Crédito: Ágatha Flora
Com direção de Rodrigo França, que assina o texto com Mery Delmond, espetáculo enfoca um caso de racismo na escola e estreia na cidade após esgotar sessões no Rio de Janeiro, em 2023
Durante uma reunião escolar entre pais e professores, um homem levanta um importante debate sobre racismo: sua filha de 8 anos foi chamada de “negra fedorenta” por um colega branco. Esse é o mote do espetáculo “Para Meu Amigo Branco”, com direção de Rodrigo França, que chega à São Paulo após bem-sucedidas temporadas no Rio de Janeiro, em 2023. As apresentações acontecem no Sesc Belenzinho entre os dias 1º e 24 de março, com sessões às sextas e aos sábados, às 21h30, e, aos domingos, às 18h30.
Livremente inspirada no livro homônimo do jornalista e ativista social Manoel Soares, a peça venceu o edital Sesc RJ Pulsar e foi indicada ao Prêmio Shell de melhor cenário 2023. Na trama, enquanto a escola prefere lidar com a questão da violência contra a garota apenas como um mero bullying, seu pai, interpretado por Reinaldo Junior, luta para mostrar aos presentes que a situação é bem mais complexa. O impasse ganha novos contornos quando um pai branco (Alex Nader), inicialmente solidário à causa, muda de comportamento ao descobrir que seu filho é o responsável pela agressão.
O texto é assinado por Rodrigo França, que atualmente concorre ao Prêmio Shell de Dramaturgia no Rio de Janeiro por “Angu”, e Mery Delmond. A ideia é que personagens brancos e negros discutam o racismo em cena, estimulando a plateia a refletir sobre as suas ações cotidianas.
Para isso, o público deixa de ser passivo. “A encenação faz o possível e o impossível para que as pessoas esqueçam que estão no teatro e mergulhem na realidade da reunião escolar. Ou seja, além de os espectadores estarem posicionados como se estivessem dentro da ação, a atriz que interpreta a professora circula entre todo mundo, incluindo todos os presentes naquele ambiente”, conta França.
“O espetáculo fala sobre uma figura paterna incansável, que não tolera o racismo e deixa isso bem claro. A peça clama por dignidade. O texto defende que só é possível respeitar o outro se enxergarmos a humanidade do outro”, defende França.
Também foi importante para o diretor o fato de esse personagem combativo ser um pai. “Embora o abandono paternal seja uma realidade bastante presente, esse fato não é uma verdade absoluta. Acredito que devemos oferecer bons exemplos para as crianças e jovens, mostrando que é possível viver de uma maneira diferente”, argumenta.
Para Manoel Soares, o histórico de racismo no Brasil coloca as vitórias da comunidade negra sempre em segundo plano. “Tudo que os pretos têm de positivo acaba sendo ofuscado pela agenda da dor. Essa agenda só vai deixar de existir se for dividida com as pessoas de pele clara”, analisa o comunicador e ativista.
Repercussão do espetáculo no Rio de Janeiro
A peça foi sucesso de público e crítica em suas duas primeiras primeiras temporadas no Rio de Janeiro, no Arena do Sesc Copacabana, em agosto de 2023, assistida por mais de 3.400 espectadores, e no Teatro Domingos Oliveira. Segundo a crítica, é um espetáculo “para ver e rever”, “traz verdades difíceis de engolir” e pode causar “uma bela revolução interior”. Por esse motivo, tem sido intensa a procura pela peça por instituições e empresas interessadas em debater o racismo no interior de suas engrenagens.
“Muitas pessoas que se dizem não racistas acabam reproduzindo o racismo sem se dar conta. Ao assistir ao espetáculo, elas percebem que precisam se autofiscalizar e modificar seus comportamentos”, comenta o diretor e dramaturgo.
A idealização é do diretor, produtor e jornalista João Bernardo Caldeira.
Sobre a encenação
Em relação ao cenário, Clebson Prates buscou sublimar os padrões de conduta da branquitude dominante e hegemônica de uma escola de elite. Por isso, o linóleo, a lousa e as carteiras escolares têm a cor branca. Ao mesmo tempo, diversos livros de autores negros estão suspensos no ar. Por esse trabalho impactante, o cenógrafo concorre ao Prêmio Shell de 2023 pelo Rio de Janeiro.
