Plínio Camillo apresenta nova impressão do livro “O Namorado do Papai Ronca”
Obra convida o leitor a reaprender aceitação, respeito e acolhimento da diversidade
O autor negro Plínio Camillo apresenta a nova impressão do livro “O Namorado do Papai Ronca”. Esta obra, que busca promover o debate sobre a questão homoerótica, continua a encantar leitores de todas as idades com sua história e personagens que envolvem o leitor desde o primeiro capítulo.
A narrativa acompanha a jornada de Dante, um garoto de 12 anos apaixonado por futebol, que enfrenta uma série de desafios ao mudar-se para a casa de seu pai em uma cidade do interior. O livro aborda as dificuldades que Dante enfrenta ao adaptar-se a essa nova realidade, enquanto também explora questões relacionadas a relacionamentos e identidade.
Plínio Camillo surpreende os leitores ao trazer diálogos e personagens com uma linguagem moderna, típica da web, incorporando elementos como conversas por Skype e perfis de redes sociais. Essa abordagem tem sido elogiada por sua originalidade e pela habilidade de envolver os leitores na trama.
“O namorado do papai ronca” foi selecionado pelo Concurso de Apoio a Projeto de Primeira Publicação de Livro no Estado de São Paulo e lançado pela Prólogo Selo Editorial em parceria com o Instituto Cultural Mundo Mundano.
Esta segunda impressão é um testemunho do impacto positivo que “O namorado do papai ronca” está causando no cenário literário atual. Ao apresentar temas relevantes de forma sensível e cativante, o livro continua a conquistar leitores de todas as idades, promovendo discussões importantes sobre diversidade e aceitação.
Para mais informações e adquirir a obra, acesse Alfarrábios: https://pliniocamillo.wordpress.com/onamorado/
TRECHO 1
SÁBADO – 11 DE SETEMBRO
MANHÃ
Treina. Treina. Treina e treina. Canelas roxas e sorriso nos lábios. Os meninos marcam de se encontrar às duas e meia na frente da casa de Paulo.
TARDE
Toma banho muito rápido. Não lava as orelhas. Dante almoça correndo. Não come o espinafre. Coloca um tênis muito velho e o pai o obriga a por outro, o azul.
13:45hs. – Dante está ansioso na frente da casa do Paulo. Paulo nem tinha tomado banho.
13:46hs – Ninguém chegou e Paulo não tomou banho. O pai de Paulo grita com ele. A mãe de Paulo grita com ele também.
13:54hs – Ninguém chegou e Paulo não tomou banho. O pai de Paulo xinga o Paulo. A mãe de Paulo xinga o menino também.
14:02hs – Ninguém chegou e Paulo foi tomar banho. O pai de Paulo continua a gritar com o Paulo. A mãe do Paulo não.
14:06hs – Ninguém chegou e Paulo está tomando banho
14:13hs – Ninguém chegou e Paulo já saiu do banho. O pai do Paulo continua a gritar com ele. A mãe do Paulo sai para ir ao supermercado.
— Quer entrar?
— Fico bem aqui, obrigado …
— Que menino educado! O Paulo devia ser assim …
14:24hs – Ninguém chegou e Paulo troca a camisa verde pela vermelha.
14:25hs – Ninguém chegou e Paulo troca a camisa vermelha pela rosa.
14:26hs – Ninguém chegou e Paulo troca a camisa rosa pela amarela.
14:27hs – Ninguém chegou e Paulo troca a calça preta pela azul. O pai do Paulo está assistindo televisão e tomando cerveja.
14:28hs – Ninguém chegou.
14:29hs – A molecada chega e entra na casa do Paulo sem bater.
14:30hs – O pai do Paulo pede, gritando, que tragam mais cerveja e fechem direito à porta da geladeira.
14:38hs – Saem e Dante vai atrás.
Ficam na frente do Tênis. Tiram sarro de todos que entram.
— Olhe aquela ali: está com todas as cores!
— Aquele ali foi a “mamãe que arrumou”.
— Aquela ali é “emo”.
— Aquele ali é um “vara pau”!
Entram e ficam ao lado do DJ.
— Essa música é muito ruim!
— O quê?
— Aquela parece o “Friagem” do Ben 10.
— O quê?
— Aquele parece a “Gosma”.
— O quê?
— Aquela está mais feia que o “Macaco-aranha”.
— O quê?
— Olha quem vem vindo: a gorda!
— O quê?
Priscila vem em direção de Dante. Nem dá atenção aos olhares dos moleques.
— Você me deixou esperando.
Dante não sabe o que dizer. Olha para os moleques que riem.
