PRETOS EM CONTOS Oficina de Escrita Criativa – Foco no Conto Curto
INSPIRAÇÃO “Ele tem uma autoria, um sujeito, homem ou mulher, que com uma subjetividade própria vai construindo
Nasci em um sábado, pela manhã, com o cordão umbilical enrolado no pescoço.
Roxo.
Pardo
Preto
Negro.
Aos três anos descobri que as letras tinham significados. Também ganhei uma irmã, como o mesmo nome da nossa avó.
Pardo
Pardinho
Aos cinco, a interrogação. Por que não a chupeta? Agora sou o mais velho?
Tenho que dar o exemplo pra Paula e o Paulo.
Tenho? Para que?
Para quem?
Pretinho!
Preto!
Pretão!
Aos nove, não era sintético, porque não … por que sim …
Aos doze, quis ser metonímia. Sagitário e rato no chinês. Perdia noites acordado pensando na morte da bezerra ou da minha mãe ou do meu pai ou da minha tia …
Negrinho
Negro.
Black Power
Aos quinze, conquistou a exclamação. Oi! Estava no segundo beijo. Terceiro abraço. Estou maior que o meu pai.
Preto
Pretão.
Black Bonito
Aos dezessete, viu os morfemas. Auto e contra. Pró. Sangue.
Sou maior que o meu primo mais velho
Negro
Negrão
Aos dezoito, foi liberado do tiro de guerra, virou perífrase. É!
Quase quis Agronomia
Negrão
Foi para as Letras.
Negro só
Aos vinte, estava no palco. Ser e também ser: outra questão Negro
Aos vinte e seis, desenredei a Lingüística e atuei com meninos e meninas de rua.
Black zuado
Aos trinta e cinco, recebi o maior presente: aquela que lhe trouxe a felicidade: Minha filhota, Beatriz.
Black
Negro
Tranças
Aos quarenta, desvendou uma ligeira maturidade e ironia: foi morar só
Aos quarenta e cinco, recebeu o prazer de viver no adjunto adverbial de companhia.
Aos cinquenta, toma remédio para pressão e usa óculos até para atender telefone.
Com cinquenta e um, lança o primeiro romance: O NAMORADO DO PAPAI RONCA
Aos cinquenta e três, o segundo livro, CORAÇÃO PELUDO, uma coletânea de contos.
Aos cinquenta e cinco, louvo os meus antepassados com o livro OUTRAS VOZES
Aos cinquenta e sete, quase tudo junto, soltei: DE RUA, BOMBONS SORTIDOS e LUIZA
No momento seguinte, cometi algumas NOTAS DE ESCURECIMENTO
Hoje, com mais de sessenta, me divirto cometendo escritos.
Negro
INSPIRAÇÃO “Ele tem uma autoria, um sujeito, homem ou mulher, que com uma subjetividade própria vai construindo
A mãe acorda muito cedo, o filho é grande e pesado, mas age como um bebê, não se mantém
Boi falô!?! Contou o negro Toninho para o capataz que o mandou trabalhar em dia santo. Dali o escravo
Sentada, olhando para fora. Farol vermelho. Muro branco. Três moleques pretos de costas, mãos nas costas, costas nuas,
Não se conteve. Em meio a tantos que se aglomeravam no convés, foi o primeiro a pisar em terra
Niara saiu pela noite. Seus passos irritados e ágeis, um ritmo pelo asfalto. O repicado batia em meus ouvidos dizendo
No dia em que estava trocando o piso de um apartamento em um bairro longe do seu, foi à
FOTO: MARCOS MUNIZ O Binho era daqueles caras raros que a quebrada não dava conta de acolher. Desde pequeno,
Joe não sabia nada da vida mas quem é que sabe! Queria ser vida Loka, como os Manos lá
Minha mãe disse que no dia em que eu nasci, bateram na minha bunda e disseram para ela: