Portal Afro - O que a levou a estudar a obra de Portinari?

Annick T.Melsan - Acredito que Portinari, embora descendente de italianos, identificou-se de forma impressionante com a realidade brasileira, principalmente com sua face menos favorecida. Suas obras denunciam a injustiça e a discriminação racial e social no Brasil. Quando vi pela primeira vez a obra "Café" fiquei impressionada! Para mim, é uma das obras-primas da pintura do século 20, pois simboliza uma ferida profunda na alma de uma comunidade. Ela tem um valor emblemático da exploração do negro e, ao mesmo tempo, da força desse elemento na construção da cultura brasileira. De certa forma o Brasil é também uma grande e extraordinária obra, com todas as suas contradições.

Portal Afro - Qual foi sua reação ao conhecer essas contradições?

Annick T.Meksan - Para mim foi um descobrimento extraordinário. O conflito que eu vivia, entre a Guiana e a França, onde fui educada, era algo que eu não compreendia muito bem. Ao chegar aqui entendi que as contradições da sociedade brasileira eram as mesmas que eu vivia.

Portal Afro - Essa complexidade se repete em outros países?

Annick T.Melsan - Sim. Veja a complexidade de todo o continente africano, com suas disputas territoriais e conflitos étnicos. Claro que muitos desses problemas foram gerados ou agravados durante o período colonial. Na verdade vivemos uma perspectiva histórica completamente abstrata, que não corresponde à realidade dos povos. Para ilustrar, posso citar a diferença que se estabeleceu entre dois povos anteriormente considerados indígenas na África do Sul. De um lado os que sempre estiveram por lá, na Península do Cabo, que são negros de pele clara e se consideram indígenas. Por outro lado temos os Zulus, que a partir do século 17 desceram para a África do Sul, iniciaram um movimento de resistência contra os holandeses e ingleses e por lá se estabeleceram. Estes últimos não aceitam o termo indígena, consideram-se um povo tribal. Diante disso, a ONU teve que complementar a designação, agora o que vale é: Povos Indígenas e Tribais.


"O colonizador branco soube dividir para dominar"


Portal Afro - "O Brasil não é um país sério". Essa frase foi atribuída ao ex-presidente francês Charles De Gaulle. A senhora acredita que ele realmente disso isso?

Annick T.Melsan - Já conversei com muitos diplomatas franceses que garantem que De Gaulle não falou nada disso. O mais interessante para mim não é o fato de saber se foi ele quem falou ou não, mas sim constatar que o Brasil adotou essa frase como uma definição possível da sociedade brasileira.

Portal Afro - Como assim?

Annick T.Melsan - De certa forma, a frase foi incorporada à história do país. Ela foi importante no tempo da ditadura por ajudar na crítica ao sistema. Na verdade, ela poderia ter sido atribuída a De Gaulle ou a outro europeu qualquer, devido à visão que se tinha do Brasil lá fora como país do carnaval e do samba, onde todos eram "porra loca". O fato é que, lenda ou não, foi incorporada à história do Brasil.

Portal Afro - Qual sua ascendência?

Annick T.Melsan - Meu sangue é o resultado da mistura de três etnias. Sou negra, identidade que reivindico como minha principal característica. Não sei exatamente quem foram meus antepassados africanos, mas sei que foram para a Guiana como escravos, provavelmente no século 18. Minha avó materna era uma índia do Oiapoque, o que muito me honra. Por fim, descendo também de europeus da Córsega e Alsácia.

Portal Afro - Foi difícil entrar para a carreira diplomática?

Annick T.Melsan - Até hoje sou a única negra que exerceu essa função para a França. Para mim é complicado explicar.

Portal Afro - Qual sua opinião sobre a diplomacia brasileira?

Annick T.Melsan - Os diplomatas brasileiros têm a fama de serem muito competentes. E são. Particularmente respeito muito o trabalho desenvolvido por eles. O problema é que a diplomacia desenvolvida pelo Itamarati [Palácio do Itamarati, em Brasília, que concentra as atividades diplomáticas do país] é uma cópia perfeita da competência tradicional da diplomacia européia, e isto ocorre justamente num momento em que ela vive uma crise e procura novos rumos. O Itamarati continua querendo ser o melhor aluno de uma escola ultrapassada.

