Uma Mulher de Raça chega ao Sucesso.
Entrevista
realizada em 13 de janeiro de 2004,
por Rosangela Malachias - fotos Jader Nicolau Jr.
Jorgete Leite
Lemos - Consultora organizacional, dirige há 14 anos o seu
próprio negócio, a empresa Evolução Profissional
Organizacional Consultoria, atuando nos segmentos de Consultoria de Gestão
e Organização, focadas nos princípios da Responsabilidade
Social Corporativa.
Anteriormente, Jorgete atuou por mais de 20 anos como gestora coorporativa
nas áreas de Gestão do Social e Benefícios (Remuneração
Indireta), em empresas tais como a Souza Cruz e a Copersucar, em âmbito
regional (RJ,DF,MG e ES) e nacional, respectivamente.
É vice-presidente de Responsabilidade Social da ABRH - Associação
Brasileira de Recursos Humanos,desde 1999, tendo sido reeleita para o mandato
atual, 2004/2006.
Desde 1986 tem atuação marcante na ABRH São Paulo, seccional
da ABRH Nacional, anteriormente denominada APARH, onde vem exercendo cargos
de coordenação de grupos de profissionais da área de
Serviço Social, e como membro do Conselho Deliberativo, por três
mandatos.
Portal Afro - Fale-nos um pouco mais da ABRH. Há quanto tempo ela existe e o quê ela faz?
Fundada em 1965, tem atualmente 20 Seccionais, 42 pontos
de presença no território brasileiro. Uma comunidade de 50.000
pessoas.
O Sistema Nacional ABRH tem representatividade global, por sua filiação
a World Federation Of Personnel Management Associations e a FIDAP Federacion
Interamericana de Asociaciones de Gestion Humana.
O Sistema Nacional tem como Missão:
"Disseminar o conhecimento do mundo do trabalho para desenvolver pessoas
e organizaçòes, influenciando na melhoria da condição
social, política e econômica do país"
O Sistema Nacional tem associados profissionais que atuam na gestão
de pessoas e empresas.
Portal Afro - No Brasil, o racismo no mercado de
trabalho tem excluído homens negros e mulheres negras do acesso aos
empregos. O que a ABRH pode fazer para minimizar essa realidade?
Considerando a missão do Sistema Nacional ABRH , afirmamos que o Sistema
Nacional ABRH já vem desenvolvendo estratégias para minimizar
esta realidade.
Apontaremos as estratégias definidas e desenvolvidas por nós,
a partir do ano de 2000, quando assumimos a Vice-presidência Responsabilidade
Social do Sistema.
Processo e suas etapas:
1ª etapa:Definição política
Em 1999, o presidente da ABRH Nacional, Cássio Cury Mattos, definiu
que a ABRH Nacional deveria posicionar-se e atuar de forma clara, nas questões
relativas à Responsabilidade Social Corporativa(empresarial).
2ª etapa: Sensibilização,
envolvimento e comprometimento da própria Associação
Como um sistema que congrega atualmente 20 Seccionais situadas nas capitais
dos Estados de: Amazonas, Pará, Ceará, Paraíba, Pernambuco,
Alagoas, Sergipe, Bahia, Minas Gerais, Espírito Santo, Rio de janeiro,
São Paulo, Santa Catarina, Rio Grande do Sul, Paraná, Mato grosso,
Mato Grosso do Sul, Rondonia, Goiás e Distrito Federal..., inicamos
um extenso trabalho de sensibilização e enraizamento dos valores
do Sistema Nacional ABRH em todas as Seccionais.
3ª etapa:Organização de Comitê
Responsabilidade Social
Organizamos um comitê composto por profissionais de empresas de grande
porte e de várias regiões do País, idealizamos e realizamos
mais de 27 Seminários em todas as Seccionais, envolvendo diretamente
empresas e seus profissionais de gestão de pessoas, com o tema Responsabilidade
Social Corporativa.