— A gente não combinou nada.
— Combinou sim. Eu convidei você e pensei que viríamos juntos.
— Não combinou.
— Combinou.
— Não combinou.
Priscila vai embora.
— Você deu bolo na gorda.
— Dei não.
— Namorado da gorda.
— Sou não.
— É sim!
— Sou não …
— Já beijou a boca gorda da gorda?
— Beijei não.
— Quer beijar?
— Não!
— Cara, deixe o baixinho em paz … Olha, aquele ali parece o “Enormossauro”.
— O quê?
NOITE
A molecada foi expulsa do salão. Fizeram brincadeiras indecentes: passaram a mão nas meninas, puxarem as cuecas dos pequenos e roubaram refrigerantes.
Alguém deu uma ideia.
— Vamos dar um “salve” no baixinho.
Todos concordaram, inclusive Paulo. Dante tentou correr, mas pegaram. Tapas na cabeça e o deixaram de cueca! Levaram as roupas para fora. Foi uma puta falta de sacanagem! Dante corre para o banheiro, porém devido ao pânico, primeiro entra no banheiro feminino e depois, sob uma gritaria infernal, entra no masculino.
Dante só sai quando um segurança volta com as suas roupas todas sujas de lama.
— Como foi?
— Legal
— O que aconteceu com você?
— Choveu e cai.
— Mas não choveu.
— Caí em uma poça de chuva sem chuva …
— Encontrou a Priscila lá? Ela estava procurando por você.
— Encontrei sim …
— Dançou bastante?
TRECHO 2
SÁBADO – 9 DE OUTUBRO
MANHÃ
Feriado prolongado. Vão para uma fazenda de um amigo de Ademar. Elenco: Heitor, Ademar, Priscila e Dante.
TARDE
Andam a cavalo. Tomam banho de cachoeira. Caminham por muitas trilhas. Priscila conduz a charrete com maestria, Ademar cozinha bem, Heitor é fera na mímica e Dante pega as mangas nos galhos mais altos.
Ademar prepara o jantar,
Priscila brinca com os filhos do caseiro.
Heitor faz uma longa caminhada pela fazenda. Dante o acompanha.
— Você é gay, pai?
— Como?
— Quero saber se você é gay?
— O que é ser gay, filho?
— Pai! Estou perguntando e não quero responder!
— Filho, sou um homem que adora o filho que tem e que ama outro homem.
— Mas então, é gay!
— Não sei. Sou alguém que gosta do que é.
— Não é gay?
— Filho!
— É, ou não é?
— Sem entender o que você quer dizer não sei responder.
— Então tá: gay é aquele que anda rebolando, fala fino e faz coisas como se fosse uma mulher.
— Então eu não sou.
— E que também transa com homem.
— Então eu sou.
— Mas você transou com a minha mãe?
— Sim, querendo, gostando dela.
— É ou não é?
— Imagine se é difícil entender, muito mais é viver. Gostei, amei muito a sua mãe. Ficamos juntos muito tempo. Ficamos juntos querendo ficar. Um dia deixamos de gostar de ficar juntos.
— Eu sei, sempre dizem isto.
— Então, depois comecei a me perceber. Ouvir a mim mesmo. Nunca quis ser uma mulher ou outra coisa diferente do que sou. Nem sempre tendo focinho de porco, pé de porco, orelha de porco é porco.
— Então o que é?
— Pode ser uma feijoada.
— Então você saiu do armário?
— Nunca estive em um, sou um professor e nem por isto me sinto menor ou menos importante do que um médico. Sou um homem que ama outro homem e não me sinto menor e nem pior que outro homem qualquer.
— Sei.
— Com todas as dificuldades, com as certezas, estou muito mais feliz, tranquilo. Sei que sua avó não quer falar comigo. Sei que me olham torto, imagino o quanto é difícil para você.
— Mas pai, antes nunca foi! Agora é estranho, meio complicado.
— Imagino.
— Para mim é um problema seu e não meu.
— Para mim não é mais um problema, mas é para você.
— Um pouco.
— Não procure rótulos, gavetas ou encaixes; por sorte, ou azar, somos todos diferentes, com diferentes olhares, diferentes formas de ver, sorrir e andar. E, principalmente, nem sempre o que é diferente da gente é ruim.
— Difícil!
— Sim, é.
NOITE
Priscila acorda no meio da noite assustada.
— O que é isto?
— Seu tio roncando!
— Mas não parece o ronco dele.
— É o ronco do seu tio, quase todos os dias ouço isto …
— Sei lá … pode ser, mas não parece.
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