Portal Afro - As funções da diplomacia estão mudando?

Annick T.Melsan - Todos sabem que hoje em dia a diplomacia não faz mais as relações internacionais. Isto acontecia apenas no início do século 20. A função da diplomacia mudou. Hoje quem dita os rumos das relações internacionais são as grandes empresas a serviço da globalização econômica. A diplomacia está presente para acompanhar, completar, interpretar, organizar e manter os rituais necessários para o bom andamento dessas atividades.

Portal Afro - A diplomacia está perdendo sua importância?

Annick T.Melsan - Não. Apesar das mudanças, as funções consulares continuam importantes. A embaixada é a representação política de um país.

Portal Afro - Neste caso, a diversidade étnica brasileira não está representada em suas embaixadas?

Annick T.Melsan - A imagem que o Itamarati passa para o exterior, com seus diplomatas, que, embora muito morenos para serem brancos, continuam portando-se como não-negros e sim "brasileiros", é uma coisa um pouco ridícula. O presidente Fernando Henrique Cardoso parece querer reverter esse quadro ao acenar com um programa de cotas que favoreçam o ingresso de afrodescendentes no Itamarati.


"Fernando Henrique Cardoso sempre falou que tinha o pé na cozinha, mas demorou muito para dar início ao programa de políticas de cotas para negros"


É fundamental que a competência técnica demonstrada pelos diplomatas brasileiros seja sistematicamente ligada à realidade e representatividade da sociedade brasileira como um todo.

Portal Afro - Trabalhar no Brasil foi uma opção ou a senhora foi designada para o cargo?

Annick T.Melsan - Foi minha opção. Desde a primeira vez que estive no Brasil fiquei ligada neste país. Antes de assumir um cargo diplomático, voltei várias vezes e acabei me envolvendo com a cultura brasileira. Quando foi possível escolher um país para servir, não tive dúvidas: optei pelo Brasil. Foram 4 anos muito importantes em minha vida. Ficava baseada em Brasília e viajava por todo o país

Portal Afro - Quais eram os objetivos de sua missão?

Annick T.Melsan - Cheguei ao Brasil em 1983, durante o processo de abertura democrática , quando a prioridade era acabar com a ditadura. Tecnicamente eu era conselheira cultural de cooperação científica e técnica da França no Brasil. Minha primeira missão era provar que o Brasil poderia ser um parceiro em potencial, com o qual se poderia estabelecer uma cooperação igualitária, como um todo, incluindo o contingente negro. Briguei bastante para que o Brasil fosse tratado pela França de igual para igual, por isso concebi o projeto França Brasil.

Portal Afro - E qual era o objetivo desse projeto?

Annick T.Melsan - Apesar da França adorar o Brasil, naquela época ela não o queria como parceiro econômico. Um bom exemplo dessa política vem dos anos 60, quando a Renaut resolveu instalar-se na América Latina. Os brasileiros estavam doidos para receber a fábrica, mas os franceses escolheram a Argentina... Tempos depois eles se "tocaram" e agora estão por aqui, e muito bem.

Portal Afro - Por que eles preferiram a Argentina?

Annick T.Melsan - A Argentina era considerada um país muito mais próximo da Europa, mais branco.


"Querendo ou não, a imagem que o Brasil tem no exterior é a de um país de maioria negra".


Eu mesma, durante muito tempo, sofri essa discriminação dentro do sistema francês.

Portanto, a Casa França Brasil, instalada no Rio de Janeiro, um projeto meu e de Darci Ribeiro [antropólogo que estudava as relações raciais no Brasil], era uma maneira de resgatar e firmar essa credibilidade. O prédio onde ela está instalada foi construído pelos arquitetos da missão francesa de 1814. Foi o primeiro prédio neoclássico da América Latina. Dentro do projeto, sempre tentei dar importância aos aspectos africanos da cultura brasileira.

Portal Afro - Foi difícil estabelecer essa conexão?

Annick T.Melsan - Realmente era difícil ser uma militante afro dentro daquele contexto, mesmo assim consegui alguns trunfos. Lembro que em 1985, o ex-ministro da cultura da França Jacques Lang veio ao Brasil pela primeira vez e o recepcionamos com uma cerimônia em homenagem ao candomblé, com reverências a Clementina de Jesus, Grande Otelo e Mãe Menininha do Gantois, entre outros. Foi um escândalo... Fiz o que me foi possível pela causa afro.

