Desembarcou no Brasil na ultima semana de junho a equipe angolana que produziu o filme, Mutu Mbi, na cidade de São Paulo, para realizar a pré-estreia e aproveitar para efetivar parcerias futuras para produções entre os dois países, Brasil e Angola.
O filme inspirado em cinderela mostra a realidade do drama de uma família angolana na atualidade. A história do filme se passa na linda e simpática cidade de Luanda, no litoral de Angola, onde o personagem central, Otchaly Hanji, um artista plástico bem sucedido, faz recair sobre sua família uma maldição, então uma onda de segredos e mistérios transformam a vida desta família num verdadeiro inferno na terra.
O filme será distribuído pela Batuque Audiovisual e tem o apoio da TPA (Televisão Pública de Angola) e do Consulado Geral de Angola no Brasil. O projeto veio para o Brasil através do apoio da Casa de Angola, aqui representada pelo produtor cultural, Isidro Sanene.
MUTU MBI – O FILME
ELENCO Sandra Gomes, Joel Benoliel, Celma Pontes, Silvio Nascimento, Jaime Joaquim, Maueza Monteiro e grande elenco. Escrito e dirigido por: Levis Albano. Produção: Iracema de Oliveira (Mbanji Studio). Direção executiva: Joel Benoliel, Silvio Nascimento e Allen Mamona.
ENTREVISTA
O jornalista, William Lemos, esteve com um dos diretores executivos, Joel Benoliel e com o autor e diretor, Levis Albano, em um bate papo que vocês poderão apreciar nesta matéria.
William Lemos (repórter)
William Lemos – Bom, eu gostaria de saber de onde surgiu essa ideia do Mutu Mbi, como isso se tornou um roteiro de filme?
Levis Albano – A ideia veio surgir através do filme Cinderela, gosto muito da historia da Cinderela e eu sempre pensei, porque a Cinderela é assim tão boa? Acredito que como aquilo é desenho animado e muito infantil, então eu fiz uma reconstrução da historia olhando pela nossa sociedade. Olhei para a história da Cinderela, uma historia internacional que todo mundo conhece, ela sempre foi uma boa menina e continua a ser boa, depois tem aquela varinha mágica que ela transforma-se numa princesa, né? Então criei uma personagem chamada Africana que é praticamente isso, mas numa versão de vilã, ela revolta-se e quer fazer vingança com suas próprias mãos. Olhando pela nossa sociedade angolana, nós temos muitos parentes que sofrem de muito distúrbio mental porque temos a pobreza, temos as frustrações diárias, sociais, econômicas e muitos deles se esquecem de dar aquele carinho, aquele mimo que os filhos precisam. A personagem Africana como vem de uma mãe rica e o pai um cadinho pobre, ela cresceu com mimos, depois da morte da mãe é obvio que tudo mudou, e o pior? O pai não fez ela com amor, fez ela com um objetivo de angariar fundos com o dinheiro da mãe, por isso é que a personagem Africana torna-se aquela pessoa no filme, essa é a historia e não posso revelar muito, senão vamos dar tudo ao telespectador e não adianta mais ver o filme.
William Lemos – Como surgiu essa parceria sua com o ator Joel Benoliel, que também é um dos produtores executivo do filme?
Levis Albano – Temos o Joel, temos o Silvio Nascimento, são pessoas que têm uma visão ampla daquilo que é cinema, querem modificar e trazer profissionalismo dentro do cinema angolano, então são pessoas de fácil acesso, estão na internet, no facebook, todos tu consegues encontrar. O Joel sendo um ator já profissional do nosso mercado, tendo participado em varias novelas com sucesso nacionalmente, sabemos que o Windeck também foi internacional, então foi fácil ter acesso ao Joel. Ele já faz isso por natureza e ele quer dar a sua contribuição para o cinema nacional, daí surge à parceria, nós apresentamos o roteiro, ela aprovou e não é o primeiro, sendo o profissional que ele é queria saber quanto custa, o que é necessário, ali começamos nossas conversas.
William Lemos – Joel, o que te fez acreditar no filme Mutu Mbi?
