Nenhum deles imagina o que uma mãe precisa fazer pelos seus!
Ela ficou só atenta para o assoalho.
Sujo.
Grosso.
— Pois tu tiveste ânimo de matar teus filhos?
Tarsila não queria devolver os olhares.
Os espias de ira de alguns
De raiva de outros.
E os de nojo da maioria.
Não a abalavam.
Dilacerava sim imaginar as suas crias sofrendo.
Sofrendo sem ela
Dentro da casa, seriam negrinhos remelentos.
No terreiro, quase branquinhos azedos.
Fariam o que no lugar dela?
— Pois tu tiveste ânimo de matar teus filhos?
O seu senhor iria vender ela.
Tinha certeza!
Já tinha ocupado.
Usado.
Cuspido o bagaço.
Escarrou de vez quando trouxe outra negrinha, nova e com uma bunda grande, para tirar as suas botas.
— Pois tu tiveste ânimo de matar teus filhos?
Filhos sem mãe padecem. Ela sabe. Ela viveu sem
Ninguém para escutar o seu choro.
Para tirar seus piolhos.
Para rir de seu olhar.
Cresceu sozinha.
Aprendendo lidar com os homens.
Pretos.
Brancos.
Todos iguais.
No aperto, resistir e levantar a saia.
Fez e nasceu o Vitório, seu mais velho. Do Domingos Criolo, o feitor.
— Pois tu tiveste ânimo de matar teus filhos?
Depois o seu senhor pousou os olhos em seu gingado.
Bem na hora que estava fazendo doce de leite.
E ele quis
Ela riu.
Deixou
Sem desandar o doce.
Ele a levou para dentro.
Deu um quarto.
Mandava na cozinha.
— Pois tu tiveste ânimo de matar teus filhos?
Não precisava de mais ninguém
Veio Libânia, Joana e João. Seus graciosos funfuns.
Uma tarde, a do jiló grande chegou.
Fez mandiga.
Forte.
Poderosa.
E o olhar do seu senhor embaçou.
Tarsila viu que ele iria se livrar dela!
— Pois tu tiveste ânimo de matar teus filhos?
Filho … a vida de fêmea aqui em terra de branco num é boa
… é muito doída e sofrida
… a gente tem os filhos
… ama um homem
… faz tudo pra ele ser feliz …
e o desgraçado troca a gente prucausa de uma…
Filho a vida das meninas num era boa.
Mas ocê e macho. Vai ficar forte e grande. Bonitão!
Olha, nois vai sair daqui.
No mundão qualquer lugar é bão.
— Pois tu tiveste ânimo de matar teus filhos?
Filho, cê num vai mesmo?
Que Oxalá lhe proteja
— Pois tu tiveste ânimo de matar teus filhos?
Na beirada do rio, as meninas pedem uma história.
O menor não se interessa e começa e brincar na água.
— Pois tu tiveste ânimo de matar teus filhos?
Olodumaré perguntou se Oxum ia participar dos encontros e os orixás homens disseram não.
Não precisavam dela.
E as outras orixás?
Também não
Oludumaré ficou quieto.
Como esperado, em Orum, no Aiyê aqui e lá, nada mais se fez.
Nada mais nasceu.
Nada mais procriou.
Nada.
Nem morriam para descansar.
Os orixás começaram a serem esquecidos por todos.
O que houve?
Olodumaré explicou-lhes então que, sem a presença de Oxum e das outras ourixás, e do seu poder da fecundidade, nenhum dos sonhos poderia dar certo.
Sozinhos ele só seriam lembrança e , com certeza, nem saudade.
Os orixás, em fila e com respeito, convidaram Oxum para participar de seus trabalhos, o que acabou por aceitar depois de muito lhe rogarem.
Fizeram para todas, com respeito e até admiração.
Em seguida, os mundos retomaram a fecundidade.
Os sonhos se fez vivo.
— Pois tu tiveste ânimo de matar teus filhos?
No riso das meninas, como pensou, cortou as cabeças delas, para o horror do mais novo
— Pois tu tiveste ânimo de matar teus filhos?
Ele sobe em uma árvore tenta esconder.
Ela repete o que havia dito para o mais velho, ele desce.
Ela leva-o para a beira do rio e o afoga.
Não chora.
Não choram
— Pois tu tiveste ânimo de matar teus filhos?
Pena que faltou coragem para se matar.
Comeu terra.
Babosa
Capim.
Só a barriga doeu.
— Pois tu tiveste ânimo de matar teus filhos?
Jogou no rio, mas não afundou.
Fugiu até que o seu mais velho a encontrou.
Tarsila explicou.
Chorou.
Apanhou do filho até desmaiar.
— Pois tu tiveste ânimo de matar teus filhos?
Teve sim!
Eram filhos seus!
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