Portal Afro - A senhora queria eliminar a segregação imposto ao Brasil?

Annick T.Melsan - Vivemos num mundo profundamente discriminador. A segregação ocorre em diversos níveis. Um bom exemplo é a riqueza do Hemisfério Norte (Europa, Estados Unidos e Canadá) em contraponto a pobreza do Hemisfério Sul. Mesmo dentro do Brasil a segregação é praticada, a diferença é que aqui a parte desenvolvida está no Sul e a pobreza concentra-se no Norte. Desenvolvi ao longo dos anos uma visão bem distanciada de diversos critérios para avaliar a grande complexidade da discriminação. Ela é racial, sem dúvida. Mas também pode ser econômica, cultural, geográfica ou geopolítica.

Portal Afro - Com quais organizações brasileiras a senhora se envolveu para concretizar seu trabalho?

Annick T.Melsan - Foram várias: CNPq [Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico], a USP [Universidade de São Paulo], a Embrafilme...

Portal Afro - A senhora desenvolveu algum projeto que beneficiasse a cultura afro-brasileira em algumas dessas organizações?

Annick T.Melsan - Sempre tentei favorecer os afrodescendentes, principalmente os estudantes, facilitando o acesso a bolsas de estudo. O problema é que naquele tempo o movimento negro não era organizado como agora, não existiam grandes projetos, tudo girava apenas ao redor da música e do candomblé. Mesmo assim eu batalhava. Sempre que possível comparecia a palestras e reuniões. Conhecia os mais importantes militantes negros da época, como Joel Rufino [professor e escritor carioca] e José Aparecido, que era secretário da cultura de Minas Gerais, com quem discuti a necessidade de se criar um órgão federal para tratar da questão negra [esse órgão viria a ser a Fundação Cultural Palmares], numa reunião muito importante em Ouro Preto, interior de Minas Gerais.

Portal Afro - A senhora também produziu filmes. Como foi essa experiência?

Annick T.Melsan - Entre 1990 e 1993, interrompi minha vida diplomática e produzi três filmes com Aimé Césaire, o poeta que criou o conceito "Negritude". Eu me sinto honrada por ser uma de suas filhas afetivas.

Portal Afro - Fale-nos sobre Aimé Cesaire.

Annick T.Melsan - Ele é um dos militantes negros mais importantes do século 20. Nasceu na Martinica e foi comunista, como muitos dos intelectuais do Terceiro Mundo, mas saiu do partido muito cedo, denunciando, através de um texto extraordinário, que o comunismo era apenas uma outra forma de exploração dos afrodescendentes. Isto em 1955!

Portal Afro - Os filmes falam sobre o que?

Annick T.Melsan - Fizemos uma leitura "negra" do século 20, abordando desde os movimentos anti-colonialistas, as guerras e a independência dos países africanos até a cultura do Harlem [lendário bairro negro de Nova York] e o nascimento do jazz.

Portal Afro - Fala-se do Brasil no filme?

Annick T.Melsan - Infelizmente, muito pouco. Césaire esteve apenas uma vez no Brasil, no final dos anos 60...

Portal Afro - Qual sua opinião sobre o movimento negro brasileiro?

Annick T.Melsan - O trabalho do movimento negro no Brasil, considerando os parcos recursos e as condições em que ele se desenvolve, é fantástico. O problema é a falta de conexão com os outros organismos de combate ao racismo, espalhados pelo mundo. Neste sentido a Conferência de Durban [encontro organizado pela ONU na África do Sul, em agosto de 2001, que tinha o racismo como um dos temas principais] foi muito importante, pois, pela primeira vez, as entidades negras brasileiras tiveram que participar de um grande evento internacional.

Portal Afro - Quais as desvantagens dessa desconexão com outros países?

