Niara saiu pela noite. Seus passos irritados e ágeis, um ritmo pelo asfalto. O repicado batia em meus ouvidos dizendo “A-deus” “Não-vem-atras-de-mim” “Vo-cê-fez-ou-tra-vez”.
Ela tentou de tudo. Via sua dedicação: a mim, a nossa relação, ao nosso futuro. Segui fracassando e sabotando-nos. Não por maldade, ou sadismo. Apenas por não saber como retribuir, como amar de volta.
Não era o mesmo que seduzir. Nos filmes e livros a sedução era como consumir. Muitas vezes me perdi, vendendo-me. Carro foda, roupas de marcas, cordão de ouro, tênis raro, relógio no braço. Sexo também não era a resposta. Mas não sabia existir sem vestir a libido, era um vício.
“Por que você faz isso, fica performando o hetero?” Fazia o que fui ensinado. Os outros diziam nos gestos, ordens e repreensões. Principalmente os brancos, para quem nem homem eu era, muito menos humano.
Virou a esquina e o medo tomou meu peito. Ela não deveria ter saído sozinha.
Chorei e gritei: Amor, eu te levo em casa.
Era tarde demais?
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Diogo Nogue
Artista visual, professor, ilustrador e escritor. Nascido na zona leste de São Paulo.
Em minha escrita, gosto de investigar a fantasia, a ficção científica e o realismo fantástico, o que despertou meu interesse no afrofuturismo.
Como ilustrador, participei do livro infantil “Trovinhas das cores e amores”, de 2016, e como escritor, livro de poesia “Pedra Polida”, de 2019, da antologia “PRETOS EM CONTOS – Volume 1”, de 2020, e da coletânea de contos, crônicas e poesias “Retratos Apagados”, de 2021.
Desde 2004, desenvolvo minha pesquisa em pintura, desenho e objetos, tendo participado de exposições coletivas e individuais, como as mostras: “De onde os medos crescem”, de 2016, “Entre o Real e o Sonho”, de 2017, e “Quem matou Basquiat?”, de 2020.
Para mim, criar mundos e realidades, seja através da arte ou da escrita, é a forma de me sentir vivo e o que dá sentido à minha existência. Somente através da minha arte consigo me sentir completo, e compartilhar minhas criações com meus pares é o fechamento deste ciclo.
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Esse negro escritor preto, faz parte da antologia PRETOS EM CONTOS – Volume 2.
Antologia preta de contos curtos que reúne narrativas de escritoras negras e escritores pretos brasileiros com diversas matizes literárias, com vários olhares e com heterogêneas escritas.
Publicado pela Editora Aldeia de Palavras
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