das periferias, principalmente o universo funk. Surge aí um receio em lidarmos com um daqueles produtos da “moda” da atualidade onde os discursos e formatos se repetem sem nenhuma autenticidade nem novidade.
A cia “Suave” nos arrebata aos poucos, mostrando, ao contrário do esperado, um espetáculo de muita personalidade e relevância.
O elenco está muito bem sintonizado com a temática e com a proposta coreográfica, não somente por fazer parte da vivência individual dos dançarinos, mas também por que é evidente a pesquisa e estudos em torno de técnicas e estilos. Podemos identificar diversos estilos de dança como street dance, influências afro, vogue, bate cabelo e o tão comum funk com a tal dança popular dos passinhos.
Os dançarinos revelam e brilham seu talento durante os números. O humor e a diversão tão características do dia-a-dia juvenil estão sempre presentes.
Muitos momentos coreográficos incendeiam a plateia, aliados sempre a adequada trilha sonora e a ótima coreografia (o ponto positivo mais alto).
Os cenários inexistentes dão mais enfoque para a crueza das coreografias e a luz bem marcada auxilia no foco de cena aos performers.
O único porém que nos deixa a dúvida se deveriam existir no roteiro são as cenas de interpretação com micro falas. O humor dessas cenas em “Cria” mostra-se desnecessário pois faz cair o ritmo do espetáculo e é formado por piadas de apelo fácil.
No total o espetáculo é muito positivo. Expõe com precisão o comportamento cultural das periferias e do povo preto dos guetos, dando oportunidade para a cultura marginalizada ocupar seu lugar mais do que merecido no mainstream. Que tenhamos mais obras artísticas que espelhem nossa população com todas suas nuances e tipos. O elenco genuinamente popular auxilia na transmissão da representação de um povo que costuma não ter vez e / ou ocupa um espaço ínfimo nas produções artísticas.Torçamos para que a “Cia Suave” represente mais vezes a cultura diversificada e principalmente com grandes influências da cultura negra, pelo mundo, através de mais festivais internacionais, como nessa apresentação do MIT-SP (Mostra Internacional de Teatro de São Paulo).
Avaliação: ⭐️⭐️⭐️⭐️ Ótimo
Direção: Alice Ripoll
Interpretação: Tiobil Dançarino Brabo, Kinho JP, VN Dançarino Brabo, Nyandra Fernandes, May Eassy, Rômulo Galvão, Sanderson BDD, Thamires
Candida, GB Dançarino Brabo, Ronald Sheik
Assistência de direção e operação de som: Alan Ferreira
Produção: Rafael Fernandes
Iluminação: Andréa Capella
Figurino: Raquel Theo
Direção musical de funk: DJ Pop Andrade
Design gráfico: Caick Carvalho
Fotos e vídeo: Renato Mangolin
Apoio: Centro Coreográfico da Cidade do Rio de Janeiro
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