— Levanta menina, vai chegar atrasada de novo
— Dandara, se não se levantar em cinco minutos irei até e…
Há rouquidão na voz da mãe. Tristeza.
Calça os chinelos pega a toalha e segue em direção ao banheiro. Pelo estreito corredor sente o cheiro do perfume diário. Liga o chuveiro e observa as finas linhas de água que caem, chora. Encarando o espelho pendurado acima do lavabo sente o gosto das lagrimas; salgada, fustigada, surrada. Busca encanto na imagem refletida
Já vestida, segue para a cozinha. O cheiro do perfume intensifica-se, nefasto e cruel. Senta-se a mesa. A sua frente, pão, um copo de leite e sua Mãe segurando a caneca. De lá exala o perfume. Odeia a caneca, a bebida e seu cheiro.
São 7h30 da manhã. Come e antes que desse tempo de sair sem ser vista, o Chamado. A Mãe, vagarosamente se inclina para beijá-la, passa as mãos em seu rosto, mãos macias, carregadas de dor e medo, mãos que tremulam. Dandara cerra os olhos e pensa:
— Culpa do perfume.
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Shirley Maia por Shirley Maia
O que dizer de mim?? Sou um ser em construção…
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Essa negra escritora preta, faz parte da antologia PRETOS EM CONTOS – Volume 2.
Antologia preta de contos curtos que reúne narrativas de escritoras negras e escritores pretos brasileiros com diversas matizes literárias, com vários olhares e com heterogêneas escritas. – Publicado pela Editora Aldeia de Palavras
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