Estudo revela que racismo estrutural, desigualdade sistêmica e discriminação racial estão mais presentes na vida social e profissional das pessoas pretas
Nesta quinta-feira, comemora-se o Dia Nacional da Tereza de Benguela e da Mulher Negra. Ela era rainha e administrou o Quilombo do Piolho, composto por cerca de 79 pretos e 30 índios, no Mato Grosso, até 1770. A data celebrativa foi instituída pela lei 12.987/2014. Esta foi uma das personagens mais importantes do período colonial, símbolo da resistência pela luta contra a escravidão. Viveu no século XVIII e assumiu a liderança da comunidade, depois que seu marido, José Piolho, foi assassinado pelo Estado. Não se sabe ao certo como ocorreu a sua morte. Divergem os historiadores sobre o fato de ela ter se suicidado após ser predada pelos Bandeirantes e acerca da versão de ela ter sido assassinada e tido a cabeça exposta.
O racismo estrutural é decorrente de nosso passado, cujo modelo econômico se arrimava na escravidão. O estudo Oldiversity, desenvolvido pela Croma Pesquisa, parte do Grupo Croma, apurou, em uma população de 2 mil pessoas, com margem de erro de 2 pontos percentuais, que 62% dos respondentes declaram que as empresas têm preconceitos para contratar pretos; Entre pessoas pretas, esta percepção é ainda mais acentuada (73%). 69% das pessoas pretas já sofreram algum tipo de discriminação racial e 44% foram vítimas de discriminação social no trabalho.
Os dados revelam um problema histórico. Alforriados em 1888, a massa de homens livres não teve meios para participar do modelo social da época; foram rechaçados por políticas públicas eugenistas que intentavam branquear aquela população, extremamente marginalizada. Construiu-se uma sociedade que funcionava para poucos, segregando mais da metade dos habitantes, preterindo-os do direito ao trabalho, à terra e à vida em sociedade. Tal realidade prevalece até os dias atuais.
Edmar Bulla, fundador do Grupo Croma e idealizador do estudo, crê que esta seja uma luta de todos; conhecimento e consciência social são requisitos importantes para promover mudança: “O racismo estrutural estampa diariamente uma desigualdade sistêmica que precisa de ações impactantes e contínuas para promover inclusão e justiça. O engajamento de governos, instituições, organizações e sociedade civil é fundamental no combate ao preconceito racial”.
A condição do negro hoje é consequência desse sistema. Por trezentos anos, vidas humanas foram usadas como mercadoria. Tal prática era justificada por ciências sociais que inferiorizavam outras etnias para submetê-los a uma forma de trabalho que se ajustava ao sistema colonial, por meio da exploração econômica coercitiva e despótica, cujo empreendimento se tornava compensador.
“A luta pela igualdade e pelo fim do racismo é uma bandeira de todos, e a conscientização e o engajamento da sociedade são fundamentais para promover uma mudança significativa. Por isso, empresas e marcas devem adotar uma postura atuante para enfrentar o preconceito em relação às pessoas pretas. A criação de debates, o estímulo ao respeito mútuo e a adoção de políticas de empregabilidade e de impacto social são elementos para a construção de uma sociedade mais inclusiva”, afirma Bulla.
Outra informação importante explorada pelo levantamento revela que pretos são otimistas sobre o combate ao preconceito no atual governo. 59% acreditam que haverá melhora depois que Lula ocupou a cadeira do executivo. Apesar do otimismo com a nova liderança na situação, quase metade da população acredita que nada vai mudar ou até haverá piora. Esse é mais um sintoma de que faltam políticas públicas que trabalhem em prol das minorias no país. O racismo ainda está muito estruturado na dinâmica social brasileira.
“ De 2020 para cá, a situação não melhorou. Por exemplo, o preconceito na contratação de pessoas pretas em 2023 atinge 62%, enquanto era 61% em 2020. Esta diferença de um ponto percentual, ainda que dentro da margem de erro, demonstra que o preconceito ainda persiste. Vale observar ainda que 59% de brancos atestam que existe tal comportamento contra 73% dos pretos”, conclui.
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