Luana Alves
Uma porta voz da luta antirracista.
Luana Alves é feminista negra e trabalhadora da saúde. Tem 27 anos, nasceu em Santos, no litoral paulista, e é psicóloga, formada pela Universidade de São Paulo (USP), onde se especializou em Saúde Coletiva e Atenção Primária, atuando em Unidades Básicas de Saúde da Zona Oeste de São Paulo. Aceitou o desafio de ser uma porta-voz das lutas antirracista, feminista, antifascista das periferias, das LGBTQIA+, e em defesa da educação pública e do Sistema Único de Saúde (SUS) integral, gratuito e universal. Hoje ela é uma representante na Câmara Municipal de São Paulo com o mandato de Vereadora pelo partido do PSOL.
William Lemos (repórter)
Luana em que momento aconteceu o convite a um mandado? E o que te motivou a aceitar?
Luana Alves
Foi um chamado que na verdade partiu de camaradas da militância de muito tempo, pessoas do Psol, pessoas também da Rede Emancipa, movimento social de educação popular que eu participo, que vieram com a ideia de eu ser candidata. A principio, apesar de eu ser filiada ao Psol há muito tempo, desde 2013 ou2014, nunca tive exatamente como objetivo dentro do partido ser uma candidata, mas a partir da necessidade que eu vi que não foi identificado só por mim, do nosso partido se enegrecer, se popularizar, ter como figuras publicas, pessoas de movimentos periféricos, me convenci que eu precisava. Me convenci mesmo e passei a adotar, no começo foi mais complicado, não somos preparados para assumir uma posição de poder, principalmente a mulher preta, não é uma coisa natural para nós, pelo contrario, é uma coisa que traz vergonha, que traz exposição, mas eu fiquei muito fortalecida a partir de estar com companheiros e companheiras que tiveram a ideia, originalmente, da candidatura e foi uma decisão que a cada dia se prova mais acertada.
Quais as suas ideias para o combate ao racismo?
Luana Alves
A cidade de São Paulo, maior da América Latina, é um reflexo do que acontece na estrutura brasileira. A gente sofre com racismo estrutural e São Paulo é a cara mais gigantesca e grandiosa disso, temos uma cidade com milhões de pessoas pretas periféricas completamente a margem, sem acesso a direitos, sem acesso a hospitais de qualidades, escolas de qualidade, transporte e habitação de qualidade, isso tudo é reflexo do racismo estrutural do nosso país e do mundo, na verdade. São Paulo também tem que ter políticas publicas, reais de combate ao racismo, o que vai passar por tudo. Vai passar por uma política orçamentária diferente, que é o contrario do que é hoje, as periferias geram orçamento, mas não recebem orçamento. Hoje a gente tem, por exemplo, a periferia trabalhando pra caramba, gerando muito imposto para a cidade e recebendo quase nada e o serviço publico ficando no centro, em regiões mais elitizadas, de classe média, então tem que ter uma inversão orçamentária na cidade. Tem que ter também políticas de valorização da saúde da população negra, da educação de crianças e jovens negros e que coloquem a nossa historia como centro. A nossa historia é o nosso futuro. Tem um projeto de lei que apresentei e quero falar dele rapidinho, é o 47 de 2021, Projeto SP é solo preto e indígena, que é um projeto que fala de memória, historia e justiça na cidade, que fala sobre como as historia das pessoas pretas são apagadas na cidade de São Paulo em diversos bairros e fala sobre resgatar essa historia, fala sobre a gente ter políticas de retirada dos monumentos e das homenagens aos escravocratas, aos colonizadores e aos nazistas, isso tem a ver também com a nossa historia.
Em que momento despertou a necessidade de fazer política?
Luana Alves
É difícil responder essa pergunta, eu acho que não tive um momento de despertar, foi um processo longo que tem a ver com os meus pais que são militantes, tem a ver com o fato de eu ter entrado na USP aos 19 anos e ter me deparado com uma universidade completamente elitizada, branca e que me fez ter vontade de me organizar politicamente, de estar num coletivo anticapitalista, num coletivo de juventude, que foi o (JUNTOS), na época. Também me organizei no movimento estudantil DCE centro acadêmico, movimento negro dentro da universidade, justamente por sentir que era um espaço de exclusão e sentir que precisava de mudança estrutural. Não acho que teve um despertar, foram processos, fui entendendo que a luta coletiva, que a luta organizada era uma possibilidade de atuação de vida. Foi um processo longo que teve a ver com me deparar na vida com diversos lugares de injustiça.
Qual a sua historia com o movimento negro?
Luana Alves
Além de eu ser uma mulher negra, que sofre com o racismo e que me revolto com isso, me entristeço com isso e me movo por isso, também tem a ver com minha criação, com aminha infância. Eu sou filha de uma mãe preta militante, a minha mãe é de Santos, onde eu nasci… ela sempre foi de movimentos de mulheres negras da região, sempre foi uma militante de esquerda, sempre me ensinou o valor da luta coletiva, sempre me valorizou enquanto criança preta, de ser inteligente, de ser bonita, na verdade as crianças pretas recebem o recado contrario na maioria das vezes, de que não são inteligentes, não são bonitas, e eu tive a sorte de ter uma mãe assim. Pra mim foi algo definidor de trajetória.
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