Annick T.Melsan - Existem estudos que foram fundamentais, não apenas para o movimento negro, mas para o Humanismo universal! E muitas dessas informações são desconhecidas por grande parte dos militantes brasileiros. São textos que precisam ser conhecidos! Não pode haver luta sem informação. Figuras fundamentais na luta contra o racismo, como Franz Fanon [médico e escritor antilhano, autor do célebre estudo "Peles Negras, Máscaras Brancas"], Léopold-Sedar Senghor [político e poeta senegalês, morto no final de dezembro de 2001] e Aimé Césaire [criador do termo "negritude"], são ilustres desconhecidos para muitos negros brasileiros! A contribuição de Césaire, por exemplo, foi enorme. Uma de suas frases mais significativas diz:

"Existem duas maneiras de se perder: por segregação, emparedado no particular ou por diluição no universal..."

Essas palavras valem para qualquer grupo étnico: índios, judeus, negros, etc. Continuando:

"Minha concepção do universal é de um universo rico de todo um particular com a existência e aprofundamento de todos os particulares"

Não é unicamente uma questão reivindicatória de cor de pele. Vivemos num mundo pequeno e promíscuo. Precisamos conquistar o conhecimento. Não podemos desprezar a enorme quantidade de textos, referências e lutas já travadas.

Portal Afro - E o que deve ser feito?

Annick T.Melsan - É preciso efetuar um estudo sistemático do material disponível. Por exemplo, a luta de Mandela [Nelson Mandela, líder na luta contra o apartheid] na África do Sul não existiria sem Gahndi [Mahatma Ghandi, pacifista que se opunha ao domínio inglês na Índia]. Toda a luta de Mandela e do Congresso Nacional Africano inspirada no Congresso Indiano, criado por Gandhi quando morou na África do Sul. A lição humanista de Gandhi foi utilizada para combater o apartheid, para redirecionar a relação entre brancos e negros na África do Sul.

Portal Afro - Como a senhora analisa a participação das mulheres no movimento negro?

Annick T.Melsan - As mulheres são as batalhadores de frente, são as "porta-bandeiras". Além de toda problemática do racismo, elas enfrentam também o preconceito de gênero. As mulheres têm um papel fundamental. Acredito que por serem mais generosas, postulam a reconciliação, pensam nas crianças e no futuro. Os homens são mais empíricos em seus objetivos. Particularmente, como mulher, sempre achei que participar dessa luta fazia parte de minha identidade. Fiquei muito orgulhosa, como mulher, pela escolha da brasileira Edna Roland [psicóloga, presidente da Fala Preta! ] como relatora oficial da Conferência em Durban. Estamos avançando!

Portal Afro - Como diplomata e analista internacional quais suas conclusões sobre os atentados de 11 de setembro nos Estados Unidos?

Annick T.Melsan - O ano de 2001 deveria ser dedicado ao diálogo entre as civilizações. Havia um consenso internacional que reivindicava que o primeiro ano do terceiro milênio da era cristã fosse dedicado ao diálogo entre os povos. No entanto nada disso aconteceu e, no final do ano, vieram os atentados. A partir de então, temas como conflito de civilizações, segregação e intolerância religiosa passaram a ocupar com destaque a agenda internacional. Na verdade, os atentados foram o resultado de uma situação que os desfavorecidos do mundo vivem e os capitalistas globalizadores teimam em ignorar: o mundo está numa fase de implosão. Bin Laden não surgiu de repente, do nada, ele é fruto de uma realidade drástica que condena ¾ do planeta à exclusão, por vários motivos. Alguns são excluídos pela etnia, outros por conceitos religiosos, etc. É preciso entender que não haverá paz dessa forma. Os poderosos estão compreendendo que não poderão continuar vivendo isolados em seus guetos dourados, ignorando o mundo que os cerca.

Portal Afro - Como fica a ONU nesse impasse?

Annick T.Melsan - A ONU está numa posição complicada. Ela começa a acordar e reagir. Em decorrência dos acontecimentos, no dia 24 de setembro, 13 dias após os atentados, ela votou um programa pedindo desesperadamente que os povos deixassem de se ignorar e reconsiderassem o papel da identidade cultural.

Portal Afro - Essa identidade é tão importante assim?

Annick T.Melsan - A cultura é tudo! Não é a economia. Até porque o comportamento econômico resulta do cultural. O consumo obedece a características culturais. A publicidade, por exemplo, é uma linguagem cultural.

Portal Afro - Os povos não se conhecem?

