Com que frequência você pensa no futuro?
E, quando pensa… como imagina as pessoas das suas futuras relações? E das suas futuras relações de trabalho?
Como imagina suas futuras lideranças? Como imagina suas professoras e professores dos cursos de pós-graduação, mestrado e doutorado que você fará?
Como imagina a médica que vai te atender na sua próxima consulta? Como imagina a equipe médica dos filhos que deseja ter? E o arquiteto que contratará para reformar seu apartamento?
Como imagina os próximos e próximas Presidentes da República? Os vereadores de sua cidade, as deputadas federais? Como imagina as pessoas que serão eleitas para a prefeitura de sua cidade e governo do seu estado?
Para o governo que for eleito para a presidência em 2026, 2030 e 2034, como você imagina que serão as futuras Ministras e Ministros?
Como você imagina que serão os futuros advogados, advogadas, juízes, juízas, desembargadores e desembargadoras do país?
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Como você imagina as futuras grandes referências da tecnologia? Que pessoas estão recebendo e receberão milhões de dólares em investimento para criar o próximo Google?
Como você imagina as futuras pessoas ganhadoras do Nobel e do Pulitzer?
E as pessoas que protagonizarão a próxima grande franquia de filme de super-heróis que vai arrecadar bilhões no mundo inteiro?
Como imagina que serão as pessoas que comandarão organizações como o Fórum Econômico Mundial, a ONU (Organização das Nações Unidas), a OMS (Organização Mundial da Saúde), a OIT (Organização Internacional do Trabalho)?
Ao imaginar o futuro, é normal, é comum para você visualizar pessoas Negras e Indígenas nestas posições e lugares?
Ou você se surpreende com a possibilidade de um Senado Federal 56% negro?
Afrofuturismo
Afrofuturismo é um movimento decolonial que vem do mundo das artes. A ficção científica, a literatura, o cinema, a música, a cultura pop trazem, através de suas narrativas e estéticas, provocações para o nosso cérebro – justamente para que imaginemos a possibilidade de pessoas negras existirem no presente e no futuro.
Doido, né?
Há grandes referências do Afrofuturismo. Dentre elas, o compositor de jazz e pianista norte-americano Sun Ra, a escritora norte-americana Octavia Butler. No Brasil, podemos citar diversos nomes como a cantora Xênia França, a escritora Lu Ain-Zaila, os escritores Ale Santos e Fábio Cabral.
É possível encontrar vários elementos de narrativa e estética Afrofuturista nas músicas de Elza Soares, Beyoncé. Pantera Negra, nos quadrinhos e no filme, também é um expoente do Afrofuturismo.
Outro grande nome, a cantora norteamericana Janelle Monáe, em seu álbum The ArchAndroid, faz uma brilhante referência ao filme Metropolis (1927), que é considerado o pioneiro no gênero de ficção científica:
O Futurismo Indígena é também um movimento que vem conquistando cada vez mais espaço – pautando a existência das pessoas indígenas para além de um imaginário colonial e limitado. Fora do Brasil, personalidades como a escritora Joy Harjo e a professora Grace L. Dillon se destacam. No Brasil, temos nomes como os artistas Kadu Xukuru e Tadeu Kaingang, dentre outros.
E o que seria então um Afrofuturo do Trabalho, Arlane?
Nós estamos no país mais negro do mundo fora da África, você sabia?
Sim, este é o Brasil.
Ainda assim, você notou que as respostas que nós temos para as perguntas acima centralizam-se na visão natural e automática de, somente ou majoritariamente, pessoas Brancas ocupando estas posições e lugares?
Não é que pessoas Negras e Indígenas não existam, no sentido literal da palavra.
É que, geralmente, a inteligência, a estratégia, a capacidade de liderar, de criar coisas revolucionárias e inovadoras são qualidades que, culturalmente e socialmente, atribuímos mais às pessoas e aos traços brancos.
Pessoas Negras até existem – mas achamos mais normal visualizá-las como o porteiro do prédio, como a empregada doméstica. Pessoas Indígenas, se lembradas, são reservadas a um espaço tão longe e tão fora do que entendemos como “civilização”.
Trazer o Afrofuturismo para o mundo do trabalho é confrontar esta normalidade – e passar a nos levar para a postura de ABSOLUTO INCÔMODO.
Ou seja: vamos passar a imaginar e a trabalhar intencionalmente por futuros nos quais as pessoas Negras e Indígenas existam e possam exercer o total potencial de seus protagonismos na sociedade. Sem serem mais delegadas ao imaginário da exceção e da inferioridade.
É esta a abordagem que precisamos adotar ao refletir e falar sobre o Futuro do Trabalho.
Cada vez mais nos preocupamos com este tema e com tantas variáveis que o impactam, como a Revolução 4.0, a transformação digital, as mudanças climáticas, a Inteligência Artificial, a inclusão 50+… No entanto, pouco ou quase nada destas articulações notam e vão para além da obviedade do exclusivo protagonismo branco.
Como estão refletidas as populações negra e indígena nos movimentos e investimentos que fazemos para moldar as organizações do futuro? Como estão refletidas as mulheres e as pessoas LGBT+ Negras e Indígenas?
Para onde esta reflexão nos leva
Talvez você esteja se perguntando: mas, Arlane, o que tem a ver a minha imaginação com estas grandes questões aqui colocadas?
E eu te digo: tem tudo a ver, cara pessoa leitora. Lembremo-nos que é a somatória das nossas mentes que resulta na cultura que compartilhamos no coletivo.
É como o poder de um pequeno fósforo para causar um grande incêndio.
É da nossa inconformidade, movimento, do nosso simples, mas incomum questionamento que são iniciadas as grandes mudanças. No começo do artigo eu te perguntei sobre as suas futuras relações – e pode ser este o seu ponto de partida agora.
Por exemplo: como está hoje o seu círculo de confiança profissional? Qual é a presença de pessoas Negras dentre aquelas que você indica e contrata de olhos fechados?
O Afrofuturo do Trabalho envolve transformações grandiosas E envolve os micro impactos que devemos gerar no nosso imaginário, nas nossas relações e práticas cotidianas.
Fazer grandes movimentos por um Afrofuturo do Trabalho, seja na rodada milionária de investimentos ou nas políticas afirmativas (públicas e privadas), andam lado a lado com a aceleração da carreira e negócios de pessoas Negras do seu ecossistema, por exemplo.
O nosso objetivo é saltar da estética, da tela do cinema, da faixa do álbum, da página do livro para a realidade. É sair do “não notar as absurdas ausências” para o “não aceitar a possibilidade de perpetuar um presente tão excludente”. Tem que ser – e haverá de ser – natural e automático imaginar e conviver com pessoas Negras e Indígenas em TODAS as posições e lugares. Incluindo nos espaços de decisão, influência e poder. Na proporção de suas existências. E contemplando suas pluralidades.
Este é o AFROFUTURO DO TRABALHO.
E este é o convite para embarcar na construção intencional e urgente dele: convite decisivo para mim e para você.
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Arlane Gonçalves é CEO da AG Consultoria, cuja missão é trabalhar e inovar por mais igualdade nas organizações e para além delas. Arlane é LinkedIn Top Voice, foi premiada duas vezes com o Feedz RH e é professora do Curso Aberje de Diversidade. No Instagram você a encontra como @arlanegoncalvesoficial.
Para Palestras, Treinamentos e Eventos para o mês da Consciência Negra, fale com a nossa equipe em contato@arlanegoncalves.com.br
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