Joel Benoliel – Bom, eu não acreditei propriamente no filme Mutu Mbi, eu acreditei no grupo de trabalho que estava a ser criado, no sentido de que estávamos a juntar jovens com o mesmo ou um background parecido, com as mesmas ambições, com os mesmos sonhos e os mesmos desejos, quando tu encontras essas características num grupo de pessoas consegues facilmente relacionar, portanto criou-se aqui uma união, uma parceria estratégica para produção de conteúdos nacionais que possamos exibi-los em casa ou fora de casa, quando digo fora de casa é internacionalmente, com histórias variadas de comédia, ação, suspense e que seja feito por nós, portanto, tendo esses ingredientes todos sobre a mesa, torna-se muito mais fácil tomar uma decisão e saber com quem aliarmo-nos para trabalhar. O Levis vindo de fora, eu também estando fora muito tempo, o Silvio também que abandonou o estrangeiro, a diáspora, para voltar pra casa, achas que estava tudo reunido para que este grupo pudesse realmente singrar, não foi uma escolha propriamente pelo filme Mutu Mbi, mas sim por esta união de indivíduos com os mesmos objetivos.
William Lemos Joel, hoje qual o apoio que vocês têm de empresas ou do governo ou de alguma outra instituição para a realização desses projetos cinematográficos e projetos voltados para a TV? Vocês têm esse apoio?
Joel Benoliel – Pois bem William, apoios… Apoios em concreto começam a aparecer agora com a nossa persistência, de uma forma ainda lenta, devagar, mas promissora, nos estamos nesse momento aqui no Brasil graças a Televisão Publica de Angola (TPA) que felizmente olhou para nós com olhos de ver e acreditou no nosso sonho e nos nossos objetivos traçados em relação à ficção nacional. Temos a TPA a não dar-nos propriamente dinheiro em mãos para produzi-lo, mas fazendo uso da sua instituição e dando-nos alguns apoios institucionais, passagens aéreas, estadias em hotéis, eventualmente parcerias de publicidade dentro do canal, são ajudas que se formos nós a pagar já saem um cadinhos mais caras, então esse apoio institucional já começa a fazer sentido. Temos também a UNITEL que é uma operadora móvel, que para poder ajudar todos decidiu criar um festival de cinema que é o UNITEL Angola Movie, vai este ano realizar sua segunda edição em outubro, dia 8 de outubro, onde premiamos com valores monetários o pessoal da área de cinema, melhor longa, melhor curta metragem, melhor documentário, melhor ator, melhor realizador, melhor atriz e também a melhor produção, e este ano por acaso estamos a abrir também para a área digital, vamos também premiar o melhor canal de youtube, o melhor podcast e o melhor vídeo de entretenimento na internet. Essas pequenas iniciativas, que ainda parece ser pouco para a imensidão de pessoas que procuram oportunidades, acabam por ser também já uma mais valia. Nós nestas viagens que fazemos, agora começamos pelo Brasil, temos outras agendadas, é na procura destas sinergias, destas parcerias, destas co-produções que nos possam também ajudar a crescer profissionalmente, para que nos possam ajudar a melhorar os erros que temos cometido e também nessa troca de experiência dar-nos algum conforto profissional em termos de negociações, ainda temos alguma debilidade no que diz respeito à educação financeira virada a ficção, os próprios investidores precisam perceber mais de como que se pode rever o investimento que é feito, nós os produtores precisamos perceber as estratégias de rever algum do capital investido através de exibições, parcerias, etc., portanto ainda estamos virgens, são poucos os que têm conhecimento teórico da coisa, muitos são curiosos, muitos começaram a trabalhar numa televisão como operador de câmera, e hoje estão a fazer seu filme, portanto ainda encontramos muitos vídeos em vez de filmes, mas como já tinha dito antes, essas viagens que nós fazemos é em busca de parcerias para afiar nossas maquinas.
William Lemos Quero que vocês dois, Joel e Albano, me falassem um pouco sobre o mercado de filmes angolanos, se hoje um ator, uma atriz, um diretor consegue viver disso e se o filme Mutu Mbi é pensado no mercado internacional, já que estão lançando aqui no Brasil e em outros países.
