PORQUE O OXÉ DE XANGÔ E NÃO A CRUZ CRISTÃ DEVERIAM ESTAR NAS REPARTIÇÕES DA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA SE O BRASIL FOSSE UM PAÍS SÉRIO E RESPEITASSE SUA PRÓPRIA HISTÓRIA E FÔSSEMOS UMA SOCIEDADE DESCOLONIZADA. ( POR TÓPICOS )
1- A Cruz Cristã é um símbolo religioso que remete a valores e uma moral religiosa cristã (somente isso) o que vai contra os princípios da Constituição de 1988 que declara mantém a declaração que o país é laico e assim suas instituições não podem privilegiar nenhuma religião, desta forma Bíblias e pregações evangélicas por professores, Música Gospel em Eventos e Pai Nossos não podem estar presentes na Escola Pública, como já presenciei e fui perseguido como professor por recusar-me a ser conivente com tais práticas .
2- Já o Oxé de Xangô, ainda que seja usado como instrumento na religião afro brasileira e africana, representa em si as dinâmicas sociais das sociedades da África Negra, de manter o tradicional e ressignificar o novo, a relação entre povos autóctones e invasores destes que herdamos em nosso país ( que também determina a nossa relação com os povos que aqui vieram estabelecer-se em suas diásporas pelo Mundo), assim como os seus valores identitários e civilizatórios como a dialética africana e o duplo ( para mais informações remetam-se ao meu livro clássico do Renascimento Africano ” Antropologia dos Orixás” nos capítulos de Exu, Oxumaré e Xangô. Desta forma o Oxé é um símbolo destes valores civilizatórios e dinâmicas sociais herdados de nossos ancestrais africanos em nosso processo de formação identitária e civilizatória, de um país de 80 porcento de cidadãos afrodescendentes ( ainda que somente 56% se declare como tal, o que já é maioria).
3- Dessa forma podemos afirmar que nossa sociedade e nossas instituições ainda são extremamente racistas e colonizadas ao não reconhecerem o símbolo das dinâmicas sociais e valores identitários e culturais africanos que nos influenciaram e formaram que estão presente no Oxé de Xangô reconhecerem o símbolo puramente religioso do colonizador, de uma Igreja que interpretou seu livro Sagrado para justificar que nós descendentes de africanos, nascemos negros por sermos filhos do Pecado de Cam ( filho de Noé ) e nossa servidão no processo de escravização era algo justo, avalizando-a e justificando-a o que lhe rendeu 10% do ganho de todo tráfico negreiro e da escravidão em nosso país por 4 séculos e que ainda que o Papa peça perdão não é o suficiente, pois este nosso sangue e sofrimento estão ainda presentes no ouro do Vaticano e o patrimônio da Igreja Católica ainda nos dias de hoje, e nenhuma reparação foi feita. Hoje este livro ainda é interpretado pela maior parte dos evangélicos e muitos católicos conservadores ou mesmo não para demonizar nossos ancestrais mitos e valores civilizatórios africanos patrimônios identitários e culturais nacionais justificando-os na Liberdade de Expressão Religiosa sem que o Estado interfira ainda que estes nossos mitos ancestrais e valores civilizatórios africanos estejam além da dimensão religiosa, mas sendo também patrimônio cultural e identitário do Estado que deveria defendê-los. Tudo isso com o intuito de fazer com que nossa população negra cristã venha até mesmo a odiar recusar seus próprios valores e patrimônio cultural ancestrais , impedindo o fortalecimento de uma consciência Negra no país que traga a transformação efetiva de relações de hegemonia cultural e consequentemente transformações nas relações sociais, mantendo desta forma o privilégio da população branca no país ainda que apliquem-se ações afirmativas em favor dos afrodescendentes.
4- Não se trata de converter ninguém da população negra às práticas religiosas de matrizes africanas, pois não estou tratando estes símbolos e mitos (como o Oxé e os Orixás) na sua dimensão religiosa, mas sim em suas dimensões sociológicas e pedagógicas e sobretudo civilizatórias ( como explico bem no meu Livro Antropologia dos Orixás, baseado em Joseph Campbell, o maior mitólogo do século XX). A questão passa pelo reconhecimento Institucional por nosso Estado Nacional destes símbolos, mitos e valores civilizatórios como o patrimônio cultural e identitário que tem igualmente seu papel central em nossa formação identitária e cultural nacionais sem interferência de justificativas de cunho religioso, pois não trata-se desta dimensão a defesa destes mitos e valores civilizatórios de matrizes africanas, e que se isso não ocorre, isso se dá devido a manutenção dos privilégios de nossa elite financeira e cultural atuais majoritariamente branca ( ao menos autodeclarada desta forma).
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