Annick T.Melsan - O Brasil, por exemplo, apesar do Mercosul, vive como se fosse uma ilha. Não conhece nada do continente africano, sabe muito pouco sobre a América Latina, absolutamente nada da Índia ou Caribe, mesmo vivendo histórias paralelas, em universos ecológicos absolutamente convergentes, com identidades semelhantes. Não apenas no Brasil, claro. É assim por toda parte.

Portal Afro - Mas em que esse conhecimento pode ajudar, efetivamente?

Annick T.Melsan - As experiências dos países na resolução de seus problemas podem ser trocadas! O problema da pobreza na África do Sul não difere muito das favelas brasileiras e nem dos subúrbios indianos. É a mesma lógica: migração mal resolvida, crescimento demográfico, analfabetismo, violência, drogas. É preciso inaugurar um canal de comunicação e analisar as experiências já implantadas. Idéias bem sucedidas em um país com as mesmas características podem ser úteis para outros. Não quero dizer com isto que devemos desviar os olhares da Europa ou dos Estados Unidos, mas sim abri-los também para os países do Terceiro Mundo, para a África, que esta ao lado.

Portal Afro - A senhora defende a Multilateralidade?

Annick T.Melsan - É isso mesmo! A complexidade do mundo. Vocês brasileiros, eu francesa, um libanês, um russo... Conversarmos para solucionar nossos problemas. A Multilateralidade é cada vez mais importante.

Portal Afro - Os países ricos já aplicam esse conceito?

Annick T.Melsan - A União Européia, por exemplo, faz, hoje em dia, uma diplomacia que envolve e atende os interesses do continente europeu, como um todo. Dessa forma, países díspares como a Itália, Holanda e França tendem a entenderem-se muito bem.

 

Portal Afro entrevista ANNICK THEBIA-MELSAN
10/01/02. Fotografia e reportagem: Jader Nicolau Jr. Edição: Milton C. Nicolau.

Annick Thebia-Melsan nasceu na Guiana Francesa, país situado ao norte do Brasil, na fronteira com o estado do Amapá. Formou-se em Ciências Políticas e Diplomacia em Paris e durante 4 anos representou a França em funções diplomáticas no Brasil. Mademoiselle Melsan define-se como cidadã do mundo, uma defensora fervorosa do Multilateralismo (sistema que prega a cooperação de nações para a solução de problemas em comum). Entre outras atribuições, trabalhou para o Departamento da Francofonia do governo francês, que reúne os países de língua francesa no mundo, e foi comissária geral da Unesco, entre 1995 e 1998. Atualmente participa do projeto "Sur Sur" da Organização das Nações Unidas (ONU) que pretende inaugurar um novo canal de entendimento entre os países do terceiro mundo. A diplomata confessa que apaixonou-se pelo Brasil à primeira vista, quando, aos 19 anos, desembarcou em terras tupiniquins para pesquisar a obra de Cândido Portinari, considerado o maior pintor brasileiro.

Portal Afro - O que é o projeto "Sur Sur"?

Annick T.Melsan - O programa considera que a desconexão entre o Norte e o Sul do planeta é o prolongamento da sistemática da lógica dominadora colonial. Esse modelo levou à falência do século 20: de um lado a riqueza e de outro a pobreza.

Portal Afro - Qual o papel reservado aos países do Sul nesse programa?

Annick T.Melsan - Os países do Sul não se conhecem! Vítimas dessa estrutura estranha, todos os seus esforços convergem para cima, para o Norte. Nunca olhando para o lado. Neste sentido, a conferência em Durban foi muito positiva, pois os povos encontraram-se no Sul, ao invés de reunirem-se ao Norte, onde geralmente são realizadas as reuniões mais importantes.

"A idéia é fazer com que os povos se conheçam e estabeleçam relações diretas, e que o Brasil assuma um papel importante, que envolva a dimensão africana de seu povo."

3 chefes Zulus, foto de 1888
Palácio do Itamarati, em Brasília
Casa Fança Brasil, Rio de Janeiro.
Clementina de Jesus
Grande Otelo
Mãe Menininha do Gantois
Joel Rufino dos Santos
Aimé Césaire
Frantz Fanon
Léopold-Sedar Senghor
Nelson Mandela
Mahatma Gandhi
Símbolo da ONU - Organização das Nações Unidas.
Acima, Sowetto, na África do Sul e abaixo uma favela brasileira: pobreza, violência e abandono em doses semelhantes.
"Café",de Cândido Portinari