Treze de Maio

Treze de maio traição,
liberdade sem asas
e fome sem pão


Liberdade de asas quebradas
como
........ este verso.

Liberdade asa sem corpo:
sufoca no ar,
se afoga no mar.

Treze de maio – já dia 14
o Y da encruzilhada:
seguir
banzar
voltar?

Treze de maio – já dia 14
a resposta gritante:
pedir
servir
calar.

Os brancos não fizeram mais
que meia obrigação

O que fomos de adubo
o que fomos de sola
o que fomos de burros cargueiros
o que fomos de resto
o que fomos de pasto
senzala porão e chiqueiro

nem com pergaminho
nem pena de ninho
nem cofre de couro
nem com lei de ouro.

O que fomos de seiva
.......................de base
..................... de Atlas
o que fomos de vida
........................e luz
chama negra em treva branca
.......................quem sabe só com isto:


que o que temos nós lutamos
para sobreviver
e também somos esta pátria
em nós ela está plantada
nela crispamos raízes
de enxerto mas sentimos
e mutuamente arraigamos
....quem sabe só com isto:

que ela é nossa também, sem favor,
e sem pedir respiramos seu ar
....a largos narizes livres
bebemos à vontade de suas fontes
... a grossas beiçadas fartas
tapamos-destapamos horizontes
....com a persiana graúda das pálpebras
escutamos seu baita coração
....com nosso ouvido musical
e com nossa mão gigante
batucamos no seu mapa
....quem sabe nem com isso

e então vamos rasgar
a máscara do treze
para arrancar a dívida real
com nossas próprias mãos.

Oliveira Silveira
Banzo - Saudade Negra

Portal – A instituição do 20 de Novembro como "Dia Nacional da Consciência Negra" partiu de vocês, negros gaúchos. Como surgiu essa idéia?

Oliveira Silveira – O 20 de novembro começou a ser delineado em encontros informais na Rua dos Andradas, aqui em Porto Alegre. Estávamos em 1971. Reuníamo-nos e falávamos muito a respeito do 13 de maio, do fato desta data não ter um significado maior para a comunidade. A partir desta constatação comecei a procurar outras datas que fossem mais significativas para o movimento. Comecei a estudar a fundo a história do negro e constatei que a passagem mais marcante era o Quilombo dos Palmares. Como não haviam datas do início do quilombo, tampouco do nascimento de seus líderes, optei pelo 20 de novembro. Colhi esta informação numa publicação da Editora Abril dedicada a Zumbi, que dava esta data como a de seu assassinato, em 1665. Por ser uma revista, não se apresentava como fonte segura. Resolvi pesquisar um pouco mais, como forma de garantia. mais adiante, no livro "Quilombo dos Palmares", de Edson Carneiro, a data se repetia. Considerei esta fonte segura, pela importância do autor. Além disto, tive acesso a um livro português que transcrevia cartas da época, numa delas era relatada a morte de zumbi, em 20 de novembro de 1665. A partir de então colocamos em ação nossas propostas. Batizamos o grupo de Palmares e registramos seu estatuto, em julho. No dia 20 de novembro do mesmo ano (1971),
evocamos pela primeira vez o "Dia Nacional da Consciência Negra", na sede do Clube Marcílio Dias.

Portal – O racismo no sul é mais forte? Ouvi comentários, por exemplo, que negros não entravam no Centro de Tradições Gaúchas. É verdade?

Oliveira Silveira – Este é um caso emblemático. O Centro de Tradições Gaúchas foi criado na década de 40. O modelo era o da estância tradicional do Rio Grande. Uma fazenda de criação de gado, com patrão, capataz e peões. Foi um sucesso, e por iniciativa de tradicionalistas brancos, espalharam-se por todo país. Com o tempo caracterizaram-se como sociedades recreativas, com pretensões culturais. A verdade é que quando os negros aproximavam-se dos Centros eram rechaçados. Foram realmente excluídos.

Por reação, surgiram Centros exclusivos de negros! Isto mesmo, Centros de Tradições Gaúchas criados e frequentados por negros! O mais antigo deles é o "Lanceiros de Calabar", que fica na cidade de Alegrete.

"O racismo está presente no Sul, bem como no resto do país, e seus efeitos são similares. Talvez aqui seja mais evidente, afinal a quantidade de negros é bem inferior a de descendentes de europeus. O fato é que o racismo no Rio Grande do Sul tem as mesmas características históricas de todo Brasil."

Primeiro ato evocativo de 20 de novembro realizado em 1971 pelo Grupo Palmares, em Porto Alegre
"Há pessoas que imaginam que o Grupo Palmares tenha chegado ao 20 de Novembro através da obra de Décio Freitas, historiador branco que escreveu "Palmares, A Guerra dos Escravos", livro que teve o mérito de pesquisar mais a fundo a vida de Zumbi. O fato é que quando decidimos pela data, não conhecíamos nem Décio Freitas nem sua obra, ele a havia editado no Uruguai, durante o exílio, em agosto de 1971. A decisão de nosso grupo, portanto, é anterior a publicação de seu livro."
Movimento Negro
A figura ilustra um "Lanceiro Negro"
Abertura

A obra e suas influências
"Mãe Preta"

Consciência racial
"Encontrei Minhas Origens"

Cultura e resistência

"Cantar Charqueada"