Crédito: Ágatha Flora
Os espectadores são convidados a se sentar nas carteiras, dispostas em formato circular. E, contribuindo ainda mais para unir público e atores, a iluminação de Pedro Carneiro é bastante viva, quase simulando um ambiente real.
“Se uma sociedade é racista, suas instituições também são. E a escola é um espaço onde as máscaras não se sustentam por muito tempo. Assim, não foi difícil pensar nessa história. O livro do Manoel Soares é um manual antirracista, e eu, que sou professor há mais de 20 anos, já ouvi muitos absurdos de educadores e dos responsáveis pelos alunos nas reuniões”, conta França.
Inclusive, um levantamento divulgado pelo Ipec (Instituto de Referência Negra Peregum) e o Projeto SETA mostrou que 81% da população entre 16 e 24 anos afirma que o Brasil é um país racista e que 64% dos brasileiros dizem que racismo começa na escola.
Mery Delmond ainda complementa: “a partir do olhar sobre a branquitude, a peça desnuda as problemáticas do racismo e localiza o ‘sujeito branco’ como um indivíduo racializado dentro da estrutura de uma sociedade ainda tão racista como a nossa”.
SOBRE O DIRETOR E DRAMATURGO
Rodrigo França é cineasta, articulador cultural, ator, diretor, dramaturgo, escritor e artista plástico. Escreveu sete peças teatrais, como “O Pequeno Príncipe Preto”, “Capiroto” e “Inimigo Oculto”. Entre as obras que dirigiu estão “Oboró – Masculinidades Negras”, “O amor como revolução”, “Enlaçador de mundos” e “Jorge para sempre Verão”. Ganhou o Prêmio Shell de Teatro 2019, na categoria Inovação, pelo Coletivo Segunda Black, no qual é cocriador e curador, iniciativa também contemplada com o 18º Prêmio Questão de Crítica. Além disso, é filósofo político e jurídico, atuando como pesquisador, consultor e professor de direitos humanos fundamentais. É ativista pelos direitos civis, sociais e políticos da população negra no Brasil.
SOBRE OS ATORES
Reinaldo Junior é ator, diretor e preparador de elenco. Em 2023, foi indicado a Melhor Ator no Prêmio Shell pelo espetáculo “O Grande Dia” – idealizado por ele, com texto e direção de André Lemos e realização da Confraria do Impossível, da qual é cofundador. Atuou em peças como “Salina, a Última Vértebra”, da Cia. Amok Teatro; “Mercedes”, do Grupo Emú, do qual é cofundador; e “Óboro Masculinidades Negras”, com direção de Rodrigo França. É gestor do Quilombo Cultural Urbano e do Teatro Chica Xavier e idealizador e curador da Segunda Black (Prêmio Shell 2019). Recentemente, participou da novela “Vai na Fé” (2023),da Rede Globo; e dos filmes “Mussum o Filmis”, da Globo Filmes; e “Nosso Sonho, A cinebiografia de Claudinho e Buchecha”, da Urca Filmes.
Alex Nader começou no teatro aos 11 anos, tendo estudado com nomes como Domingos Oliveira, Hamilton Vaz Pereira, Moacir Chaves e Fabio Barreto. Em 2003, formou-se em Cinema pela Unesa. No teatro, destaca-se por “O Âncora”, “Caranguejo Overdrive”(vencedor dos prêmios Cesgranrio, Shell e APTR nas categorias Texto e Direção) e “A Paz Perpétua” (direção de Aderbal Freire Filho). Na TV, seus últimos trabalhos foram a novela “Quando Mais Vida Melhor”, da TV Globo; e as séries da Globopay “Arcanjo Renegado”, dirigida por Heitor Dhalia; e a segunda temporada de “A Divisão”, dirigida por Vicente Amorim.
SOBRE A ATRIZ
Stella Rodrigues é atriz, cantora e produtora com mais de 30 anos de carreira. Formada pelo Centro de Artes Calouste Gulbenkian, já participou de espetáculos como “O Abre Alas- 150 anos de Chiquinha Gonzaga”, “Cole Porter, ele nunca disse que me amava”, “Suburbano Coração”, “A Ópera do malandro”, “A Presença de Guedes”, com direção de Irene Ravache, “Toilete”, de Walcyr Carrasco, e “Uma Professora Maluquinha”, cuja atuação lhe rendeu uma indicação de melhor atriz no Troféu Mambembe. Entre 2017 e 2019, protagonizou o musical “Emilinha”.
SOBRE A ATRIZ E DRAMATURGA
Mery Delmond é uma atriz, produtora, diretora e roteirista que se dedica ao desenvolvimento de projetos criativos e culturais desde 2015. Em parceria com a produtora Diverso Cultura e Desenvolvimento, implementou várias iniciativas nas áreas de teatro, cinema/audiovisual, música e literatura, com enfoque em questões raciais, de gênero e de diversidade, com destaque para “Contos Negreiros do Brasil”, “Oboró Masculinidades Negras”, “O amor como Revolução”, “O Pequeno Príncipe Preto” e “Inimigo Oculto”.
SOBRE O IDEALIZADOR E PRODUTOR
João Bernardo Caldeira é graduado em direção teatral e comunicação pela UFRJ e mestre em artes da cena pela mesma universidade. É autor, diretor, professor, produtor e jornalista cultural. Pós-graduado em Gestão Cultural pelo Itaú Cultural e doutorando em artes cênicas pela ECA-USP, dirigiu, produziu e escreveu espetáculos como “Avenida Central”, “Atafona O Fim” e “Eu Quem Eu Somos”, realizados pelo Coletivo Cosmogônico (RJ), além de “A Natureza do Olhar”, “A Tropa”, “Agora É Tempo” e “Os Ruivos”.
SINOPSE
Pais e professores discutem o caso de racismo vivido pela menina Zuri, de 8 anos, chamada de “negra fedorenta” por um colega branco da escola.
FICHA TÉCNICA
Inspirado no livro de Manoel Soares
Texto: Rodrigo França e Mery Delmond
Direção: Rodrigo França
Elenco: Reinaldo Junior e Alex Nader
Atrizes convidadas: Stella Maria Rodrigues, Mery Delmond e Marya Bravo
Direção de movimento: Tainara Cerqueira
Cenário: Clebson Prates
Figurino: Marah Silva
Iluminação: Pedro Carneiro
Trilha sonora original: Dani Nega
Consultoria pedagógica: Clarissa Brito
Consultoria de representações raciais e de gênero: Deborah Medeiros
Fotografia: Afroafeto por Gabriella Maria, Sabrina da Paz e Agátha Flora
Identidade visual: Nós Comunicações
Assessoria de imprensa: Canal Aberto – Márcia Marques, Daniele Valério e Marina Franco
Operação de som: Hugo Charret
Operação de luz: Lucas da Silva
Assistência de produção: Ludimila D´Angelis e Eduardo Rio
Produção executiva: Júlia Ribeiro
Contabilidade: Cristiano Geraldo Costa dos Santos
Idealização e direção de produção: João Bernardo Caldeira
Produção: São Bernardo
Instagram: @parameuamigobranco
SERVIÇO
Para Meu Amigo Branco
Data: 1º a 24 de março de 2024. Sextas e sábados, 21h30. Domingos, 18h30.
Local: Sala de Espetáculos I do Sesc Belenzinho (Rua Padre Adelino, 1.000, Belenzinho, São Paulo)
Capacidade: 100 pessoas
Ingressos: R$40 (inteira), R$20 (meia-entrada) e R$12 (credencial plena)
Duração: 80 minutos
Classificação indicativa: 14 anos
Estacionamento
De terça a sábado, das 9h às 21h. Domingos e feriados, das 9h às 18h.
Valores: Credenciados plenos do Sesc: R$ 5,50 a primeira hora e R$ 2,00 por hora adicional. Não credenciados no Sesc: R$ 12,00 a primeira hora e R$ 3,00 por hora adicional.
Transporte Público – Metrô Belém (550m) | Estação Tatuapé (1400m)
Sesc Belenzinho nas redes – Facebook | Instagram | YouTube: @sescbelenzinho
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