Com a expansão das cidades, multiplicam-se escravos urbanos em ofícios especializados, como pedreiros, vendedores de galinhas, barbeiros e rendeiras. Os carregadores zanzam de um lado a outro, levando baús, barris, móveis. No período sombrio da escravidão, quando as correntes da opressão aprisionavam milhares de homens, mulheres e crianças nas senzalas e nos campos de trabalho forçado, os carregadores de Zamzam surgiam como figuras emblemáticas de resistência, de solidariedade e de humanidade em meio ao caos e à desumanidade que assolavam a sociedade da época.
Eram homens e mulheres negros, muitos deles libertos e outros ainda escravizados, que se dedicavam à árdua tarefa de transportar cargas e mercadorias nas ruas estreitas e movimentadas das cidades, enfrentando o peso físico das sacas e fardos, mas também o peso simbólico da escravidão e da discriminação que permeavam suas vidas.
Os carregadores de Zamzam carregavam não apenas os produtos e objetos dos comerciantes e senhores de engenho, mas também a dignidade, a força e a resistência daqueles que haviam sido privados de sua liberdade e de seus direitos mais básicos. Em seus ombros largos e músculos fortes, carregavam o peso de uma história de sofrimento, de exploração e de injustiça que moldava suas vidas e suas identidades.
Apesar das condições desumanas e da brutalidade que os cercavam, os carregadores de Zamzam eram exemplos de resiliência, de solidariedade e de valentia, mostrando que mesmo nas circunstâncias mais adversas é possível manter a dignidade e a esperança acesas no coração. Eles se uniam em torno de uma causa comum, compartilhando o peso, o calor e as dificuldades do trabalho, criando laços de companheirismo e fraternidade que os fortaleciam em meio à adversidade.
Nas ruas empoeiradas e labirínticas das cidades, os carregadores de Zamzam eram como sentinelas da resistência, testemunhas silenciosas de uma época sombria, mas também exemplos vivos de coragem, de determinação e de humanidade em um contexto marcado pela barbárie e pela crueldade.
Hoje, ao olhar para trás e lembrar dos carregadores de Zamzam, honramos sua memória, sua luta e seu legado de resistência. Eles foram muito mais do que simples trabalhadores, foram guerreiros que carregavam nos ombros não apenas fardos de mercadorias, mas também a esperança de um futuro melhor, de um mundo mais justo e igualitário para todos os que compartilham desta terra e desta história.
Sobre o autor: Denilson de Paula Costa, é especialista em história cultural, membro da academia militar e coautor do livro “Encontros com a história e a cultura africana e afro-brasileira”.
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