ESPETÁCULO:
“MACACOS”
Se simularmos uma procura por espetáculos de teatro nas agendas culturais, nós concluiremos que dilemas raciais são objetos de discussão de forma recorrente em diversos espetáculos na atualidade.
O assunto é mais que necessário. É imprescindível. É obrigatório para entendermos como nossa sociedade construiu, desenvolveu e desenvolve até hoje o racismo institucional e estruturado.
O conteúdo do texto em questão, da dramaturgia, surge sem metáforas, sem contornos, sem linguagem poéticas; E torna-se impactante para o público, já que fala sobre uma realidade racial, sobre uma história não contada e muitas vezes escondida.
Impacta. Principalmente por que informa. De forma bem didática, digamos. Impacta para quem ainda não conhece aquele conteúdo.
Mas e teatralmente? Como arte? Como teatro? Também impacta? E pra quem já sabe daquela realidade ? O que resta como teatro?
O teatro é união de diversas Artes: música, artes plásticas, escrita, moda, interpretação. Assim é definido por alguns. Para outros, teatro é a Arte do ator.
Em “Macacos” essa definição é colocada em pauta. Do início até por volta da metade do espetáculo, ele é em formato de monólogo teatral, com uma luz de Danielle Meireles bem marcada (auxiliando na dramaticidade e transição de ambientes e sensações), com uma expressão corporal estudada e bem explorada e com uma interpretação talentosa por parte do ator Clayton Nascimento, que trajeta com facilidade do drama à comédia e com controle total de ritmo cênico, seja em pausas de texto ou alternâncias em movimentos corporais.
Porém, após ultrapassar a linha da metade do espetáculo, esse se transforma em algo que não sabemos se pretende ser um momento stand-up ou um momento projeto-escola.
Há uma tendência, por alguns coletivos ou grupos teatrais em se fazer um teatro mais cru, com o mínimo de recursos como figurino, cenário, adereços, focando somente na interpretação, muitas vezes devido às dificuldades sofridas em se produzir arte no país. Mas nem sempre se justifica. Vemos essa receita se repetir na produção de “Macacos” . Mas até onde essa fórmula é realmente eficiente para a criação teatral e para a comunicação com o público com eficácia? Por que a escolha pelo “não cenário” ( de uma cortina de fundo de palco do próprio teatro do CCSP), pelo não-figurino (de uma bermuda preta), pela trilha sonora e sound design basicamente inexistente? Por que a ausência de tantos elementos teatrais que existem justamente para comunicar melhor? Quando o teatro de ator sem nenhum recurso é uma opção estética e conceitual, a escolha fica evidente,pois auxilia na forma em se fazer a história chegar ao público, mas quando não há um real propósito a não ser baratear a produção, ou simplesmente por achar que “não precisa” desses recursos cênicos, forma-se um “chiado” nessa mesma comunicação com a plateia, prejudicando a obra.
A direção do mesmo Clayton Nascimento, passa a impressão de ter marcado com afinco até a primeira metade do espetáculo e depois ter desistido, abandonando o navio do teatro e ter cedido à atrativa opção de falar diretamente para o público de forma simpática, humorística, engraçadinha ( quase um canto de sereia) e é então aí que a confusão se constrói esteticamente.
Como uma cartilha informativa, o espetáculo é competente, sendo uma peça perfeita para o ambiente escolar e didático, porém como arte, como teatro, não fala.
Cotação: 🌟🌟 regular
Ficha técnica:
Ator, Diretor e Dramaturgo: Clayton Nascimento
|Direção Técnica/Iluminação: Danielle Meireles |
Provocador Cênico: Ailton Graça |
Direção de Movimento: Aninha Maria Miranda |
Produção Geral: Ulisses Dias – Bará Produções
|Produção Executiva: Corpo Rastreado.
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