CRÍTICA TEATRAL
ESPETÁCULO: “ELZA ”
Numa noite de sábado abrem-se a cortinas do Teatro Paulo Autran e dá-se início ao espetáculo musical “Elza” sobre a vida e carreira de uma das cantoras mais emblemáticas de nossa MPB.
Elza Soares é representada por 7 cantoras/atrizes em meio a um cenário e iluminação minimalista, que cria um paralelo com a forma de viver de Elza Soares em seus tempos de miséria e sofrimento antes do sucesso, e de um turbilhão de acontecimentos depois dele.
As latas d’água que compõem o cenário do início ao fim e que marcam a vida de Elza Soares pelos seus vocais quando cantou a música “lata dágua na cabeça” também é uma metáfora ao seu passado e a sua luta em se equilibrar infinitamente sobre uma lata / corda bamba. Um passado que definiu os dramas internos e se refletiu em toda uma obra da grandiosa artista até os dias atuais.
Também grandiosos são o cenário de André Cortez e o figurino (principalmente na primeira parte) de Kika Lopes e Rocio Moure juntamente a iluminação de Renato Machado, extremamente bem recortada, que marca o espaço cênico dramaticamente ao mesmo tempo que dá total espaço para as atrizes e a dramaturgia brilharem; brilharem intensamente.
Diferentemente da maioria dos espetáculos musicais, que têm a trilha sonora de forma exaustiva do início ao fim, com pouco foco na interpretação e numa história mais complexa, as músicas interpretadas originalmente por Elza Soares ilustram momentos de sua vida, que passam pelos olhos e ouvidos da plateia sem ordem cronológica e com muita teatralidade.
A direção de Duda Maia e a idealização/produção de Andrea Alves são dignas de um musical de qualidade, pois elas têm mãos de regentes de orquestra super bem afinada e harmonizada. Como boa direção, você não a percebe enquanto assiste a peça, pois essa última te arrebata por uma via emocional que somente as grandes obras e direções conseguem executar.
Uma vida tão longa e com tantos acontecimentos como a de Elza Soares é algo muito difícil de ser transportado para uma obra de Arte, ainda mais para o teatro onde o tempo é curto e depende de talentos de equipe com níveis tão altos e sincronizados para realizar uma Arte à altura; E a dramaturgia de Vinícius Calderoni é de uma força poética e uterina como a de Elza diante da vida.
O verniz dessa obra de arte é o elenco que desempenha com uma complexidade vocal e corporal um personagem tão profundo e desafiador. Todas as atrizes: Janamô, Júlia Tizumba, Késia Estácio, Khrystal, Laís Lacôrte, Verônica Bonfim e a atriz convidada Larissa Luz são dignas de elogio devido ao brilho e sensações que emanam em diversos momentos. Uma plateia totalmente tomada pelo espetáculo que faz o que qualquer bom teatro deveria fazer: o público rir, se emocionar, se instruir com a biografia, cantar junto. O destaque vai para Larissa Luz que surpreende à todos com uma construção técnica elaboradíssima para a sua Elza Soares. Larissa encarna (no sentido mais completo) e encanta com domínio absoluto as técnicas de voz, corpo e sentimentos da personagem título, revelando-se uma atriz consciente, talentosa e muito, muito trabalhadora em sua verticalidade na pesquisa de construção de personagem.
O impacto que o espetáculo causa também tem origem no mundo social brasileiro, tornando essa montagem altamente contemporânea, necessária, um grito de resistência, uma força da natureza de uma mulher negra e suburbana contra um sistema repressor.
Que a vida seja muito longa para Elza – a artista e também para Elza – o espetáculo.
Avaliação: ⭐⭐⭐⭐⭐ excelente
Data: 18 de outubro a 18 de novembro de 2018
Dias e horários: Quinta a sábado, 21h; domingos e feriados, 18h
Preços: R$ 50 (inteira); R$ 25 (meia entrada); R$ 15 (credencial plena do Sesc)
Local: Sesc Pinheiros (R. Paes Leme, 195 – Pinheiros – São Paulo)
Deixe um Comentário
Você deve logar para comentar