Entro no carro e ele sorri, pede desculpas por estar atrasado. Trânsito! Está feliz? Claro! A minha primeira neta! Nossa primeira neta, ele me corrige. Reconta que desde que a esposa morreu, há quatro anos, submergiu no trabalho. Só levantou a cabeça quando soube que a única filha, minha nora, ficou grávida, uma gravidez de risco. Não deu vacilo: mudou para o mesmo prédio do casal no litoral, acompanhou todos os exames médicos, foi um ombro amigo para o meu filho, o genro dele, praticamente fez o parto da minha netinha e veio me buscar. Agradeço.
Estou enamorado.
A minha mulher iria adorar conhecer a netinha! E a outra avó dela? Relato que foi uma aventura de uma noite: fui pego no fracasso, e oito meses e meio depois o genro dele, meu filho, me foi entregue. Criei com a ajuda de amigos.
Estou apaixonado.
Então esta você vai gostar! É do nosso tempo! Ouvimos “My Generation”, do The Who. Enãomorremosantesdeenvelhecer. De ter netos, disse ele. Todo o tempo teve o meu desejar. Cantamos juntos: “Whoareyou”. Vamoslámediga ,quemévocê?Quemévocê?Porqueeurealmentequerosaberquemévocê.
Fomos ao hospital e vi pela primeira vez a Vitória, a mais linda de todas! A minha neta! Nossa neta!
Acompanhamos a minha nora para casa. Primeiro banho eu dou, e o sogro do meu filho me ajuda. Vitória parece uma bola pulando entre o meu colo e o dele. Pula até dormir.
Minha alma deseja a língua dele.
Conversamos sobre o futuro da Vitória. De princesa ou médica. De modelo ou cantora. De bela e uma pessoa feliz. Ele me convoca para ficar no apartamento dele, no mesmo andar. Fazemos assim: os avôs de um lado e os pais de outro, e ali converso para arpoá-lo.
Esbarramos muitas vezes. Toques, apertos, encontros, estou excitado, ele percebe e diz que está com calor. Prepara a minha cama e vai tomar um banho. Deitado, fico apenas coberto com um fino lençol. Antecipando e não desvendando, e vem com uma colcha e vai dormir sem me olhar.
Masturbo pelo pai de minha nora.
Não me deixam voltar. Não quero ir embora. Eu quero o outro avô da minha neta. Entre uma mamada e outra, fazemos uma caminhada pela praia. Alguns toques. Esquivas. Sorrisos com quintas intenções. Palavras inteiras: queria que ele me beijasse. Faço o almoço e promovo leve encontro na pia. Discreto. Íntimo. Faz a Vitória arrotar e suspiro em sua nuca. Cuido da cozinha e ele troca as fraldas. Ela dorme sob a nossa vigília.
Vou atrás dele na praia. O fisgo pelo olhar. Ele se debate. Enfrento. Ele está com sede. Quero o seu abraço. Nada diz. Pego a sua mão. Fica vermelho. Declaro. Abala. Reforço. Vai correr e vou comprar fraldas noturnas.
Jantar. Cozinho somente alimentos que não provoquem cólicas na minha netinha. E o meu pai? Sei não.
Dou outro banho, troco fraldas e Vitória dorme. E o outro avô? Não sei.
Confecciono um móbile de origami. E o meu sogro? Sei não.
Está sentado na sala escura. Vamos conversar? Sim. Não gosto disso. Tá. Não mesmo. Tá. Senta mais pra lá. Tá. Sei lá se quero. Tá. Não sei se não quero. Tá. Sempre fui… tá! Sempre sou… tá. Não sei … Eu sei. Sei não. Sei. Não. Tá. It’snowornever. Levanta e me beija profundamente.
Bem depois, entre vigorosos beijos e rendido nos meus braços.
O que somos?
Os avôs da Vitória.
Deixe um Comentário
Você deve logar para comentar