O som dos anos 70 amplificou-se na Zona Sul!
No dia 17 de Junho de 2023, sábado à noite, aconteceu em São Paulo, na Cinemateca Brasileira, a apresentação do documentário Chic Show com a participação de Luizão (fundador) e sua família, Grandmaster Nei, Carlos Família, Nelson Triunfo, Thaide, Aritana, Maria Inês e Marines (frequentadoras do baile), entre outras personalidades como Xis, Rappin’ Hood, dentre outros.
O empresário visionário conhecido como Luizão foi e é um ícone na área do entretenimento na capital paulistana. Além de ser o número um no segmento de eventos com bailes voltados para a Black Music, desde o Soul, Samba Rock, R&B e outros ritmos nacionais e internacionais que embalaram e formaram gerações de pessoas, famílias e hoje retomam este legado. Foi um dos responsáveis por intermediar no Brasil diferentes shows de atrações internacionais e personalidades nacionais nas casas noturnas em espaços negados e segregados. Locais estes que a população negra não ocupava, como o Centro da Cidade, sendo uma área de trânsito e não de pertencimento. Mas a história mudou.
Os bailes eram considerados grandes eventos com semanas e quiçá meses de preparação para as frequentadoras e frequentadores. Isso porque o traje requerido não poderia ser simplesmente uma calça jeans, tênis e boné; seu estilo esportivo social era a marca registrada da noite. As mulheres e homens escolhiam (ou compravam) roupas exclusivas para o grande dia, o cabelo era cuidadosamente cortado acentuando as coroas masculinas com o Black Power e as mulheres com os cabelos escovados, laquê e formas circulares que só os Bob’s da época eram capazes de aguentar uma noite adentro sem um fio desmontar com tantos rodopios, giros e passos coordenados ao longo do salão. Sem esquecer do rosto colado, um momento para olhar para o lado e chamar para dançar a companheira que já estava admirando e, então agora era a oportunidade de se aproximar.
Outro legado foi a introdução da gravação de discos em vinil com músicas próprias e a difusão de um programa aos sábados ao meio-dia na Rádio BAND OU RECORD. Sua vinheta característica era o sinal para quem passava pelas ruas que a audiência na área de black music estava começando.
Portanto, o documentário conta a história do legado de 50 anos da Chic Show, com depoimentos de vários artistas e pessoas que integram esta carreira junto com seus irmãos. Parcerias construídas ao longo de décadas de amizade, desentendimentos e relações comerciais e familiares.
O documentário será divulgado na plataforma do Google Play, mas nós e todo o público presente em massa na área externa da Cinemateca Brasileira tivemos acesso exclusivo e uma sessão especial. O clima estava frio, nuvens se fechando e ao ar livre, cadeiras, bancos de madeira, paralelepípedo e o chão foram os locais de acomodação para prestigiar uma história narrada da população negra paulista que frequentou (e reviveu ontem) os bailes da Chic Show. Evento que abriu as portas do São Paulo Chic (Barra Funda), Clube Palmeiras – conhecido como Palestra Itália (Sumaré) e Clube da Cidade (Barra Funda) para um público que não tinha acesso ao centro da cidade e, não ocupava este espaço urbano. Apresentando-se primeiro a panfletagem na Praça Ramos de Azevedo, as portas do Mappin (hoje a recém fechada Casas Bahia) retratadas em videos, fotografias, documentos e depoimentos no documentário, que mostram o reconhecimento de uma fase do auge da música negra, de cantores e cantoras, dançarinos e personalidades que contam uma trajetória do empoderamento, do contexto na segregação racial, do direcionamento e da oportunidade de transformação social de si , da família e dos seus no entorno com a música.
O baile voltou não só na tela do documentário, mas presencialmente para todos que lá estavam com gerações que frequentaram a Chic Show nos anos 70 a 90, de filhos e netos, de filhas e netas, que ontem dançaram ao som e compassado nos passos seguidos, ritmados e embalados por um repertório que, aqueceu corações, reavivou emoções e aproximou quem nem se conhecia. Como a minha geração (quase quarenta) do Sambary na Bela Vista, do Clube Radial no Tatuapé e do Musicaliando na São Joaquim, que não vivenciei a grandiosidade da Chic Show, mas tive a oportunidade de conhecer, conversar e observar que não se tratava somente de uma festa (ou balada para os jovens) e, sim uma representatividade da população negra da cidade de São Paulo e do mundo.
Confira, clicando aqui.
Por: Lilian Soares, 19/06/2023 às 05h11
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