4ª etapa: Parcerias
Como vice-presidente de Responsabilidae Social do Sistema, conduzi a formalização
de parcerias com diversas organizações públicas e privadas,
gerando pesquisas e produção técnica.
5ª etapa: Definição do Foco
Em 2001, iniciamos a implantação do Projeto Voluntários
do Brasil, cujo foco é "Educação, Trabalho e Renda",
tendo como população-alvo os excluídos , aqueles sem
acesso às oportunidades de educação, trabalho e renda.
Como resultado temos atualmente o modelo implantado pela Seccional de Minas
Gerais, que é o Treina Minas, a nossa referência nacional.
A exclusão das segmentações sociais consideradas minorias
,por diversas causas entre as quais o racismo, sempre esteve presente em nossas
propostas e ações
Atualmente, alcançamos um patamar que nos permite refinar ainda mais
o foco de atuação, ou seja: disseminar informações,
sensibilizar, envolver, comprometer empresas e profissionais de gestão
de pessoas, quanto a particularidades dessa exclusão social que nos
assola; a inaceitação à diversidade racial, particularmente
aos negros e este será o nosso alvo a partir da gestão iniciada
em 2004.
O Sistema vem usando os seus meios de comunicação, veiculando
seu posicionamento sobre as questões da diversidade, apoiando também
na divulgação de eventos de outras organizações
, organizando informações para subsidiar gestores a partir de
estudos e experiências bem sucedidas.
Portal Afro - Você é uma mulher negra. Como foi a sua
trajetória no mercado de trabalho? Você foi discriminada?
Ainda estudante, cursando o último período do 4º ano do
curso de Serviço Social, fui indicada pela Faculdade de Serviço
Social do Rio de Janeiro, na qual estudava, para concorrer a uma vaga de estagiária
em Serviço Social, disponibilizada pela Souza Cruz. Participei de todo
o processo , fui aprovada nos testes seletivos e a última etapa era
a entrevista com o Gerente Geral da Unidade (Vendas,Rio de Janeiro), que ao
ver que "Jorgete" era uma negra, perguntou: "A senhora sabe
que nós não temos negros aqui?" E continuou: "se a
senhora der problema, já sabe !..."
Ingressei na Souza Cruz e fui a primeira estagiária
do Serviço Social na área de Vendas, no Rio de Janeiro. Cumpri
a minha missão, ganhei amigos, inclusive o próprio Gerente,
parceiros de trabalho e iniciei a minha "marca" profissional em
uma empresa multinacional, de grande porte.
Findo o estágio, respondi a uma chamada da mesma Souza Cruz, que oferecia
a oportunidade de colocação para uma vaga na função
de Assistente Social. Participei do processo, fui admitida (1972) e em menos
de dois anos após, eu já era a Coordenadora Regional de Serviço
Social da Souza Cruz (MG, DF, ES, ES),onde permaneci até 1980.
O meu primeiro emprego após a conclusão da Faculdade foi decorrente
de concurso público para acesso ao antigo INAMPS - Instituto Nacional
de Assistência Médica e Previdência Social. Obtive uma
excelente classificação e fui atuar em um Centro Social no bairro
de Coelho Neto, Rio de Janeiro. Apesar da aparente segurança que o
emprego público me oferecia não aceitei o estilo de trabalho
adotado, e pedi minha demissão.
Voltando ao ano de 1980, após ter saído da Souza Cruz, comecei
a participar de processos seletivos no estaddo de São Paulo, para duas
empresas; uma na cidade de São Paulo e outra, na cidade de Ribeirão
Preto.
O processo de admissão para a empresa em Ribeirão Preto caminhou
mais rapidamente e após ser aprovada em todos os testes seletivos,
eis que chega o momento da entrevista com o Gerente ... e pela segunda vez,
vi e ouvi a expressão de contrariedade : "Jorgete é a senhora
?"
