O preconceito linguístico é um fenômeno no qual determinadas formas de falar ou de utilizar a linguagem são estigmatizadas e consideradas inferiores ou inadequadas. Isso pode acontecer de diferentes formas, como por exemplo, quando uma variedade linguística é desvalorizada em relação a outra, quando se faz piadas ou discriminações com base no modo de falar de alguém, ou quando se impõe uma norma linguística como a única correta.
É importante destacar que todas as formas de linguagem são igualmente válidas e expressam a diversidade cultural e social dos falantes. Não há uma única forma correta de se expressar, pois cada região, grupo social ou comunidade possui suas próprias características linguísticas.
Combater o preconceito linguístico é fundamental para promover a inclusão e o respeito à diversidade linguística. Todos têm o direito de se expressar da maneira que se sentem confortáveis, sem serem julgados ou discriminados por isso. É importante valorizar e respeitar todas as formas de falar, reconhecendo a riqueza e a importância da diversidade linguística.
Em uma pequena vila no interior, viviam dois jovens chamados Pedro e João. Pedro era filho de um comerciante local e frequentava a escola na cidade próxima, onde aprendia a língua padrão com sotaque neutro. João, por sua vez, morava na vila e trabalhava com seu pai na plantação, falando com um sotaque carregado e utilizando expressões típicas da região.
Apesar de serem amigos desde a infância, Pedro e João começaram a perceber que suas diferenças linguísticas geravam comentários e olhares de desaprovação por parte de alguns moradores da vila. O sotaque e as expressões locais de João eram frequentemente considerados inferiores e inadequados em comparação com a fala mais “correta” de Pedro.
Certa vez, durante uma festa na vila, Pedro e João foram convidados a participar de um concurso de declamação de poesias. Pedro escolheu um poema clássico e recitou com eloquência e precisão, arrancando aplausos da plateia. Quando chegou a vez de João, ele escolheu um poema regional e o recitou com emoção e autenticidade, mas notou olhares de desdém por parte de alguns presentes.
Apesar de terem performances distintas, ambos os jovens demonstraram talento e sensibilidade na arte da poesia. No entanto, o preconceito linguístico e cultural presente na vila acabou por influenciar na decisão dos jurados, que deram a vitória a Pedro, considerando sua fala mais “adequada” e “educada”.
Ao perceber a injustiça sofrida por João, Pedro decidiu confrontar os preconceitos linguísticos e valorizar a diversidade de sotaques e expressões dentro da comunidade. Ele organizou uma série de atividades culturais que celebravam a riqueza da língua regional e convidou João a participar ativamente, reconhecendo sua contribuição e talento.
Com o apoio de Pedro e a conscientização promovida pelas atividades culturais, os moradores da vila passaram a valorizar e respeitar a diversidade linguística e cultural presente em seu meio. Pedro e João, unidos pela amizade e pelo respeito mútuo, mostraram que a verdadeira riqueza de uma comunidade está em sua pluralidade e na aceitação de suas diferenças.
Sobre o autor: Denilson de Paula Costa, é especialista em história cultural, membro da academia militar e coautor do livro “Encontros com a história e a cultura africana e afro-brasileira”.
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