Levis Albano – Falando no mercado angolano, inicialmente quando escrevemos o roteiro deste filme, foi intitulado, “Africana” como o nome da personagem principal, pensando no mercado angolano, os executivos disseram; – não, nós somos angolanos, temos que começar a valorizar nossos nomes, nossos títulos, as línguas nacionais que temos, então o titulo saiu de Africana para Mutu Mbi, que é uma língua nacional que é o quicongo, só isso já é mostrar algo que queremos valorizar no nosso mercado e criar algo nosso. Olhando amplamente o que está a acontecer em Angola, o mercado… posso dizer que já há mercado, mas é um cadinho pequeno, já há mercado, já há pessoas a acreditarem no cinema, já temos uma faculdade, isso foi difícil ter, uma faculdade que só foca simplesmente em televisão, cinema, radio, etc. e isso também ajuda o mercado por que já está a formar mais fazedores do mesmo e também temos muita gente que vem da diáspora que vai voltar a Angola pra fazer as coisas acontecerem. Falando do mercado angolano, eu só posso falar no lado criativo, eu sei que temos mais roteiristas a acreditarem na cena, temos mais produtores, temos mais executivos a pensarem no mesmo, mais diretores de fotografia, temos mais realizadores, estamos a formar mais quadros e artisticamente estamos a crescer, temos mais produtoras dentro do nosso país, acreditando fazendo isso e temos a Geração 80, temos a Mbanji Estúdio, temos Obelisco, temos a One Touch, temos varias produtoras que acreditam na mesma coisa, então artisticamente nós estamos a chegar lá, temos mais atores a acreditarem que nós podemos fazer isso… Viver do cinema 100% não posso dizer que sim, mas acho que o Joel tá capacitado a responder isso melhor do que eu.
Joel Benoliel – Pois é, William, ainda não se vive da ficção em Angola, ainda é muito difícil para um técnico ou um ator estar em casa a espera de uma chamada para a produção de um conteúdo, os conteúdos ainda são feitos com muitos obstáculos, não são feitos de imediato, nós temos intervalos de 6 ou 7 meses entre um filme e outro, a não ser que sejam parcerias assim como a nossa que já temos um calendário que tenta produzir pelo menos três conteúdos por ano, muitos de nós temos que nos virarmos para a publicidade das grandes marcas que tem feito publicidade para ver se nós conseguimos aguentar. Os filmes que temos feitos, não estamos a pensar propriamente só no mercado interno, estamos também a pensar já lá pra fora, não só queremos internacionalizar nossas historias, mas também os nossos atores, os nossos técnicos, mostrar um pouco do que nós temos feito para ver se nós conseguimos mais coprodução, mais cooperações, e também mais expertise dentro da área. Com esse filme acabamos por sermos um pouco engenhosos na forma de como vamos exibir, onde vamos ter essas amostras, são coisas que temos que ser um pouco criativos e inovadores, porque o terreno está completamente fértil, não há muito então tudo que vem nós já nem julgamos se está bem feito ou mal feito, nós batemos palmas, damos os parabéns e ficamos na fé que o próximo será melhor, portanto não estamos nem sequer na fase de estar a julgar o trabalho do colega pela qualidade que tem ou que não tem, mas sim de enaltecer, encorajar e dar força para que se continue a produzir, e resumidamente, é este o trabalho que estamos a fazer. Cada vez produz-se mais, hoje produzir mais do que ontem, portanto acredito que num curto espaço de tempo vamos conseguir viver daquilo que nós amamos que é nossa arte. Portanto agora numa forma de resumir tudo, devo dizer que com o Brasil especificamente nos procuramos esta parcerias, uma forma de viabilizarmos nossos projetos, a procura do licenciamento para que nossos filmes possam passar cá no Brasil, tirando proveito da língua que é a mesma, portanto já facilita alguma coisa. Nossas historias entrelaçam-se e acredito que o Brasil é um bom caminho para começar, para termos nossos filmes expostos, para termos parcerias com produtoras locais brasileiras que possam eventualmente estar interessadas em gravar conosco lá ou gravar conosco cá, portanto há ai um horizonte de coisas que podem ser feitas entre Angola e Brasil e é isso que nós realmente procuramos, é a sinergia, é a parceria, é o conhecimento acima de tudo e por este kwon how todo em prática juntos para produzirmos e trazermos alegria para quem nos assiste.
CONTATO
INSTAGRAM – Autor e produtor – @levisalbano23
Diretor Executivo – @joel_benoliel_
Aguardem lançamento oficial do filme aqui no Brasil.
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