Permaneci na Usina, em Ribeirão Preto durante 7 dias e nesse período,
sequer pediram a minha carteira profissional para ser assinada.
Nesse período, recebi o chamado da Copersucar, a outra empresa na qual
estava participando de processo seletivo, e mudo para a cidade de São
Paulo, vindo a ser a primeira negra a ocupar um cargo de gestão na
administração, permanecendo lá por 9 anos, na implantação
e coordenação da área de Serviço Social no grupo
Copersucar, Cia. União dos Refinadores de Açúcar e Café
e Refinaria Piedade-RJ, atuando nas unidades situadas nos estados de São
Paulo, Paraná, Mato Grosso, Bahia,Espírito Santo,Rio de janeiro.
A partir de 1990, iniciei a minha carreira como Consultora Organizacional
e nesta atividade, mantenho relacionamento direto com dirigentes de empresas
de todos os portes, nacionais e multinacionais, públicas e privadas.
Portal Afro - O que você pensa sobre a implementação de ações afirmativas que incluam negros no mercado de trabalho?
Meu posicionamento sobre
ações afirmativas é baseado no conceito apresentado por
Vera Soares, em "As ações afirmativas para mulheres na
política e no mundo do trabalho no Brasil", que considero perfeitamente
aplicável às ações afirmativas para inclusão
dos negros.
Ações afirmativas "de um modo geral, comportam avaliar
as causas e consequências da desigualdade e os meios para corrigir os
desequilíbrios,eliminar a discriminação e promover a
igualdade de oportunidades. São estratégias destinadas a estabelecer
a igualdade de oportunidades,por meio de medidas que compensem ou corrijam
discriminações resultantes de práticas ou sistemas socias"
Acho vital, que haja ações afirmativas e inter-relacionadas
nos âmbitos: Legal, Educacional , Trabalhista , de Comunicação
e Marketing, que efetivem intenções e que possam também
reposicionar o negro na sociedade em geral.
Tais ações são correções, em um sistema
social doente que subestima e abre mão de talentos humanos negros.
A eliminação do "gap" existente entre oportunidades
para negros e não negros precisa está sustentada pela conscientização
da sociedade; revisão de atitudes e comportamentos preconceituosos
e ações de discriminação.
O Sistema Nacional ABRH é uma das portas de entrada para novos posicionamentos,
no mundo do trabalho.
Portal Afro - Muitas mulheres e jovens negras leitoras do Portal Afro estão conhecendo você nessa entrevista. Qual a sua orientação para essas leitoras enfrentarem o mercado de trabalho ?
1. Planejar a vida e
a carreira;
2. Cumprir positivamente as suas metas;
3. Manter-se atualizada, via meios de educação formal e informal;
4. Conviver com a mais ampla e diversificada rede de pessoas e profissionais;
5. Perceber-se sempre como ser humano, uma cidadã e não pela
cor da sua pele;
6. Nunca generalizar experiências negativas, e procurar usá-las
como oportunidade de melhoria; e
7. Amar-se, muito.
Saiba sobrea a área de responsábilidade de Jorgete Lemos
A Vice-Presidência de Responsabilidade Social é um subsistema do Sistema Naconal ABRH que deve gerar : · definições sobre Estratégias a serem adotadas pelo Sistema no âmbito da Responsabilidade Social Corporativa e oportunidades de negócio que atendam pró-ativamente as demandas dos seus diversos públicos de interesse Promove a sensibilização e incentiva à ação,nas diversas instâncias de poder, via formalização de parcerias, para a disseminação e prática de valores éticos e de Responsabilidade Social a partir das organizações empresariais e para os seus diversos públicos de interesse Tem como função efetivar o posicionamento do Sistema ABRH Nacional, como referencial de excelência na disseminação dos valores da qualidade na gestão do social, apoiada em princípios éticos e de Responsabilidade Social, em âmbito nacional e internacional. ver: www.abrhnacional.org.br - vp de responsabilidade social.